quinta-feira, dezembro 23, 2004

FÉRIAS (SOUTH PARK comentado; GILMORE GIRLS, semi)


(22 dez) SLEEPLESS (Dario Argento, 2001) 50

(23 dez) tv: GILMORE GIRLS, 5.1 ****½

(23 dez) /SOUTH PARK: BIGGER, LONGER & UNCUT/ (Trey Parker, 1999) 62 (uniformemente selvagem e arrogante, uma clara tentativa de abarcar uma infinidade de prazeres/fetiches proibidos infanto-juvenis (violência no cinema; palavrões cabeludos; clitóris etc.) adereçando-os frente a frente com a potencial coerção social; nesse sentido, a figura materna é vista como fonte de todos os problemas, neurótica e elétrica, superdimensionando sua tirania em escala global. o grande interesse proporcionado pelo filme hoje, 5 anos depois de sua concepção e após notável enxurrada de sátiras e paródias destas é justamente apresentar uma abrangente incorreção política de mãos dadas com a preservação idílica da inocência infantil; o quarteto é prova viva da ineficácia de significantes (ver parêntese acima) - geralmente tidos como deflagradores de 'traumas e danos cerebrais irreversíveis' - quando não há o respectivo acompanhamento destes ao uso prático correspondente, ou quando essa praticidade advém de linhas de raciocínio como 'xingar irrita os adultos' e não de uma lógica conscientemente trangressora. dito isso, creio ser importante frisar que o filme nunca desenvolve um tom harmônico (saddan e satã estraçalham o ritmo non-sense, francamente dispensáveis) e algumas contradições, mesmo elucidativas, são arremessadas a esmo, sem um trabalho mais elaborado de encaixe (p. ex. a súbita consciência de raça/negra do cozinheiro durante a guerra vai de encontro ao seu posicionamento reticente na 'hierarquia social' anterior a ela; os diretores espancam a censura americana para logo depois assoprá-la, mostrando crianças perceptivelmente influenciadas pelo filme canadense etc.). e, sim, inegavelmente divertido, com uma melodia mais chiclete que a outra. nota: cotação admitidamente baixa em retrospecto.)

(24 dez) tv: GILMORE GIRLS, 3.19 ****

(25 dez) tv: /GILMORE GIRLS, 5.1/ ****½

(26 dez) leitura: /ALTA FIDELIDADE/ (Nick Hornby, 1995) ****

(27 dez) tv: GILMORE GIRLS, 3.20 ****

(27 dez) /ALTA FIDELIDADE/ (Stephen Frears, 2000) 54


(27 dez) DIA DE TREINAMENTO (Antoine Fuqua, 2001) 67

(28 dez) A SEGUNDA GUERRA CIVIL (Joe Dante, 1997) 73

(28 dez) BOB ESPONJA (Stephen Hillenburg, 2004) 34

(28 dez) OCEAN'S 12 (Steven Soderbergh, 2004) 45

(28 dez) tv: GILMORE GIRLS, 3.21 ***½

(29 dez) tv: GILMORE GIRLS, 3.22 *****

(29 dez) IT'S ALL ABOUT LOVE (Thomas Vinterberg, 2003) 6

(30 dez) tv: GILMORE GIRLS, 4.1 ****

(30 dez) IGBY GOES DOWN (Burr Steers, 2002) 63

(30 dez) tv: /GILMORE GIRLS, 3.22/ ***** (gilmore girls merece todo o crédito e bonificações especiais apenas por não sucumbir em situações discerníveis através de rótulos fáceis e emoções estocadas em compartimentos, retiradas deliberadamente conforme o botão de comando que se deseja pressionar no espectador. é surpreendente notar, então, que freqüentemente bipes e cliques me convertem em fiel seguidor do seriado sem que para isso ocorrer exista um possível vestígio de uma subjetividade automática e instantânea, uma sensibilidade conecte-os-pontos. ao contrário, existe um fio narrativo que une cada episódio em torno da idéia de personagens presos no passado, lutando em vão para encontrar chaves do escape fortuito e fugaz; as fechaduras são vistas com resignação esperançosa - via implícita, pela sugestão - e originam confrontos devastadores envolvendo a necessidade de independência em relação às cordas de cunho familiar e amarras sociais, como verdadeiras marionetes, pinóquios. ... segue ...)

(30 dez) tv: /GILMORE GIRLS, 5.2/ ****

(31 dez) tv: GILMORE GIRLS, 4.2 ****½


quarta-feira, dezembro 22, 2004

o grupo estação aparentemente acertou nas suas escolhas, eles exibirão em 2005: SEU IRMÃO (79), SOBRE CAFÉ E CIGARROS, CREPÚSCULO SEIBEI, CÓDIGO 46, e surpresa, BOM DIA, NOITE & UNDERTOW, além da volta do doc. CORAÇÕES E MENTES; THE BROWN BUNNY, espantosamente enjaulado, diz a que veio em primeiro de abril (essa escolha me parece um pouquinho suspeita).

a imovision, que deus a abençoe, chega com NOSSA MÚSICA, CLEAN, CASA VAZIA (diretor do filme das estações cíclicas), EROS, EXÍLIOS e CONTRA A PAREDE.

ainda temos DESDE QUE OTAR PARTIU, MARIA CHEIA DE GRAÇA, CASA DAS ADAGAS VOADORAS, HERÓI (73), O LENHADOR, IN THIS WORLD, RIDING GIANTS, BIRTH e outras gratas obviedades.

e nada de MAL DOS TRÓPICOS. o que talvez garanta um lançamento tardio são os discretos
contornos homossexuais visto que é razoavelmente constante a presença de filmes com subtexto gls comprados a toque de caixa (DELICADA RELAÇÃO & MINHA MÃE GOSTA DE MULHERES, já lançados e CACHORRO [18] marcado para final de abril). eu sei, é triste, mas um casal de heteros só colocaria o tailandês numa posição mais empoeirada do limbo cinematográfico.

***

segunda, 20/12, espaço unibanco:

ENTREATOS 70
PEÕES 63 e está caindo vertiginosamente.


domingo, dezembro 19, 2004

BAD SANTA (cps) 62
CONTRA TODOS (paço) 0
BLOOD SIMPLE / GOSTO DE SANGUE (paço) 78
/MEMENTO/ 83

MEMENTO merece um comentário. pena que não primo exatamente pela justiça.

CONTRA TODOS merece um rabisco de uma linha, algo como 'cada tomada e diálogo tende a constranger seus personagens ao invés de tentar descobrir algo remotamente interessante sobre eles'.

e...

FUCK ME, SANTA!


quinta-feira, dezembro 16, 2004

CENAS DO ANO, parte 1. (adendo adicionado logo após letra 'a')

CELULAR: o mundo de-meu-deus em três momentos:

a) Depto. Individualidade Relativizada: um caricaturista oferece seu serviço - ou seja, o retrato fisicamente fiel do cliente - já pronto no papel para o nosso herói e, logo após sua recusa, o mesmo caricaturista oferta a mesma caricatura para outro jovem, que vem logo atrás do protagonista;

(adendo: isso estabelece que a individualidade em um sentido ideal - a qual garantiria um retrato personalizado para cada cliente em potencial - cede passagem para um desenho fixo, uma tentativa de abarcar os jovens transeuntes num só saco; também enfatiza o caráter 'mais um na multidão' do nosso herói, que não se diferencia aparentemente em nada dos outros mil que se encontram por lá)

b) Depto. Signos Pop Ups: bassinger, descrevendo a aparência de seu filho ricky martin (ela assegura: 'foi antes do cantor!') inicia com o traje do menino (evidentemente escolar, logo informação de aproveitamento nulo) e termina com uma inesperada 'mochila do senhor dos anéis', algo que pron-ta-men-te clareia as coisas & no bar do aeroporto, o protagonista busca uma jaqueta dos lackers, ele encontra... a errada. sim, duas jaquetas! quais são as chances desse frenesi consumista ocorrer em dose dupla?;

(nota: perceba que uma situação complementa a outra; na primeira temos a direta identificação da franquia de modo quase impensável tamanha a influência da marca para tão imediato reconhecimento, ou seja, é de se pensar que muitos outros alunos também estão com a mesma mochila; na segunda esse pensamento se verifica como real, em uma impossibilidade absurda, ou melhor, nem tão absurda assim se considerarmos que o protagonista nem mesmo pergunta o nome do cara com a jaqueta antes de enfiar o celular em suas mãos)

c) Depto. Biologia e Saúde: conhecimentos biológicos primários - a artéria braquial transporta 30 litros de sangue por minuto - são valiosos em algumas situações (cf. KILL BILL, VOL. 2: elle recita solenemente a previsível 'morte encarnada' de budd pela black mamba) & médico revela: 'não foi grave, mas uma parte do tecido gangrenou.'; policial retruca: 'não, isso é um pedaço da máscara de abacate.' e daí a ladainha do spa de-um-dia que não é salão de beleza.

eu adoro esse filme. ele me recorda MIAMI BLUES e esse despojamento auto-consciente surrupia boa parte dos possíveis problemas que viria a ter em uma outra ocasião. felizmente desconhecida.

***

Os Sonhadores, 52 (qua, estação icaraí)
/Stagecoach/, 79 (qui, t&l)

terça-feira, dezembro 14, 2004

O EXPRESSO POLAR (74)

Obviamente especial: o protagonista cético com o recorte da 'greve dos papais noéis' nas mãos e observando em modo meu-mundo-ruiu uma menina, de sua idade aparente, com a barba e traje do bom velhinho em uma capa de revista são de uma delicadeza impressionante; até mesmo pela sua reação natural: contar a 'grande farsa' para sua irmã (ato, sabiamente, não encenado) prontamente desmentido pelos pais. A questão da fé abalada é filtrada no processo de reconquista da capacidade de confiar em algo; isso diminui drasticamente a ênfase no conceito de fé da doutrina cristã, adaptando-o para uma instância que equaliza confiança e segurança - nos minutos finais, pós-viagem, a ansiedade insone do protagonista, verificada antes dela, desaparece. E talvez os momentos mais belos sejam aqueles em que a confiança absolutamente firme e segura da menina (ver cena do freio de mão, com o protag. optando pela alavanca escolhida por ela) é transmitida via amizade/convivência ao Nosso Herói e ao menino pobre, ou seja, a 'adesão' do trio se manifesta como adesão 'de causa'.

