sábado, janeiro 07, 2006

2006 (últimos: /TRÊS REIS/ COMENTADO EM PARÁGRAFOS + FOGUEIRA)

001. (05 jan) 9 CANÇÕES (Michael Winterbotton, 2004)* 44

002. (06 jan) BENS CONFISCADOS (Carlos Reichenbach, 2004)* 62

003. (06 jan) UMA NOITE COM SABRINA LOVE (Alejandro Agresti, 2000)* 45

004. (06 jan) MARTÍN (HACHE) (Adolfo Aristarain, 1997)* 73

005. (09 jan) JOHNNY GUITAR (Nicholas Ray, 1954) 88

006. (10 jan) JARHEAD (Sam Mendes, 2005)* 38

007. (11 jan) 2046 (Wong Kar-wai, 2004)* 54

008. (11 jan) /QUERIDA WENDY/ (Thomas Vinterberg, 2005)* 65

009. (11 jan) OS AMANTES (Louis Malle, 1958)* 39

010. (12 jan) VIDA DE MENINA (Helena Solberg, 2003)* 41

011. (13 jan) HAMLET (Michael Almereyda, 2000) 64

012. (14 jan) FLORES PARTIDAS (Jim Jarmusch, 2005)* 49

013. (15 jan) A SOGRA (Robert Luketic, 2005) 21

014. (16 jan) SOY CUBA, O MAMUTE SIBERIANO (Vicente Ferraz, 2005)* sem nota

015. (16 jan) A ESQUIVA (Abdel Kechiche, 2003)* 78

016. (21 jan) /EMBRIAGADO DE AMOR/ (Paul Thomas Anderson, 2002) 100 [objetivamente: 94] (descobri um pequeno detalhe graças a minha prima que assistiu ao filme pela primeira vez (ao contrário deste aqui que deve ter visto umas 25): na cena do disque-sexo - que merecidamente ganhou um texto próprio nos arquivos de julho 04 -, a mulher escorrega chamando sandler de 'barry' no instante em que ela pergunta no que ele trabalha e não 'jack' como ele havia estipulado com a atendente; algo que não só salienta que a atentende do serviço é a interlocutora sexy, como também já coloca a questão no âmbito profissional de barry, logo as cifra$ vem ao resgate e conferem uma tonalidade amoral a algo que antes era apenas um desconforto colateral míope na nova forma de perversão encontrada casualmente (além de obviamente insinuar que as pessoas fazem coisas diversas quando estão com outras no telefone. assim, barry veda o apartamento, isolando-o do olho público enquanto a interlocutora provavelmente está lendo animadamente no computador o número do cartão de crédito dele ocasionando assim o deslize: não tem como ficar mais impessoal que isso, esp. para um bate-papo que pede certa auto-implicação desde o início, até porque barry - e provavelmente a mulher - não percebe o engano e segue em frente sem saber que a guarda está aberta). é insignificante, mas descobrir coisas novas quando você pensa que já secou um filme é incrível.)

017. (25 jan) CONFIANÇA (Hal Hartley, 1990) 74

018. (25 jan) CRASH (Paul Haggis, 2004)* 8 (crash, mas o efeito é ploft.)

019. (25 jan) /GUERRA DOS MUNDOS/ (Steven Spielberg, 2005)* 70 [antes, 69]

020. (27 jan) MUNIQUE (Steven Spielberg, 2005)* 52

021. (27 jan) /UM FILME FALADO/ (Manoel de Oliveira, 2003)* 71 [antes, 85]

022. (28 jan) SAVED! (Brian Dannelly, 2004) 34

023. (28 jan) DEMONLOVER (Olivier Assayas, 2002) 63

024. (30 jan) /DEMONLOVER/ (Olivier Assayas, 2002) 65

025. (30 jan) /2046/ (Wong Kar-wai, 2004)* 49 [antes, 54]

