sábado, novembro 06, 2004

OHARU (Mizoguchi, 1952, CCJF) 68

Basicamente uma maquinaria de tortura com engrenagens bem azeitadas; Oharu (cf. Emily Watson/Bessy em Ondas do Destino) é uma personagem que desperta o instinto protetor em qualquer um mas o grande entrave para maior apreciação é que essa relação de acobertamento (i.e. pureza > ceticismo) somente é válida (ou pelo menos reforçada) através de um maior e maior número de provações enfrentadas. Mas, milagrosamente, não se percebe ranço cínico de Ciranda da Vitimização, graças ao domínio formal de Mizoguchi cuja técnica (estrutura em flashback revela um ciclismo perpétuo) demonstra a estaticidade e confinamento proporcionado pela sociedade japonesa e transforma o desalento em estupor, com ausência de voz para exprimi-lo. Existe uma cena de beleza única: o quadro revela Oharu, sua mãe e uma antiga cortesã, hoje decadente; o efeito dela ecoa o sing along de Wise Up em Magnólia, o pedido de perdão da mãe para a filha (feito instantes antes) é uma saída indiretamente catártica que encontra como aliado/adversário o atual estado da ex-cortesã; é um lembrete que insiste na ratificação da esperança (nem tudo está perdido) e desolação (possibilidade - de vir a se tornar um molde da cortesã encontrada - a ser considerada de antemão).


O PROFUNDO DESEJO DOS DEUSES (Imamura, 1968, CCJF) w/o, após uma hora de projeção

A Enguia, no início do ano, se revelou imprópria para consumo, com concentrações de mercúrio elevadíssimas; neste aqui, meu rompante pacifista da Segunda Chance foi retribuído com esquema antropológico de organização narrativa: 'trabalho de campo' indireto ocorre entre os engenheiros neo-modernos e a galeria nativa Congelada no Tempo, enfim, o cerne do filme é provavelmente essa especificidade de ambas as partes e os conseqüentes preconceitos (ou descompassos) etnocêntricos. Admitidamente não estava mentalmente preparado para assimilar a Variação Número de Registro 235 do relativismo cultural. Momento No Qual Minha Paciência Esgotou de Vez: um avião sobrevoa a ilha em questão (a qual é obviamente longínqua, isolada e de pequenas dimensões) e algum ser (representando a Cor/Mentalidade Local) revela: "Segue para o Vietnã." = o milésimo filme produzido no final dos anos 60, tentando Materializar A Voz Dissidente e, para tanto, apela para essa maldita guerra!

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