Gratificante é notar que o filme não concentra o 'espírito natalino' no intercâmbio de presentes; nos momentos finais, com a já prevista aparição de Noel, o clima 'É Natal' foi previamente dissecado através da independência do trio ao desbravar o local. Essa sensação de descobertas é ratificada por meio de duas vias: a) o trio de amigos é tratado como recipientes 'vazios' ávidos por alguma experiência única e transformadora (algo que geralmente não aprovo com frequência); b) essa bravura questiona, de alguma forma, a autoridade do oficial da embarcação (Tom CGI Hanks), o que deixa tudo mais estimulante*. E a trajetória culmina em algo perigosamente próximo do preocupante com o protag. desperto, rasgando o casaco e se deparando com uma locomotiva (/expresso) que sua irmã ganhou de Natal (referências à noite anterior); tal onda incrédula se dissipa com a abertura do presente ganho nessa aventura, tornando-a 'real' e demarcando, com certeza, que aquilo não foi um sonho. Eu juro que esperava a perda irrecuperável do presente com o menino acreditando pelo fato de acreditar, sem uma prova concreta da existência daquele expresso, mas isso não seria muito cristão de minha parte? Talvez, mas a ambiguidade resultante se sobreporia a essa visão do espírito natalino materializado internamente, sem interferências externas. Provavelmente foi melhor assim, substancialmente menos reacionário, creio. O curioso é que essa ambivalência se integra perfeitamente a essa 'fé cega' cristã.


Décimos extra como bônus pelo solitário acima do trem e sua postura despojada de 'tudo tem seu tempo', antecipando muito do que irá ocorrer no decurso da metragem & por sequências impressionantes, incomparavelmente melhores que à Hora (sim, uma hora em sua totalidade) do Vamos Ver de Os Incríveis.


* não estou estimulando esse tipo de comportamento; não façam isso, crianças, na minha opinião.

...

Shaun of the Dead (12/12) 53
/Sob a Névoa da Guerra/ (13/12) 67


sexta-feira, dezembro 10, 2004

OS INCRÍVEIS (39)

apenas algumas anotações; não tenho nada a dizer que mereça uma organização mais apurada.

Dinâmica Interna: super-heróis são seres especiais (grandes poderes --> grandes responsabilidades) :: super-heróis são pessoas como outras quaisquer (glúteos/pança sujeitos à gravidade; descontentamento típico de subúrbio americano) :: espectadores são super-heróis & especiais. Bem, que tipo de auto-congratulação poderia ser mais râncida e amarga?

Pergunta Que Não Quer Calar Versão Capa e... Não, Capa Não, Não!: por que colarinhos brancos ocupando poltronas desconfortáveis em seguradoras é o retrato geralmente utilizado quando se pretende um enfoque preciso em um cotidiano enfadonho e burocrático? E porque, ratificando, a quase obrigatória tomada de cima através da qual percebe-se aquelas repartições, cubículos do mesmo tamanho com pessoas que se diferenciam umas das outras pelo Cartão Bate Ponto?

Filmes Numa Casca de Noz: aquela sequência em que o Sr. Incrível, já na Ilha Tropical, se afasta do computador quando é detectado pelo sistema de vigilância do local (sua mulher o 'rastreia') através de uma pequena ponte e é derrubado por coisas que parecem bolas pretas é a materialização cinematográfica da Ponte do Rio Kw... que Cai (sim, do Faustão).

Referendando Referências: a costureira/figurinista excêntrica do filme é vista como uma caricatura de Edith Head mas também pode ser encarada como uma homenagem ao personagem Q da série 007; Função: Fashion Designer.


sábado, dezembro 04, 2004

4 FILMES ADICIONADOS

29/11, segunda = /celular/ 74

30/11, terça = /antes do pôr-do-sol/ 95

02/12, quinta = monster 04

03/12, sexta = capitão sky et al. 53 + /canção na estrada/ (satyajit ray) 82

04/12, sábado = a fortaleza de ouro, w/o após 20 minutos (motivo prosaico: eu levei uma garota que é uma nulidade no inglês para ver um filme indiano legendado em [...] e, pior, só conectei os pontos quando o título aparece como The Golden Fortress. obviamente pedi desculpas e tentei uma tradução simultânea, mas carregar esse fardo por 2 horas seria fatal para maior aproveitamento, então digo 'se quiser ir embora...', ela quer, eu não tanto, mas saio. e fazemos coisas e Eu Concedo 88 para nossas três horas juntos.)

08/12, quarta = o estrangeiro (satyajit [er]ray) 34

09/12, quinta = o homem da capa preta (sérgio rezende) 39 ; his girl friday / jejum de amor (howard hawks) 84 ; a casa e o mundo (satyajit [er]ray) 49


sábado, novembro 27, 2004

retirado de um trabalho feito para a disciplina cursada de cinema, com alterações que só uma mente fria (isto é: após a entrega do dito) poderia conceber. somente o último parágrafo tem (pequenos) spoilers.


Nos primeiros anos do cinema, o conceito de espaço-fora-da-tela* propicia o surgimento da idéia de um mundo em expansão; a movimentação interna e da câmera sinaliza o surgimento de uma noção segundo a qual algo se encontra no limiar de sua revelação. Essa naturalização do espaço fílmico cria uma dinâmica constantemente reversível entre o espaço visto e o espaço intuído, logo, a câmera está sempre apta a percorrer as fronteiras do concreto e do imaginário. Tais noções contribuem para a evolução da linguagem cinematográfica ao romper com as limitações do teatro filmado, vigente nas produções comuns ao período, no qual toda a ação dramática se desenvolve e se esgota dentro do quadro. São planos estáticos, de ponto de vista único, com cenários de tendência centrífuga e personagens cujo corpo é visto inteiramente; tais planos não se prolongam e não são complementados por outros, ao contrário dos que utilizam o espaço em off, conscientemente visto como cinematográfico em sua essência.

O espaço-fora-da-tela é empregado de forma surpreendente em Antes do Pôr-do-Sol (Before Sunset, Richard Linklater, 2004). Em um filme tão perceptivelmente guiado pelo acaso, com ares de improviso certeiro (e, segundo consta, somente ares), um toque visível de direção é hiperbolicamente ajustado. A seqüência de abertura revela uma série de stills que indicam os lugares pelos quais o casal Delpy/Hawke transitará no decorrer da metragem: cafés, parques, vielas, margens do Sena, em breve desbravados. O espaço-fora-da-tela está conscientemente relativizado, a ação dramática não se esvazia ao se conjugar esses ambientes com a presença ou ausência dos dois atores. Pelo contrário, ela ganha um significante ao propor uma nova maneira de observar os espaços vistos anteriormente através de câmera estática, uma espécie de terceira dimensão se descortina a partir da utilização desses diversos ambientes em sintonia com a jornada proposta. A utilização do espaço-fora-da-tela em Antes do Pôr-do-Sol nos pede que juntemos as diversas fotografias iniciais e as exploremos em trabalho conjunto com Delpy e Hawke. A dramaticidade de tal recurso reside no contraponto que se pode estabelecer em relação ao filme anterior, Antes do Amanhecer (Before Sunrise, Richard Linklater, 1995). Neste, Linklater optou por conclui-lo com uma série similar de tomadas fixas. Essas tomadas finais mostram uma coleção de lugares vienenses, sob aparente sol matinal, os quais o casal percorreu na tarde/noite anterior. Tais elementos são configurados de modo ameno e aprazível, como uma lembrança encarada como experiência indelével, reforçando o pacto feito na estação de trem para um encontro futuro. Com uma diferença sutil no posicionamento destas, Antes do Pôr-do-Sol aloca esses fragmentos de modo a propiciar uma reflexão sobre a apresentação de uma "realidade" que será brevemente dominada por devaneios e rompantes românticos.

Em Antes do Pôr-do-Sol, logo após essa série de stills supracitada, temos uma sessão de autógrafos do livro cuja autoria é do personagem de Hawke (Jesse) em uma livraria parisiense. Os jornalistas e demais presentes apresentam saudável curiosidade a respeito do cumprimento ou não do pacto feito nove anos atrás (é interessante notar que permanece ambígua a revelação ou não da cronologia entre os dois eventos para os leitores do livro e jornalistas) e elaboram questionamentos que envolvem a marca pessoal do autor na própria prosa, elementos autobiográficos inconscientes. Durante a réplica de Jesse, Linklater insere momentos antes vistos em Antes do Amanhecer, e com o final deste desenrolar de imagens, um corte revela a figura atual de Delpy (Celine) se sobrepondo "lentamente" ao processo de conquista do sentimento nostálgico. O espaço-fora-da-tela, no caso, é o ponto de vista de Jesse: a articulação de instantes diversos por sua pessoa permite um intercâmbio entre passado e presente, mas que só se concretiza verdadeiramente com a presença de Celine no evento. A escolha do instante para a revelação dela é estritamente subjetiva, ocorrendo quando o olhar de Jesse é direcionado para a entrada da livraria; logo, isso estabelece que Celine poderia estar ali anteriormente ao momento da própria aparição, escondida, encoberta pelas seqüências do filme anterior. Após notarmos sua presença, a câmera se volta para Jesse, que finaliza, trêmulo, seus argumentos. Neste caso, o espaço-fora-da-tela se transforma em espaço-da-tela para em seguida retornar a condição anterior.

O espaço cênico pode ser reconstruído nos momentos finais de Antes do Pôr-do-Sol, com o casal no apartamento de Celine. Ela precisa provar seu amor por Jesse, idealizando aquela noite, e a canção de sua autoria - uma analogia com o livro escrito por Jesse -, A Waltz for a Night, valida sua responsabilidade de fazer jus ao comparecimento de Jesse ao encontro proposto há nove anos atrás. Em um filme que comumente enquadra em conjunto Jesse e Celine, instantes nos quais se percebe um entendimento mútuo entre os personagens com o diferencial do "afastamento" pelo corte, simbolizam a utilização do espaço-fora-da-tela, construído a partir da troca de olhares que, invariavelmente, indica o prolongamento da ação. O fio narrativo que se estabelece entre os planos indica uma conexão pessoal que não se fundamenta puramente na reunião da dupla no espaço-da-tela, mas sim na transcendência de uma demonstração de amor, capaz de ultrapassar o arcabouço construído em nove anos através do lamento reticente pelas possibilidades não concretizadas daquela noite: a um só fôlego, o passado é revivido e reconhece-se a transitoriedade do tempo.



