quinta-feira, outubro 21, 2004

21/10

PÁGINA DE LOUCURA (Kurutta Ippeji, Teinosuke Kinugasa, 1926) 59 = estava gostando do ritmo frenético-contemplativo, elipses e fusões enigmáticas e surpreendentes (a geometria, os ângulos, graficamente impecável), ambiguidade existente na relação marido-mulher - para ele canalizar as atenções da parceira é preciso um certo estreitamento com o ambiente que a (e, consequentemente, o) cerca, se conectando com suas limitações e evocações específicas, no caso: um hospício, com toda a quebra de expectativas de um intercâmbio natural entre um casal - etc. e, do nada, pfff, me perco completamente e não me recupero nos próximos minutos, tudo parece esvanecer diante de um estômago pós almoço e sono atrasado; coloque um pouco de sal na cotação, estamos diante de uma obra-prima.

O GABINETE DO DR. CALIGARI (Das Kabinett des Doktor Caligari, Robert Wiene, 1920) 47 = não, eu estava bem desperto nesse filme, então nada de gentis temperos extra na cotação; sério, existe alguém que considera isso remotamente decente? Temos aqui um filme-experimento ("marco do expressionismo alemão!" é anunciado com alarde *tambores*), ou seja, algo milimetricamente controlado, tanto estética como narrativamente e, oh, !, disserta sobre hipnose, que é basicamente uma alegoria (admitidamente obscura) a esse pulso firme e corretor. Filme dentro do filme ou devaneio dentro do filme, chame do que parecer menos intransigente, mas o fato é que qualquer traço ambíguo é reduzido meramente ao protagonista ou contando uma história (de pescador) e adicionando facetas provenientes de sua mente fértil, ilusionistas por excelência como forma de provar sua sanidade (mais no sentido de auto-preservação já que seu interlocutor é um dos pacientes do hospício e não alguém com as chaves de seu quarto) ou narrando-a sem a parte do 'aumenta um ponto' do ditado 'quem conta um conto'. Será verdade? Será mentira? Prefiro me resguardar, ainda mais quando se presencia um cena conclusiva tão ineficaz quanto tola (até porque tropeça no próprio tripé ao trair a, já rala, dualidade supracitada), tipo 'puxa, esse ator não é o mesmo que interpretou o doutor manipulador-assassino? oh, estreitamento de conexões! puxa, tão avançado para 1920!'. Ah, pelo menos deixa os olhos satisfeitos com o fenomenal colosso arquitetônico dos cenários e figurinos.

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