026. (30 jan) APENAS UM BEIJO (Ken Loach, 2004)* 46

027. (31 jan) IMPULSIVIDADE (Mike Mills, 2005)* 36

028. (03 fev) BROKEBACK MOUNTAIN (Ang Lee, 2005)* 60

029. (03 fev) WOLF CREEK (Greg McLean, 2005)* 28

030. (03 fev) AS LOUCURAS DE DICK E JANE (Dean Parisot, 2005)* 43

031. (07 fev) /MUNIQUE/ (Steven Spielberg, 2005)* 68 [antes, 52]

032. (07 fev) O JARDINEIRO FIEL (Fernando Meirelles, 2005)* 47

033. (07 fev) HOTEL RUANDA (Terry George, 2004)* 61

034. (08 fev) SIMPLES DESEJO (Hal Hartley, 1992) 78

035. (08 fev) /ANJOS CAÍDOS/ (Wong Kar-wai, 1995)* 59 [1a. 45; 2a. 52]

036. (08 fev) /AMOR À FLOR DA PELE/ (Wong Kar-wai, 2000)* 94

037. (08 fev) A ESCOLTA (Ricky Tognazzi, 1993)* 48

038. (10 fev) JOHNNY & JUNE (James Mangold, 2005)* 51

039. (10 fev) ORGULHO E PRECONCEITO (Joe Wright, 2005)* 63

040. (10 fev) MATCH POINT (Woody Allen, 2005)* 57

041. (12 fev) MR. SMITH GOES TO WASHINGTON (Frank Capra, 1939) 81

042. (12 fev) 36 QUAI DES ORFÈVRES (Olivier Marchal, 2004) 54

043. (13 fev) BAD NEWS BEARS (Richard Linklater, 2005) 46

044. (14 fev) /O JARDINEIRO FIEL/ (Fernando Meirelles, 2005)* 54 [antes, 47]

045. (14 fev) AS CHAVES DE CASA (Gianni Amelio, 2004)* 42

046. (15 fev) O EXPRESSO SHANGAI (Josef von Sternberg, 1932) 70

047. (15 fev) /FELIZES JUNTOS/ (Wong Kar-wai, 1997)* 57

048. (15 fev) AMORES EXPRESSOS (Wong Kar-wai, 1994)* 58

049. (15 fev) VENHA DORMIR LÁ EM CASA ESTA NOITE (Dino Risi, 1977)* 55

050. (15 fev) /ANNIE HALL/ (Woody Allen, 1977) 83 [última revisão: 81]

051. (18 fev) /RASTROS DE ÓDIO/ (John Ford, 1956) 85

052. (19 fev) /O HOMEM QUE NÃO ESTAVA LÁ/ (Joel [& Ethan] Coen, 2001) 77

053. (20 fev) FEMINICES (Domingos de Oliveira, 2004)* 60

054. (20 fev) /ÁGUA NEGRA/ (Walter Salles, 2005)* 52

055. (20 fev) /ADORÁVEL JULIA/ (István Szabó, 2004)* 54 [antes, 72, SETENTA E DOIS e um dos 10 melhores filmes lançados no ano passado]

056. (20 fev) O ÚLTIMO MITTERRAND (Robert Guédiguian, 2005)* 59

057. (21 fev) PLATAFORMA (Jia Zhang-ke, 2000)* 53

058. (21 fev) GERAÇÃO ROUBADA (Phillip Noyce, 2002)* 49

059. (21 fev) LADO SELVAGEM (Sébastien Lifshitz, 2004)* 47

060. (21 fev) FELLINI: EU SOU UM GRANDE MENTIROSO (Damian Pettigrew, 2002)* 46

061. (22 fev) OS DESTINOS SENTIMENTAIS (Olivier Assayas, 2000)* 67

062. (22 fev) /ABC AFRICA/ (Abbas Kiarostami, 2001)* 44

063. (22 fev) /DEZ/ (Abbas Kiarostami, 2002)* 72 [1a. 73; 2a. 69] (comentário nos arquivos de agosto/05, número 231.)