* resumidamente: o espaço-fora-da-tela, conceituado por Noel Burch, divide-se em seis segmentos. Os quatro primeiros têm como limites imediatos os quatro cantos da tela. O quinto segmento se define como o espaço "atrás da câmera", enquanto o sexto compreende tudo o que se encontra atrás do cenário ou atrás de um elemento do cenário. Em um limite extremo, este segmento de espaço se situa "atrás" do horizonte.



terça, 23

má educação - 56
celular - 76


quinta, 25

/má educação/ - 52
dois curtas da aula de cinema com direção de Griffith.


sexta, 26, ou: play it again extravanganza

/before sunset/ - 94
/before sunset/ - 94
/punch-drunk love/ - 100

domingo, novembro 21, 2004

20/11

/freaky friday/ 65
/como se fosse a primeira vez/ 51

minha prima fez cadastro na locadora da provincia e alugou esses dois e ADEUS, LENIN!, que tambem ja vi e me faz contorcer em agonia. nao gosto de nostalgia comunista ('ate isso eles nos tiraram!') e simulacros que servem ao proprio ilusionista como maneira de Confrontar o Passado (Turbulento, Claro). E, alias, mencionar Coca-Cola sempre que se pretende elaborar um contraponto ocidental fica, apos a vigesima quinta tentativa, hiperbolicamente idiota na minha opiniao. E equalizar reunificacao (em termos) alema com reunificacao familiar pedindo que achemos a analogia inspiradora eh desalento puro. (nota: w/o apos 43')

sem acentos, obvio.

sexta-feira, novembro 19, 2004

terça

allegro non tropo 39 - cine arte uff

quinta

/o quarto do pânico/ 47 (sessão extra - teoria e linguagem)

5 curtas do início do século, vistos duas vezes (teoria e linguagem)
the life of an american fireman
the great train robbery
the physician of the castle
the lonely villa
a woman scorned

/kill bill, vol. 1/ 80 (de 89) - cine arte uff


nessa semana: má educação, capitão sky, celular, sob o domínio do mal e muito provavelmente um fim de semana com apu e cia. no mam.

sexta-feira, novembro 12, 2004

11/11

RECONSTRUÇÃO DE UM AMOR (Christoffer Boe, 2003) 55
/O JOELHO DE CLAIRE/ (Eric Rohmer, 1970) 70

Comento esses dois mais adiante, basta dizer que a temática de ambos é parecida com a de Swimming Pool (de Ozon) e que Deus abençoe Schubert e Beethoven pela tentativa de criar uma linha emocional unindo as diversas camadas fascinantes de um filme que não chega a lugar algum (Reconstrução parece, aliás, Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças sem a lúcida tecno-psicografia, dirigida por Wong Kar-wai, versão cores frias). Já, Rohmer repete o mesmo (ótimo) filme mais uma vez, em uma disposição mais ensolarada, personagens e sua aparente auto-suficiência --> necessidades --> insegurança --> desilusão, repletos de ambiguidade e expansivos o bastante para colocar em xeque a homogeneidade desta com a de outros (ver o título do meu texto não concluído sobre o diretor: Sobre pedras e telhados de vidro, publicado nos arquivos de abril)


MAR ABERTO (Chris Kentis, 2003) 56

Kentis filma como turista de primeira viagem: nutre um interesse fugaz (contextualização apressada) quase fetichista pelo despojamento tropical (artesanato local, papagaios, flores, vegetação nativa, água de coco, tudo, como um álbum de fotografias - são pequenos relances com câmera fixa) e é fato que o 'primeira viagem' supracitado indica decisões típicas de marinheiro novato, com diploma saído do forno na mão, como: a) no momento em que os integrantes do grupo de mergulho descem ao mar é mostrado plano (acima da superfície, antes da queda) e contraplano (abaixo da superfície, após a descida) em virtualmente todos os casos; b) talvez em uma tentativa de resgatar a natureza abstrata da entidade de A Bruxa de Blair, Kentis adiciona uns fachos de luz (ou apenas extrema - DV! - saturação do fundo do mar, admitidamente não sei), turvando a água e tornando elementos bastante palpáveis (tubarões! 'reais!' berra o material publicitário, que ainda acrescenta 'baseado em fatos reais') em algo de natureza mais nebulosa; c) nas Cenas Catárticas (resumo da ópera: resista, não me deixe sozinha!), um coro de vozes estranhas é acrescentado à trilha, a eloqüencia soa bizarra. Mas Kentis tenta, e com invejável força de vontade, e o filme se torna irresistivelmente B.

Os protagonistas equalizam férias como descanso e relaxamento completo e fazem questão de admitir o quanto seus ombros pesam de afazeres e bipes de celulares (aliás, umas três ligações só nos primeiros minutos já indicam: Cuidado, Casal Estressado) e essa inversão é tão brutal que é difícil não vê-la com olhos mais céticos (uma guinada 360o. = ironia barata) . Existe uma cena linda, a minha cara: os dois estão no banheiro da cabine escovando os dentes, ambos prontos para o segundo ato do processo - bochechar com água corrente - e quase batem a testa quando o fazem ao mesmo tempo, daí ele cede a vez enquanto espera com ares de 'o que se pode fazer numa situação como esta?'; outra interessante desvirtua espirituosamente o motivo habitual para que um casal acorde de madrugada (espectadores que entrarem sem saber absolutamente nada do filme, somente que é um suspense/terror, apreciarão), no caso, um inseto qualquer leva o homem ao senso de vigilância e a mulher à condição de protegida, debaixo dos lençóis. São pequenos momentos de intimidade encontrados aos milhões na obra-prima selvagem Twentynine Palms (até mesmo a 'conversa de travesseiro' com 'você está com desejo hoje?' --> 'não, estou cansada.' parece instigante). A deriva, as coisas ficam tanto (ainda) mais interessantes quanto sutilmente, bem, derivativas. Da pose estupefata (americanos médios segundo a concepção anti-americanista), ao grito que, inutilmente, tenta esvaziar a raiva e ressaltar a impotência, até os clássicos questionamentos 'se você não [...], nós não estaríamos aqui' e as picuinhas esquema 'a batata quente é sua', o filme segue com pulso firme e algumas observações sobre comportamentos em situações-limite estão incluídas, mas talvez o calcanhar de Aquiles desse Projeto Greenlight (TNT) seja a pretensão de retirar um caldo surpreendente e revelador a partir de uma polpa comprometida pela credibilidade duvidosa (quantas vezes já vimos esse filme? quantas vezes a experiência foi recompensadora?), em condições tão precárias e limitadas quanto as quais seus protagonistas estão imersos (nota: sem menções de que essa aura 'sem captação de recursos' contribui para ressaltar a agonia apresentada, certo? seria dar crédito em excesso para Kentis). A volta ao primitivismo com a perda de qualquer orientação geográfica/terrestre e necessidades básicas - comer, beber e urinar - relativizadas é um tema mais que óbvio quando se priva dois seres que configuram internet e celular como necessidades, de tais ferramentas. Ainda assim, existe certo fascínio em observar a volta dos filhos pródigos à Mãe Natureza em seu estado bruto/selvagem.

Acenando com Bandeira Branca Versão Shark Attack -- Momento Bizarro: ela diz: "algo me mordeu." --> CU na água-viva; ele diz: "algo também me mordeu." --> CU na água-viva. O que será que o protagonista de Bright Future iria pensar?

Pergunta que Não Quer Calar: alguém considera mesmo o final corajoso? por favor, tenham dó etc., é apenas a segunda opção de um leque de duas.


terça-feira, novembro 09, 2004

domingo, 07/11

A NOVA SAGA DO CLÃ TAIRA (Mizoguchi, 1955, CCJF) 67

/CONTOS DA LUA VAGA/ (Mizoguchi, 1953, CCFJ) 91 (veja comentário no 03 log [link acima], número 209, na minha opinião a coisa mais empolada que saiu da mente de um cara nos seus 17 anos, e isso não é bom; enfim, eu acrescentarei algumas observações que escrevi durante a sessão)


segunda, 08/11

CAZUZA (35 = Cazuza, o banal = "prefiro toddy ao tédio." revela uma de suas camisetas etc.) & REDENTOR (66 = a primeira aparição de Caco Antibes no cinema, de Armani!) no Cinemark, Projeta Brasil.


terça, 09/11

/BEFORE SUNSET/ 98 cinemark botafogo praia shopping
/BEFORE SUNSET/ 98 idem
PARA SEMPRE NA MINHA VIDA 49 cine arte uff
/RESPIRO/ 70 idem


essa overdose cinematográfica acaba em breve.


sábado, novembro 06, 2004

OHARU (Mizoguchi, 1952, CCJF) 68

Basicamente uma maquinaria de tortura com engrenagens bem azeitadas; Oharu (cf. Emily Watson/Bessy em Ondas do Destino) é uma personagem que desperta o instinto protetor em qualquer um mas o grande entrave para maior apreciação é que essa relação de acobertamento (i.e. pureza > ceticismo) somente é válida (ou pelo menos reforçada) através de um maior e maior número de provações enfrentadas. Mas, milagrosamente, não se percebe ranço cínico de Ciranda da Vitimização, graças ao domínio formal de Mizoguchi cuja técnica (estrutura em flashback revela um ciclismo perpétuo) demonstra a estaticidade e confinamento proporcionado pela sociedade japonesa e transforma o desalento em estupor, com ausência de voz para exprimi-lo. Existe uma cena de beleza única: o quadro revela Oharu, sua mãe e uma antiga cortesã, hoje decadente; o efeito dela ecoa o sing along de Wise Up em Magnólia, o pedido de perdão da mãe para a filha (feito instantes antes) é uma saída indiretamente catártica que encontra como aliado/adversário o atual estado da ex-cortesã; é um lembrete que insiste na ratificação da esperança (nem tudo está perdido) e desolação (possibilidade - de vir a se tornar um molde da cortesã encontrada - a ser considerada de antemão).


O PROFUNDO DESEJO DOS DEUSES (Imamura, 1968, CCJF) w/o, após uma hora de projeção

A Enguia, no início do ano, se revelou imprópria para consumo, com concentrações de mercúrio elevadíssimas; neste aqui, meu rompante pacifista da Segunda Chance foi retribuído com esquema antropológico de organização narrativa: 'trabalho de campo' indireto ocorre entre os engenheiros neo-modernos e a galeria nativa Congelada no Tempo, enfim, o cerne do filme é provavelmente essa especificidade de ambas as partes e os conseqüentes preconceitos (ou descompassos) etnocêntricos. Admitidamente não estava mentalmente preparado para assimilar a Variação Número de Registro 235 do relativismo cultural. Momento No Qual Minha Paciência Esgotou de Vez: um avião sobrevoa a ilha em questão (a qual é obviamente longínqua, isolada e de pequenas dimensões) e algum ser (representando a Cor/Mentalidade Local) revela: "Segue para o Vietnã." = o milésimo filme produzido no final dos anos 60, tentando Materializar A Voz Dissidente e, para tanto, apela para essa maldita guerra!

sexta-feira, novembro 05, 2004

04/11

/Era Uma Vez em Tóquio/ (Tokyo monogatari, Yasujiro Ozu, 1953, sessão extra da aula T&L) 81
/Paris Vu Par... - Gare du Nord/ (Jean Rouch, 1965, T&L) 63
Nana (Jean Renoir, 1926, idem) w/o
O Abraço Partido (El abrazo partido, Daniel Burman, 2004, Estação Icaraí) 43


05/11

Amantes Crucificados (Chikamatsu monogatari, Kenji Mizoguchi, 1954, CCJF) 69



quarta-feira, novembro 03, 2004

03/11

/kill bill, vol. 2/ - cinemark botafogo praia shopping - 77

antes do pôr-do-sol - idem - 95 (comentário garantido, imprima a nota fiscal)

o joelho de claire - estação botafogo - 74




sexta-feira, outubro 29, 2004

cancelado o plano do post anterior em nome de PIXOTE (Hector Babenco, 1980, CCBB, 62)

JOELHO & BS, quarta.
O ABRAÇO PARTIDO & PARA SEMPRE NA MINHA VIDA, quinta.

e tentar, dificilmente, encaixar IGUAL A TUDO NA VIDA, num horário ingrato (21hrs). E um UHHHHH na minha opinião para os programadores da UFF: mostra Huppert somente às 21 - eu perdi Assayas e uma revisão de Haneke (Destinos Sentimentais / A Professora de Piano, que sou alucinado por).

E a grande notícia da semana é a nova temporada de Gilmore Girls... No... Ar... Estou devendo um comentário sobre a série, já eleita por antecipação como a melhor descoberta não cinematográfica do ano, simplesmente inacreditável.


quinta-feira, outubro 28, 2004

quarta

COM A BOLA TODA 41 (Pequeno Grande Time com técnico cujas pretensões se limitam a um comeback ligeiro... comentário continua... provavelmente)

quinta

O TERMINAL 50 (breve, acho, enfim, lindo trabalho de iluminação se nada mais, mentira, tem algo de interessante nele; a carreira de spielberg ainda está mais para um check up de rotina que em estágio terminal)
metade final de /UM CÃO ANDALUZ/ (n/a, a título de curiosidade: eu fiquei zonzo)
PARIS VU PAR... (GARE DU NORD) 63 (breve, acho)
SUPER SIZE ME 19 (obviamente mcrepulsivo e mcdeprimente e mchorroroso e mcidiota e mcmedíocre e mclimitado: Jackass + Michael Moore = implicações políticas sustentadas por desafios físicos = duh! cenas embaraçosas: 'o que é uma caloria?', 'o que nossas crianças estão comendo na escola?', 'a dura arte de conciliar o status de adolescente capa de revista com o de adolescente mcjunkie', menina obesa declara: É tão difícil parar...)

amanhã:

O JOELHO DE CLAIRE
BEFORE SUNSET (melhor filme do ano por antecipação)

segunda-feira, outubro 25, 2004

TODAS AS CORES DO AMOR (Goldfish Memory, Elizabeth Gill, 2003) 39, sem Águas de Março ~ 31

/ELEFANTE/ (Elephant, Gus Van Sant, 2003) 59

estação paço imperial, 25/10; comentários rápidos brevemente.

E, bem, vocês deveriam saber que a cotação 59 é derivada de intenso estresse emocional de minha parte, esp. quando o filme é fascinante, mas quer ser muitas coisas e vai saltitando de ponto em ponto; quando tem um trabalho de foco genial, mas resvala para a condição de míope etc. ou seja, todos os filmes cotados nessa marca são aqueles memoráveis, mas não particularmente bons.


quinta-feira, outubro 21, 2004

21/10

PÁGINA DE LOUCURA (Kurutta Ippeji, Teinosuke Kinugasa, 1926) 59 = estava gostando do ritmo frenético-contemplativo, elipses e fusões enigmáticas e surpreendentes (a geometria, os ângulos, graficamente impecável), ambiguidade existente na relação marido-mulher - para ele canalizar as atenções da parceira é preciso um certo estreitamento com o ambiente que a (e, consequentemente, o) cerca, se conectando com suas limitações e evocações específicas, no caso: um hospício, com toda a quebra de expectativas de um intercâmbio natural entre um casal - etc. e, do nada, pfff, me perco completamente e não me recupero nos próximos minutos, tudo parece esvanecer diante de um estômago pós almoço e sono atrasado; coloque um pouco de sal na cotação, estamos diante de uma obra-prima.

O GABINETE DO DR. CALIGARI (Das Kabinett des Doktor Caligari, Robert Wiene, 1920) 47 = não, eu estava bem desperto nesse filme, então nada de gentis temperos extra na cotação; sério, existe alguém que considera isso remotamente decente? Temos aqui um filme-experimento ("marco do expressionismo alemão!" é anunciado com alarde *tambores*), ou seja, algo milimetricamente controlado, tanto estética como narrativamente e, oh, !, disserta sobre hipnose, que é basicamente uma alegoria (admitidamente obscura) a esse pulso firme e corretor. Filme dentro do filme ou devaneio dentro do filme, chame do que parecer menos intransigente, mas o fato é que qualquer traço ambíguo é reduzido meramente ao protagonista ou contando uma história (de pescador) e adicionando facetas provenientes de sua mente fértil, ilusionistas por excelência como forma de provar sua sanidade (mais no sentido de auto-preservação já que seu interlocutor é um dos pacientes do hospício e não alguém com as chaves de seu quarto) ou narrando-a sem a parte do 'aumenta um ponto' do ditado 'quem conta um conto'. Será verdade? Será mentira? Prefiro me resguardar, ainda mais quando se presencia um cena conclusiva tão ineficaz quanto tola (até porque tropeça no próprio tripé ao trair a, já rala, dualidade supracitada), tipo 'puxa, esse ator não é o mesmo que interpretou o doutor manipulador-assassino? oh, estreitamento de conexões! puxa, tão avançado para 1920!'. Ah, pelo menos deixa os olhos satisfeitos com o fenomenal colosso arquitetônico dos cenários e figurinos.

quarta-feira, outubro 20, 2004

SER E TER, que merecidamente ganhou alguma atenção (se interessar, clique nos arquivos de junho), entrou no rol dos filmes revistos que não se agüentam em pé e se ajoelham desesperados diante da minha hostilidade implacável. Define basicamente o que é cinema contemplativo, de troca e recepção (as crianças aceitando o ambiente coletivo; o professor recepcionando os mini-calouros; os alunos mais velhos migrando para escolas de ensino médio; os espectadores completamente desnorteados com a tranqüilidade ensurdecedora que reina na província em questão) e admitidamente é um doc. cuja fonte essencial de criação de 'conflitos' (desde os minúsculos com pequenas rusgas entre colegas até as Grandes Questões com doenças que fazem parte do caminho e comportamento bicho-do-mato que será amolecido com a maturidade) se esgota, ou pelo menos deixa de soar orgânica para ecoar algum tipo de progressão muito bem pensada da cronologia, desde as inserções prosaicas (ordenhamento de vacas, cães pastores no jardim) até as estações do ano passando lentamente entremeadas com desenhos, matemática primária, empurrões e gramática. E o charme foi reduzido a metade, o filme estava vivo na mente durante a sessão, logo todos os rompantes já eram esperados e essa espontaneidade natural do doc. travou diante de cenas como a do background informativo do professor, deslocada ao extremo, tentando colocá-lo ao nível terreno (infância pobre, pai estivador) enquanto anteriormente tínhamos um ser humano envolto em abstração, guardando semelhança com um enviado de uma sociedade evoluída tamanha paciência, entusiasmo e louvável capacidade de ouvir; agora temos um homem feito, o qual leciona mas cuja profissão pode ter sido escolhida ao acaso e não por meio de uma predestinação agostiniana etc., ou seja praticidade do real > abstração da aura. Então, você conecta os pontos, faz com mão trêmula a linha reta: progressão bem pensada---------------------filme revisto. Enfim, ainda gosto do dito, a cena final é deslumbrante (a título de curiosidade: o mestre observa seus alunos saindo pelo portão da escola pela última vez naquele ano = recesso) e tem um pequeno diálogo envolvendo a criança mais quero-morder-a-bochecha e o professor: a classe fala sobre suas futuras profissões e pipocam aqui e ali 'quero ser professor(a)', daí quando ele pergunta às crianças o que exatamente um professor faz, esse menino acima citado diz categoricamente: 'eles escutam.' (63)

Lição do Dia: não reveja filmes em um espaço menor que 6 meses.


obs: olhando a progressão dos filmes vistos devo adicionar dois que não constam, devido ao frenesi do festival, vistos um dia antes da maratona começar (i.e. 23/09), são eles:

/Longe do Paraíso/ 60 (dvd, sala de projeção, iacs)

O Buraco (Tsai Ming-liang, não o que se encontra na estante 19, prateleiras 4, 5 e 6 da Blockbuster) 78 (cine arte UFF)


* comentários em breve (sei), Longe do Paraíso já passou pelo meu crivo, clique nos arquivos de março (096).

quinta-feira, outubro 14, 2004

boletim rasteiro:

esqueci de comentar (ou, ao menos citar) um curta da aula do JLV: MESHES OF AFTERNOON, mas que seja, aparentemente nosso professor não é adepto do esquema auto-didata de interpretação e precisa nos ajudar a formar uma opinião pausando a coisa de 20 em 20 segundos e babando algo como ("observem o plano POV.", "isso pode significar uma menção simbólica [complete com analogias aleatórias]"); de modo que acho que não vi a coisa ainda.

tentei com algum custo rever CRIMES E PECADOS, do Allen, no MGM, domingo. Não consegui terminar: inacreditavelmente tolo, guiado no ritmo do 'mosaico de personagens que compartilham alguma aflição e a ironia acachapante-mas-blah de Allen', são conflitos cuja deflagração anula solenemente o sentido de escolha, assim, 'minha amante vai destruir minha vida de casado, vou matá-la, mas dissociando ela-amante-rala-e-rola da nomedapersonagem-dona-de-casa-lava-e-passa temos um ser humano com direito à vida e a cometer erros, no caso, ameaçar minha vida de casado, logo terei de matá-la ETC...'

outra tentativa, em outros domínios dessa vez foi criar algo bem elaborado para 29 PALMS, deslumbrante, impecável construção do mito americano através de marcações (na acepção cenográfica do termo) e intimidade (o deslocamento, 'vultos vagando vagarosamente em voga') mas por hoje não deu. Problemas: não tenho bagagem suficiente para conceber algo assim & não fiz anotações o bastante de exemplos práticos embora com a revisão várias cenas e diálogos permancem vibrantes na cachola. E tem uma canção japonesa pop/country perfeitamente inserida no filme (no sentido de ritmo, em rel. às estradas arenosas do interior de Los Angeles)

e KILL BILL, VOL. 2, visto duas vezes seguidas hoje, quarta. Tarantino mostra suas cartas: coroa a experiência do espectador, indulge uma cultura que ele não criou mas se acoplou livremente; glória passada de mentor para discípulo = para reverenciar (o contido derramamento de sangue: a Noiva não mata ninguém aqui, ela arranca olhos e toca naturalmente em cinco pontos do corpo de Bill, mas ele não morre em suas mãos mas pelas suas mãos ["você está pronto."], nocauteia qualquer um testemunhar Bill literalmente entregando seu coração etc. entre outros detalhes de ouro [muito cansado para detalhá-los, mas sim, os monólogos fatalistas do início e o protagonizado pelo super-homem {RIP!} estão entre eles]) ou torcer o nariz (o treinamento, o chefe de Budd, o cafetão, o teste de gravidez) mas a linha de encantamento é prodigiosamente uniforme.

segunda-feira, outubro 11, 2004

REPESCAGEM, BOLETIM 2

/TWENTYNINE PALMS/, 90
CENTRAL AL JAZEERA, 57


CCBB/KEN LOACH:

curta da seleção 11 DE SETEMBRO, 64
CATHY COME HOME, 77


sábado, outubro 09, 2004

REPESCAGEM, DIA 1

ALEXANDRIA... NEW YORK - 60 (militância política suave e mais específica que um loach da vida + enredo com tom deliciosamente popular/farcesco que poderia estar em algum filme bollywoodiano = a prolixidade na forma como mescla nostalgia e incerteza tem sua graça em partes, notadamente na primeira metade. o conflito de sangues (árabe, americano) esgotou minha paciência, verdade seja dita, sabe, você pensa que quando um pai conhece seu filho somente aos 25 anos, o conflito instalado tem potencial nuclear para destruir as famílias de ambos [sim, porque em 25 anos, nem o sangue resiste a casamentos, separações, namoricos] pois a dupla, a um só fôlego, revive o passado [boa utilização do recurso do mesmo ator no papel do pai jovem e de seu filho] e reconhece sua transitoriedade, mas não, as rusgas revolvem em hemoglobinas, linfócitos e plaquetas -- tudo politicamente defensável, mas extremamente ingênuo, tipo: ok, o senhor já martelou isso aproximadamente xxx vezes, o recurso dramático já foi repassado, obrigado, seu troco é menos 1 ponto na cotação e meu ar ligeiramente decepcionado.)

UM DIA QUENTE DE INVERNO - 63 (admitidamente passável, só que o desenvolvimento das conexões entre a família sem a figura materna e outra completamente perdida fisicamente ganham dimensões estratosféricas [grandes cenas: 'papai, quero fazer xixi!'/deitando e rolando na praia], a problemática é talvez adaptar os antigos laços às novas possibilidades: o quanto será preciso camuflá-los para que algo de novo os complemente? [fica claro, espertamente, que a mera substituição não vigora] em todos os casos, é inspirador ver as soluções dolorosamente conciliadoras apresentadas.)

A ÚLTIMA VIDA NO UNIVERSO - 59 (elipses e explosões enigmáticas iniciais dão o tom da primeira meia hora, tempo se dilata atmosfericamente como se a ordem cronológica usual fosse mais uma convenção inoportuna, Bangcok parece suspensa numa aura impermeável de hesitação [de alguma forma parecido com o recalque saudável de TROPICAL MALADY, no geral, irmão gêmeo de O BURACO] etc., enfim, LOST IN TRANSLATION feito da maneira correta: momentos de transição não significam necessariamente instantes de revelação ou etapas para a transcendência... a coisa sai -- feio -- dos trilhos na metade final: idiossincracias a partir de detalhes francamente mal formulados e incongruentes de personagens, floridas com glacê 'qual é meu papel no mundo? ooh, estou deslocado!' [assim, quer um mapa para sair da sala de cinema? acho que posso te ajudar, inclusive te acompanhar...], engrenagens se ressentem da presença do óleo 'dinâmico' até os minutos finais, nos quais o abstrato ganha formas - pode-se tratar de algo como a queda do hedonismo e a conquista de gravidade [no sentido figurado também: ver trecho a respeito da aura da capital tailandesa] para cada ato praticado etc. fato curioso do filme: recordes mundiais de 'determinado personagem tenta de todas as maneiras possíveis se suicidar' & 'determinado personagem falha por diversas razões, prováveis ou não, ao não conseguir o intento'.)


Lição do Dia: o pastel de peito de peru e provolone pode ser tão saboroso quanto o de frango com ricota.

Segunda Lição do Dia: não adianta se esconder no banheiro masculino localizado dentro da sala Unibanco 1 entre uma sessão e outra por motivos embaraçosos de corte de gastos. existe uma vigília programada contra pessoas saudosistas, que querem apenas assistir dois filmes pelo preço de um, como uma matinê do sábado ensolarado da segunda semana de janeiro de 1954.

Terceira Lição do Dia: também envolve sanitários de forma bizarra: "economizar água é esbanjar inteligência". acho que isso também vale para as "2 folhas de alta absorção" ou para o "papel higiênico duplo" ou ainda para o sabonete líquido "três em um" etc.



quarta-feira, outubro 06, 2004

DIA 10

-- (compromissos com o TRE)

DIA 11

20 : 30 : 40 - 50 (progressão!)
BAADASSSSS! - 45
TARNATION - 76 (o depoimento de Hilary é provavelmente uma das duas os três cenas mais orgásmicas do festival)

DIA 12

ERA UMA VEZ NA AMÉRICA - 56
off festival (ccbb, ken loach) - THE FLICKERING FLAME - 58
idem - WHICH SIDE ARE YOU ON? - 64 (o cancioneiro popular abre um baú de memórias do vilarejo e as coloca face a face com a realidade prática. ilumina e inspira até quando se percebe que a 'realidade prática' = opressão da força policial inglesa. duh.)

DIA 13

29 PALMS - 84 (e vai subir na revisão, BRILHANTE! Gigli + Irreversível etc.)
ÁGUA-VIVA - 43 (o plano final com as camisetas estampadas [provavelmente daquelas de grife pó$ moderna, emblemática e engajada] com Che Guevara consegue ser mais medíocre que a travessia das águas de Eu, Meu Amigo e Minha Lambreta. *GRRR GRRR GRRR, EU PERDI SWEET SIXTEEN POR ESSE FILME, GRRR GRRR GRRR*)
off festival (ccbb, loach) - KES - 65

DIA 14

UNDERTOW estava programado a priori, mas já está comprado (certo, ALL THE REAL GIRLS também estava e não entrou em circuito, mas este é um thriller, com chances infladas de dar as caras num cinema perto de você) e não posso perder a última aula do dia de Direito (Teorias do Estado, a título de curiosidade) e nem a parte inicial da de Cinema, já que faltei terça passada em nome de TROPICAL MALADY. Joe > David, aparentemente.



AGUARDEM COF INFO. COF REPESCAGEM. CÂMBIO. ATCHIM. KLEENEX. ATÉ.



domingo, outubro 03, 2004

FILMES DO FESTIVAL em ordem de preferência, cotações ligeiramente modificadas:

A Batalha de Argel 89
Mal dos Trópicos 88
Seu Irmão 79
Mods 78
Temporada de Patos 75
Herói 75
Por Uns Dólares a Mais 75
O Refúgio de Meu Pai 73
Steamboy 69
Você Não Pode Mudar as Ruas Mas as Ruas Podem Mudar Você 69
Estarei Sempre Aqui para Você 69
O Perdão 67
Caminhos para Koktebel 66
Dogora 63
Encenando "Na Companhia dos Homens" 54
Santa Menina 52
Dias de Santiago 49
A História de Marie e Julien 42
O Intruso 39
Cachorro 14

próximos: 20:30:40; Baadasssss!; Tarnation; Era Uma Vez na América; 29 Palms; Undertow. provavelmente troco Água-Viva (Bright Future) por Kes & Sweet Sixteen na retrospectiva de Ken Loach no CCBB.


sábado, outubro 02, 2004

DIA 9

SEU IRMÃO 81
O REFÚGIO DE MEU PAI 73


sexta-feira, outubro 01, 2004

DIA 8 (comentários preto-no-branco, só para não passar em...)

A BATALHA DE ARGEL (restaurado) 89 -- exasperante, ensandecidamente bela abordagem da consciência revolucionária e das forças de dissolução desta; sem generalizações, apenas uma massa de contradições ora reacionária ora progressista, sempre entrelaçada por algo mais resistente que a natural repulsa ocasionada pelos diferentes estágios - pretendidos - de revolução e os métodos para a conquista de tal objetivo (argelianos) ou dos graus distintos de repressão utilizados (força policial francesa). Algumas imagens fenomenais (a escadaria na qual o velho é humilhado é tão memorável quanto a de Odessa; o plano no qual a mulher árabe, antes de plantar a bomba em um café, observa as mesas, as pessoas, os sorrisos, as trocas e os poucos segundos entre 'ela desiste?' ou 'tudo pela causa!' são orgásmicos; a execução 'mostrada' no olhar de um prisioneiro, ainda mais tocante devido à imperceptível variação da 'intensidade' de seu semblante antes e após a decapitação = embrutecimento do homem comum etc.), sublime toda vida.

CACHORRO (mundo gay) 18 -- essa sessão foi caótica/antológica, temi até pela minha integridade corporal; quanto ao filme: munição para os skinheads direcionados ao grupo gls (plano externo) + homofobia em limites INtoleráveis (plano pessoal). Mãe hippie = não se importa se o filho de 9 anos é gay ou não, na verdade, adivinhe que opção ela escolheria para ele?, usa drogas, é soropositiva / irmão da mãe hippie (protag.) = gay, soropositivo, liberal mas teme maiores compromissos (morar com um parceiro? "não estou preparado.") pois seu namorado morreu em circunstâncias misteriosas / menino (filho da hippie, sobrinho do protag. etc.) = pensa que é gay, é contra a legalização das drogas, o típico exemplar que faz senhoras gemerem em profunda comapixão em uma sala de cinema (ahhhh, que f-o-f-o!) / amigos do protag. = todos gays, extremamente festivos, caricaturas da exacerbação desmunhecada pós moderna, exceto claro, os amigos não-gays, complacentes, puro nonsense / avó do menino (sogra da hippie) = conservadora, super-protetora etc. / complicações: a hippie foi presa na índia por porte ilegal de drogas; o menino, até então na casa do tio super-gay, é disputado por sua avó. (chega, se não consigo comentar filmes notáveis, não vou perder meu tempo com porcarias monumentais; mas não, tio kerry + avó bush não se encontram no tribunal, é mais uma versão soft gay, off neurônios de Um Grande Garoto). adendo: Tomada Que Diz Tudo: o menino sai da casa do tio para a barra da saia da avó, no momento da separação eles se abraçam como se fosse a última vez e isso só é visto pela câmera devido a duas janelas laterais do banco traseiro do carro da velha abertas, esta, impassível, olhando diretamente para frente (em relação ao carro), 'um dia você vai me agradecer por isso, moleque ingrato.' Mensagem do Dia: gays podem cuidar de crianças, direitos iguais, adoção descomplicada, ciência à serviço das minorias (i.e novas técnicas de fertilização in vitro [!?]) e acima de tudo, heteros abertos à diversidade! Talvez a intenção do diretor seja ampliar a percepção de nossa receptividade em relação à "generalidades", o que nos leva a "gays são pessoas também" = ah, agora tudo faz sentido!


ps: decidi diminuir a cotação de MAL DOS TRÓPICOS para meados de 70. é uma questão de sincronia minha com o filme e creio que ela não foi perfeitamente estável durante toda a projeção (fatores externos influenciaram), ainda assim uma experiência inigualável, repleta de digressões, gêneros se misturando, pessoas se amando, mitologia/alegoria/parábola, florestas equatoriais, música pop, lambaeróbica (sic), gelo etc., comentado abreviadamente em breve.

amanhã: SEU IRMÃO & VERA DRAKE, talvez dois de ken loach na mostra do ccbb, off festival do rio.

quinta-feira, setembro 30, 2004

DIA 7

CAMINHOS PARA KOKTEBEL 66
MAL DOS TRÓPICOS em torno de 90
ENCENANDO "NA COMPANHIA DOS HOMENS" 54


quarta-feira, setembro 29, 2004

DIA 6

A HISTÓRIA DE MARIE E JULIEN 42

esse eu comento (promessa do dia)


decreto do dia: desisto dos cineastas badalados a partir de agora.

barra de cereal do dia: nutry chocolate com banana - as bolinhas de cereal estavam com consistência mais para as homeopáticas que para as de isopor; não sei, o problema foi a exposição demasiada ao sol, acho.

pessoa famosa que penso ter encontrado do dia: eduardo coutinho na sessão de M&J.

lição do dia: após uma noite de sono de apenas 6 horas e um filme que o faz lembrar as possibilidades não concretizadas de descanso mental, a melhor solução para não apagar na sessão é abrir um pacote de biscoitos e comê-los de acordo com a freqüência expressa na relação a seguir: 1 bocejo = 2 unidades; 1 checada furtiva no relógio = 3 unidades; 1 suspiro = 4 unidades etc.


terça-feira, setembro 28, 2004

DIA 5

O PERDÃO 6
TEMPORADA DE PATOS 7+


amanhã: marie e julien + ??
depois de ": tropical malady, caminhos para koktebel e sem rumo + hari on ou encenando na cia dos homens.
sexta: provavelmente barra da tijuca (gasp.) = a última vida do universo.

segunda-feira, setembro 27, 2004

DIA 3

VOCÊ NÃO PODE MUDAR AS RUAS MAS AS RUAS PODEM MUDAR VOCÊ 69
SANTA MENINA 51


DIA 4

STEAMBOY 71
POR UNS DÓLARES A MAIS 76


domingo, setembro 26, 2004

DIA 2

ESTAREI SEMPRE AQUI PARA VOCÊ 68
O INTRUSO ??


sábado, setembro 25, 2004

DIA 1

HERÓI 77
DOGORA 61
DIAS DE SANTIAGO 49
MODS 78


sábado, setembro 18, 2004

é impressionante como as coisas dão errado quando se vai montar uma grade de programação. nunca se consegue ver tudo o que quer porque um bate com o outro, filme x passa na barra da tijuca em horários decentes (!), filme y em Botafogo meia-noite (!!). só existe uma sessão assistível de TROPICAL MALADY, dia 30/9, as 14hrs no Botafogo 1, pena que esta corta de vez ANATOMIA DO INFERNO (recepção fria, mas como eu queria ver um filme de Breillat!). Outra, AGENTE TRIPLO de Rohmer tem horários horrorosos em Botafogo e Ipanema e estes horários batem de frente com os de OURO CARMIN & O INTRUSO. sem Rohmer, sem Breillat aparentemente. dores de cotovelo notáveis.

Vejo: marie e julien; undertown (david gordon green!); niña santa; temporada de patos; tarnation; 29 palms; steamboy; o intruso; ouro carmim; a última vida do universo; control room e obviamente mal dos trópicos, a inspiradíssima tradução de tropical malady.

mensagem abaixo atualizada.

quinta-feira, setembro 09, 2004

+3 // 17 set

setembro

/Boogie Nights/ (Paul Thomas Anderson . 1997 . vhs . 05 set . 8)

A Vila (The Village . M. Night Shyamalan . 2004 . cinemark plaza . 09 set . 8)


Cliente Morto Não Paga (Dead Men Don't Wear Plaid . Carl Reiner . 1982 . sala de projeção iacs/uff . 09 set . 4)


/A Vila/ (The Village . M. Night Shyamalan . 2004 . cinemark plaza . 10 set . 9)

Balzac e a Costureirinha Chinesa (Balzac et la petite tailleuse chinoise . Sijie Dai . 2002 . estação paço . 10 set . 3)


Sob a Névoa da Guerra (The Fog of War . Errol Morris . 2003 . casa frança-brasil . 10 set . 6)

Admirável pela abordagem/metodologia indecisa: as intromissões minimalistas e pertinentes de Morris ora aplicam um bote certeiro no escape fácil de McNamara ('sim eu errei, mas não é possível dominar todas as variáveis da guerra no momento em que ela ocorre, o tempo que meus detratores possuem para decodificar meus atos, colocando-os em perspectiva desfavorável, não é tão compreensivo quanto os cinco minutos nos quais se decide quantos americanos serão mandados ao Vietnã.') ora se une ao entrevistado em respeito ao seu exame de consciência.


O Anjo Azul (Der Blaue Engel . Josef von Sternberg . 1930 . cinema ccbb . 17 set . pendendo revisão, provavelmente 6 ou 7 [motivo: leve zzz])

/Scarface/ (Howard Hawks . 1932 . cinema ccbb . 17 set . 4)

O Segredo da Porta Fechada (Secret Beyond the Door . Fritz Lang . 1948 . cinema ccbb . 17 set . 1)

Roberto Rodrigues (curta . Tunico Amancio . 1987 . cinema ccbb . 17 set . n/a)

quarta-feira, setembro 01, 2004

http://festivaldorio04.blogspot.com/

esse azul piscina do template desse blog um dia foi 'nossa, bonito', ultimamente 'alguém falou em piscina? sem sem sem bóia funfunfunda não dá pppÉ! --> hmmm', preciso de um tempo, mas o SACRAMENTADO comentário para Colateral está chegando e será editado na mensagem anterior, aka, aquela das 100 e ?? mensagens clonadas e desesperadas e insanas e incuravelmente frenéticas; frenesi agora só com as atualizações da página do festival propriamente dita, não a minha, óbvio.


quarta-feira, agosto 11, 2004

adicionados: vá para baixo e confira.


A Lei do Desejo (La ley del deseo, Pedro Almodóvar, 1987) pro [dvd, 01 ago]

[curtas] Anima Mundi vol. 2 [dvd, 01 ago]

/Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças/ (Eternal Sunshine of the Spotless Mind, Michel Gondry, 2003) PRO- [estação icaraí, 02 ago]

Fahrenheit 9/11 (Michael Moore, 2004) mixed- [icaraí, 02 ago]

Freaky Friday (Mark S. Waters, 2003) pro- [dvd, 05 ago]

Ligado em Você (Stuck on You, Peter e Bobby Farrelly, 2003) mixed [dvd, 06 ago]

[curtas] Anima Mundi vol. 2 [dvd, 06 ago] (destaques: Au Bout du Monde, Pai e Filha, Média, T.R.A.N.S.I.T, Espantalho)

Homem-Aranha 2 (Spider-Man 2, Sam Raimi, 2004) pro [cinemark praiamar, 09 ago]

Efeito Borboleta (The Butterfly Effect, Eric Bress e J. Mackye Gruber, 2004) pro- [cinemark praiamar, 09 ago]


Eu, Robô (I, Robot, Alex Proyas, 2004) mixed+ [roxy santos, 10 ago]
Diário de uma Paixão (The Notebook, Nick Cassavetes, 2004) pro- [roxy santos, 10 ago]

Gigli (Martin Brest, 2003) pro [dvd, 10 ago] ver caixa de comentários.

/Gigli/ (Martin Brest, 2003) pro [dvd, 11 ago]

Hollywood Homicide (Ron Shelton, 2003) pro- [dvd, 11 ago] {buddie-cop rotineiro - personalidades definidas ora com ajuda prolífica de uma série de intimações duras na queda ora com sentimentalismo 'quebrando o gelo' da anterior; atitudes cotidianas se traduzem em 'baixar a guarda', uma quebra no vigilantismo profissional; diferença de idade entre os parceiros tende a equilibrar a relação dos mesmos, como uma simbiose entre vitalidade e maturidade, separadas uniformente na maioria dos casos etc. - mas nunca cretino [exceto na vingança de hartnett contra o parceiro que matou seu pai, 'questão de honra, entendam meu ponto de vista, afinal, você tem o seu pai vivinho ao seu lado'], sempre divertido [o carro, o seguro, a folha atrasada de pagamentos, dois ladrões; interrogatório que une em um só fôlego bipes e ioga] com algumas observações interessantes sobre o star system no universo da música - primo pobre do cinema - com a questão da quebra de contratos e com especial atenção às pequenas coisas - hartnett fala de um antigo produtor envolvido nos negócios imobiliários de ford como se pertencesse ao 'tempo passado', mas é ele quem garante o único relance de interesse [i.e. apadrinhamento] na sua performance [nota: um diálogo lembra muito sunset blvd., algo como 'você já foi grande.']; o erro de cálculo quanto ao número de balas do revólver de um preso rebelde; um certo desequilíbrio inato aos inseguros no personagem de hartnett quanto aos apelos místicos de videntes, mulheres dando sopa e rumo profissional incerto e a maneira como isso não é resolvido no grand finale, ausente de qualquer 'quebra de sigilo' significativa.}

Mulheres Perfeitas (The Stepford Wives, Frank Oz, 2004) mixed [roxy santos, 12 ago] {nem 8 - o desastre que antecipei erroneamente: regressão anti-feminista como resposta amargurada à capacitação feminina de igualdade; nem 80 - a bonanza camp level repleta de diálogos inteligentes sobre posições desconfortáveis que precisam ser assumidas e pensadas de antemão. Existe um claro contraste entre os primeiros minutos - executiva, sobretudo preto, NYC, stress - e o resto do filme - dona de casa, avental ameliano, subúrbio, tranqüilidade - e a transição entre ambos é feita da forma mais grosseira e menos sutil possível: a incapacidade de se conformar de Kidman advém dessa mistureba de papéis, que trazem implícitos um manual de atuação com todas as acrobacias agradáveis a gregos e troianos. Enfim, não funciona muito bem como comédia (homens perdidos nos corredores de um supermercado = oh, que idéia original, instigante, bem elaborada!) nem como terror (os microchips fazem sentido quando colocados ao lado da mulher-caixa-eletrônico? que seja, aquelas seqüências finais parecem ter sido dirigidas por Tim Burton), traz alguns subtextos tratados com nível constrangedor de recalque e imprecisão (gays republicanos, febre de reality shows) e se resolve seguindo o mantra da 'perfeição-imperfeita' (aka: porque você também é especial!!!). Mas o esteriótipos são bem controlados no esquema sátira-ao-léu e o conjunto desce redondo.}

Hellboy (Guillermo del Toro, 2004) pro- [indaiá, 12 ago] {Nos melhores momentos, orgásmica visão distorcida de família e companheirismo reunindo em um só fôlego a aceitação de particularidades (o melhor eufemismo encontrado para 'criatura nascida no inferno') e a naturalidade com que Hellboy pede para ser aceito - desenvolvendo comportamentos humanos, ver cena do 'leite e biscoito no telhado'. Fica claro que uma série de concessões são estabelecidas pelas duas partes, o que ocasiona certas obrigações do (anti-)herói quanto a entrar no 'ritmo terreno' e alguma compreensão do 'quartel general' quanto às implicações dessas regras para ele, e o filme no auge mostra que a identidade do mesmo está se moldando aos poucos/solavancos e a resposta para alguns conflitos é o negar-fogo implícito no sarcasmo e ironia, tratados como respostas ao deslocamento e/ou maneiras para se lidar com algo além do controle (i.e. relação entre a mulher-fogo e o policial). Nos piores, pura banalidade retirada de alguma teoria conspiratória marqueteira, paranóica e fajuta colocando lado a lado 'nazistas' e 'destruição/dominação do mundo' que acaba por contaminar esse conflito transformando-o em uma simples 'questão de escolha/renúncia' (ver a pífia narração que abre e fecha o filme) ainda assim, o que está em jogo no clímax guarda resquícios da sensibilidade comovente supracitada.}

Por um Triz (Out of Time, Carl Franklin, 2003) pro- [dvd, 12 ago]

/Matador/ (Pedro Almodóvar, 1986) pro- [dvd, 13 ago]

As Panteras Detonando (Charlie's Angels: Full Throttle, McG, 2003) mixed- [dvd, 13 ago]

/Embriagado de Amor/ (Punch-Drunk Love, Paul Thomas Anderson, 2002) PRO+ [dvd, 14 ago]


/O Doce Amanhã/ (The Sweet Hereafter, Atom Egoyan, 1997) PRO- [dvd, 15 ago]

Femme Fatale (Brian De Palma, 2002) PRO- [dvd, 16 ago]

/A Fortuna de Cookie/ (Cookie's Fortune, Robert Altman, 1999) pro [dvd, 17 ago]

/Femme Fatale/ (Brian De Palma, 2002) PRO [dvd, 17 ago]

Caçado (The Hunted, William Friedkin, 2003) pendendo revisão [dvd, 18 ago]

The Lizzie McGuire Movie (Jim Fall, 2003) pro [dvd, 18 ago]

/The Lizzie McGuire Movie/ (Jim Fall, 2003) pro- [dvd, 18 ago]

Minha Vida sem Mim (My Life Without Me, Isabel Coixet, 2003) mixed+ [cine arte posto 4, 19 ago]

Mulher-Gato (Catwoman, Pitof, 2004) mixed- [roxy santos, 19 ago]

/Embriagado de Amor/ (Punch-Drunk Love, Paul Thomas Anderson, 2002) PRO+ [dvd, 21 ago]

[curta] Onde Quer que Você Esteja (Bel Bechara e Sandro Serpa, 2003) con- [porta curtas, 22 ago]

[curta] Ilha das Flores (Jorge Furtado, 1989) pro- [porta curtas, 22 ago]

/Matinee/ (Joe Dante, 1993) PRO- [dvd, 23 ago]

Raízes do Brasil (Nelson Pereira dos Santos, 2004) mixed- [cine arte posto 4, 25 ago]

13 Going On 30 (Gary Winick, 2004) mixed+ [roxy santos, 25 ago]

[curta] /Ilha das Flores/ (Jorge Furtado, 1989) pro+ [porta curtas, 25 ago]

/Shrek 2/ (Andrew Adamson et al., 2004) mixed- [cinema piraquê, 27 ago]

O Retorno (Vozvrashcheniye, Andrei Zvyagintsev, 2003) pro+ [espaço unibanco, 28 ago]

Corações Livres [Dogma #28] (Elsker dig for evigt, Susanne Bier, 2002) mixed+ [espaço unibanco, 28 ago]

Collateral (Michael Mann, 2004) mixed+ [cinemark plaza niterói, 30 ago]

Justiça (Maria Ramos, 2004) mixed [estação paço imperial, 30 ago]


sexta-feira, agosto 06, 2004

ver mensagem posterior.


sábado, julho 31, 2004

/história real/ (the straight story, david lynch, 1999) 74
/a marca da maldade/ (touch of evil, orson welles, 1958) 85

comentários vindo e mais um filme ainda hoje (dividido entre all that jazz, /o sol é para todos/ ou /pdl/)




sexta-feira, julho 30, 2004

ao romper do dia (om jag vänder mig om, björn runge, 2003) 16 [cartarse intelectual para björn runge, aparentemente: hedonismo --> moralismo + revelações instantâneas :: traições + arrependimentos :: 'se eu tivesse outra chance' + correria + 'você mentiu para mim durante 26 anos, se você fosse Pinóquio seu nariz alcançaria a Lua' {acreditem, isso é proferido} + 'Você me ama? Não tenho certeza' + carros derrapando no lamaçal + gritaria + choque elétrico 'capaz de fazer um boi dormir por três dias' + louças e outros objetos pontiagudos arremessados contra determinada pessoa + cimento nas janelas e portas :: desprezo niilista-fatalista + 'hoje não vou trabalhar, passarei a tarde com minha família' :: sabe, porque são essas coisas que importam, o resto é transitório + 'qual é o nome do seu namorado, filha? :: processo de intimidade progressiva com a filha adolescente + os três núcleos se cruzam em um... cruzamento de rua {ooh, misticismo!} + filho bate no pai mas os dois, chorando, acabam se abraçando, o segundo pede perdão ao primeiro, ele não responde apesar de permanecer engalfinhado nos braços paternos :: gestos "Dizem Mais" que palavras + pedreiro deixa a porta aberta quando sai e o casal recluso observa fascinado a luz do sol :: esperança + mulher chutada pelo marido por moça-mais-nova passa a compreender sua raiva :: perdão :: vida nova :: aparelho elétrico sem valia + algumas observações embaraçosas + outras constrangedoras = pronto, temos um filme!]

um lugar entre os vivos (une place parmi lês vivants, raoul ruiz, 2003) 46 [sub-woody allen, sartre básico - ser = escolher - etc. mas estranhamente fascinante apesar de sonolento, quadrado etc.]

ccbb, 30/08


quinta-feira, julho 29, 2004

Au hasard Balthazar (Robert Bresson, 1966)  57

Bresson parece endereçar como vidas que seguem em direções opostas revolvem ao redor das mesmas coisas, no entanto, isso soa vagamente como um 'filme de responsabilidade', enfocando a personalidade (vulnerabilidade - talvez a palavra-chave + solidão do indivíduo) girando em volta da vida em si e necessidades decorrentes sem que nunca esse sistema entre em equilíbrio. Existe uma certa atenção quanto ao processo de aprendizado multi-geracional (vide Primavera, et al.), visto como fútil e cíclico; e principalmente, grande parte da suposta força do filme advém da necessidade de se medir a crueldade, tratada como uma resposta amarga à mistura de orgulho e privações. No entanto, o 'mundano' de Balthazar me deixou indiferente; talvez sua incisão e eficiência provenham da lógica interna conflituosa dos personagens, sempre presos em alguma regra/princípio, e mesmo agindo em dissonância com tal 'normatização' ainda resguardam muito do recalque e angústia da não-libertação; e provavelmente dessa idéia, surge a sensação desagradável de responsabilidade transviada ou insensibilidade beirando o niilismo à nostalgia ou mudança. E, bem, alguns trechos viscerais (destaque para 'Não despreze minha lágrima' ou as circunstâncias que envolvem a perda e reconquista do burro pelo bêbado) se diluem dentro de composições formalistas e gélidas (O Processo de Joana D'Arc é semelhante nesse aspecto; no entanto, estamos falando de um processo, no qual esse 'realismo dardennês' sobrepõe circunstâncias à psicologia, tornando a confiança em 'outro mundo' muito mais palpável e intensa). O tom é de parábola sobre sina e dor, as circunstâncias envolvidas movem-se em areia movediça com ares de 'mas não poderia acontecer de qualquer outra forma', a protagonista Marie encerra uma ambigüidade sublime (dissolver vínculos passados potencializa a criação - descuidada - de novos; estes incentivam um regressismo ineficaz, contra o qual ela luta através do reforço desses novos vínculos etc.) e todo o fatalismo contido nela e no burro (desse último, o título faz menção: Ao Azar Balthazar) trazem ao jogo metáforas cristãs, mas sabe, o círculo completo da vida, obra e morte do burro é tão sistemático para maior apreciação, como um compêndio rigoroso de pequenos fracassos e fraquezas individuais etc. Talvez em uma revisão suba para 90-e-tantos, mas enfim, Bresson sempre consegue respostas conflitantes da minha pessoa, pena que não no sentido que gostaria. 

 

terça-feira, julho 27, 2004

o fundo do mar, damian szifron, 2003, cinema ccbb, (a)mostra com filmes do fic brasília, 41, expressão-chave: tempestade num copo d'água.

au hasard balthazar, robert bresson, 1966, cinema mason de france, mostra cinema e filosofia, 57, expressão-chave: burro expiatório.

 

 

 

segunda-feira, julho 26, 2004

/brilho eterno et al./   81

não ficou pior, todo o subtexto de kirsten dunst - e seu conhecimento tardio de como a felicidade com um segredo (i.e. paixão platônica pelo chefe) é mais satisfatória que uma 'felicidade' alienada na qual toda a base de sustentação para o revival desse sentimento foi destroçada - ficou muito mais atraente etc. Acho que eu só superestimei um cadin' (francamente, as cenas com Frodo são, sabe?), provavelmente porque veio logo após meninas malvadas. Mas enfim, tem nietzche, jon brion, e aquele clímax devastador na casa de praia a ser lembrado como a mais orgásmica cena do ano.

eu prometo que falo algo de MM e Cléo, mas antes devo comentar Balthazar e L'Avventura, vistos provavelmente amanhã.

domingo, julho 25, 2004

eu realmente detesto colocar as coisas em perspectivas insanamente unilaterais, mas é o seguinte: o número de visitas desse blog é pequeno, ainda menor diante das minhas ambições bigger than life, logo, isso é um sério, grave, comprometedor, fator de risco para a vida útil do mesmo. Porque sabem, eu estou prestes a entrar em desespero e colocar uma camisa de força no armário, em todos casos. Cheguei a um ponto no qual vejo constantemente coveiros com pás transitando pelos fotogramas mal conservados e amarelados pela exposição ao sol e à coca-cola da minha vida e temo pela segurança do conjunto. Acho que a petrobrás não vai querer restaurá-los, infelizmente, é o preço que se paga por morar em Niterói e não no RJ ou SP. Acho também que esse blog está com os dias contados, e esta semana pode ser a derradeira, portanto: CUIDADO!

Mas ainda há luz no fim do túnel, mais precisamente na página 74 do livro 'Momentos de Sabedoria': Diego escreve: "Nem toda sátira de universo adolescente tem que ser "carinhosa" como Patricinhas. Bah." Eu replico: "...nem beligerantemente escrota como MM." etc. e é nessa selvageria gramatical que eu quero me instalar. Que comece o bombardeio porque eu estou tão cansado dessa minha vidinha burguesa-maçante quanto Cléo, excetuando-se o fato de ser bem mais interessante e ambíguo que aquela mulher chick-flick-françoise.

ps 'revendo os seus conceitos': o crítico de cinema 'mais influente' do RJ (leia: o enviado à Cannes pelo estado), Jaime Biaggio é mais bacana do que um dia eu dei crédito. Desculpe, Jaime.

ps2: o curso da contracampo 'ateliê da imagem' (realmente não se poderia esperar nada menos rebuscado que 'ateliê', pelo menos é um passo anterior à 'oficina da modelação imagética') despertou em mim o interesse de criar um outro, provisoriamente entitulado de 'como passar do primeiro parágrafo nos textos de ruy gardnier sem engasgar com vocábulos como "fílmico" ou sem sofrer crises de auto-depreciação só porque não sabe bem o significado da palavra "cinefilia", ou pensa que sabe, mas é tão pobre, logo, incompatível com essa multiplicidade fertilizante do staff da dita'. Hmmm, alguém topa?

 

sábado, julho 24, 2004

brilho eterno:

reconhecer que os momentos de êxtase estão intrínsecos aos de agonia e danação é, resumidamente, o que brilho eterno se propõe a fazer. nos últimos momentos, joel e (oh, my darling) clementine valorizam sua intimidade cintilante ao ponto do provável desgaste da relação (evidenciado com o destino melancólico da primeira vez) se tornar quase insignificante. Ao abraçar a possibilidade de concretização da dor e perda, o casal também abraça seus instantes de felicidade. Eu, particularmente, não encaro o 'okay' da dupla como um novo lance de dados, no qual essa jogada simbolizaria uma nova chance para que o relacionamento não acabe com a ajuda prolífica de uma corporação ilegal; o filme pode até arranhar o tema 'segundas chances' mas, acima de tudo, aborda a valorização extremada, hiperbólica do compromisso firmado. até porque esse compromisso propiciou tantas mudanças de conceitos, possibilitou o desenvolvimento da noção de convivência, redesenhou toda uma vida. apagar os momentos terríveis é uma forma de deixar os maravilhosos à deriva; como categorizar algo em positivo ou negativo, se um desses componentes é inexistente? o desagradável condiciona o paladar aceitável para degustar o êxtase. logo, essa dependência dos extremos se encaixa não só na percepção de estados de espírito como também dentro do compromisso, com duas personalidades absolutamente díspares fazendo concessões e fechando os olhos para atitudes do outro. ou seja, brilho eterno é uma ode à percepção do compromisso. e me deixou inebriado de forma parecida, ainda que menos intensamente, com minha reação a embriagado de amor ou amor à flor da pele.

90 


sexta-feira, julho 23, 2004

3 filmes hoje:

cléo das 5 às 7 - 57 (sério) - dvd, cabine individual, ccbb-rj - mentira deslavada: cléo das 5 às 6 e meia. bem, da minha parte foi de 1 às 2 e meia da tarde, e não foi um rendez-vous particularmente íntimo ou revelatório etc., me pareceu mais um esbarrão.

meninas malvadas - 36 - estação icaraí - aproveitamento 100%: uma cena, um embaraço. o típico filme no qual é inexistente a convivência do desprezo travestido de sarcasmo com a compaixão (exatamente o contrário de patricinhas de bh). Nota: cotação influenciada - positivamente - pela libido.

brilho eterno de uma mente sem lembranças - 90 - estação icaraí - porque ctrl + alt + del apaga não só o seu texto, mas também o tempo que você dedicou a sua feitura, os minutos que você deixou de passar com a família, o arcabouço lógico utilizado, suas memórias que irromperam bruscamente em busca de um espaço na sintaxe, sua fluência e um pedaço da sua verdade. 

 


!!!

JESUS CRISTO, A GRANDE TESTEMUNHA, AKA O FILME DO BURRINHO DIRIGIDO POR ROBERT BRESSON, PASSA NO MAISON DE FRANCE (NÃO ME PERGUNTEM ONDE É) NESTA TERÇA-FEIRA. PROVAVELMENTE A MELHOR NOTÍCIA DO ANO ETC. Nota: se eu vou, aí já é outra história.

 
E Eternal Sunshine of the Spotless Mind é, desde já, dono do mais belo título do ano. Provavelmente a versão cinematográfica de "Emoções", do Rei Roberto Carlos (...se chorei ou se sofri, o importante é que emoções eu vivi...). Nota: eu gosto de RC.

 
VIVA BALTHAZAR! VIVA!

 
Adendo: estou confeccionando (gasp) uma tese de 2 laudas (sic) sobre Ladrão de Alcova/Trouble in Paradise, de Lubitsch, a partir de um texto do qual fiz fichamento entitulado "A duplicidade da cultura brasileira" (de Luiz E. Soares), e acreditem, as relações de poder hierarquizadas e individualizadas nacionais é o que há no dito. E aliás, TiP é sublime, sou devoto ardoroso do filme.

 

quarta-feira, julho 21, 2004

BERLIM FICA NA ALEMANHA

44 (comeback triunfal, como o final de Sunset Blvd. excetuando a ironia desconcertante)

Genérico Gênero do Recomeçando Após 11 Anos De Reclusão (Como O Termo Prisão É Conhecido Em Celulóide) Em Uma Alemanha Completamente Reformulada Política-Socialmente Devido A-Craseado Queda Do Muro De Berlim. Chega, é cansativo (e não muito recompensador) fazer essas maiúsculas alegóricas; na pior acepção, claro. É, um homem-qualquer é preso (homicídio doloso Sem Querer, sabem? "Eu não medi a minha força, Autoridade!"), -- 11 Anos Depois -- liberto, encontra todas as suas referências apagadas e sua família anterior desemembrada (leia: sem lugar para o dito), daí encontra seus amigos de cela, uns caras chatos freqüentadores assíduos de bares, se hospeda em uma sex shop/ponto de drogas (= péssimo para a condicional), tem o apoio da (ex-)mulher (não aqueeeele, entretanto) mas seu atual namorado/parceiro/marido/ficante sente que sua posição de Rei do Lar está ameaçada e ele faz Maldades Injustas e Inconseqüentes com nosso protagonista, que sofre, lima, teima, sua como naquele poema parnasiano. Ah, ele luta também para conquistar o amor do filho etc. Agora, existe uma metáfora (geralmente a genuína mão na roda desse tipo de produção) instigante (talvez porque seja colocada ao lado do conjunto pálido, inodoro, enfim, características da água): a licença para dirigir um taxi como via de controle manual do novo e limitado cotidiano, percorrendo itinerários desconhecidos formalmente, já que os nomes das ruas/avenidas se modificaram, mas não geograficamente (memória visual etc.), uma fagulha de intimidade e contato com a vida anterior.