064. (22 fev) BULLY (Larry Clark, 2001)* 66

065. (23 fev) TAURUS (Aleksandr Sokurov, 2001)* 40

066. (23 fev) NESTE MUNDO (Michael Winterbotton, 2002)* 35

067. (23 fev) BOLIVIA (Adrián Caetano, 2001)* 63

068. (23 fev) PASSAGEM AZUL (Yee Chin-yen, 2002)* 60

069. (24 fev) A MORTE NUM BEIJO (Robert Aldrich, 1955) 80

070. (24 fev) /A VIDA MARINHA COM STEVE ZISSOU/ (Wes Anderson, 2004)* 84 [1a./2a. 82; 3a. 84]

071. (24 fev) ABOUNA (Mahamat-Saleh Haroun, 2002)* 52

072. (24 fev) CARGA EXPLOSIVA 2 (Louis Leterrier, 2005) 55

073. (25 fev) MEMÓRIAS DO SAQUE (Fernando E. Solanas, 2004)* 49 (esqueçam a nota, ver esse filme, na verdade conseguir terminá-lo sem recordar rancorosamente - ou mesmo sem recordar até o presente momento, i.e. 1 dia depois - dos momentos que antecederam a minha sessão do filme seguinte do diretor - A DIGNIDADE DOS NINGUÉNS, muito bom - no festival do rio passado foi realmente uma prova de que as coisas realmente andam e você nem percebe que está deixando algo para trás. é triste mas abençoadamente extraordinário.)

074. (25 fev) /O CASTELO ANIMADO/ (Hayao Miyazaki, 2004)* 68 [1a. 74; 2a. e 3a. 71]

075. (26 fev) ANJO DA GUERRA (André Téchiné, 2003) 51

076. (26 fev) /TRÊS REIS/ (David O. Russel, 1999) 75

Intervencionismo americano em solo estrangeiro para garantir a consolidação de direitos humanos? Esse pode ser o ponto de chegada de TRÊS REIS mas a retórica de O. Russel é tão impecável que ele consegue acoplar nessa lógica mais um prego no caixão da política externa dos EUA.

Os soldados americanos decerto adquirem Consciência, mas ela surge tão sorrateiramente que dificilmente O. Russel transforma o processo em uma maturação irreversível: tudo gira entorno de circustâncias que fracassam retumbantemente e que pedem um desenlace que não poderia ser outro. TRÊS REIS tem o charme imprevisível do tudo-pode-acontecer, o que ainda dá margem para o filme trabalhar com a idéia sempre irresponsavelmente instigante de 'já estamos ferrados' [pausa reflexiva] 'agora não tem mais volta, dane-se tudo' [fazer o que?] e essa é a tal consciência. O 'outro lado' ganha voz somente porque o quarteto deu margem para isso, não só porque três deles são salvos pelos futuros refugiados, como também um deles é interrogado e torturado por soldados iraquianos (e futuramente salvo pelos futuros refugiados). No último caso, com a tortura de Mark Whalbergh, estruturada no óbvio silogismo - bombas americanas destruíram minha casa / você é americano / você destruiu minha casa - (ninguém espera racionalidade de tanta amargura, certo?), as coisas ficam irremediavelmente claras; nesse caso a consciência advém de se colocar no lugar do outro (ao invés de um flashback com a residência destruída do iraquiano, temos um no qual o americano pensa na hipótese de uma bomba cair em sua casa), mas mesmo isso guarda um râncido sentimento alarmante ao despertar propositalmente certa compaixão do algoz para sua condição de marido-e-pai, mesmo indiretamente (i.e.: ele se identifica, mas ele quer dar o fora dali o mais rápido possível). Com os outros três as circustâncias se assemelham mais com um trabalho de parceria com os refugiados, implicando portanto em obrigações, vistas ainda no contexto restrito da honra militar.

Mas não importa porque tudo é obviamente um acidente (o ponto de partida é um acidente! um mapa na bunda!) e as coisas se complicam a tal ponto que a missão de resgate do ouro kwaitiano de não-oficial e mercenária passa a ser oficial somente porque existe uma repórter transmitindo ao vivo todo o episódio (o que acaba também exonerando os quatro de qualquer culpa). Esse último detalhe é uma ratificação na-mosca do espetáculo midiático no qual acabou degenerando todo conflito armado pós-Guerra Fria. Saddam pode ser visto como um demônio até por suas tropas, mas esse é mais um questionamento incidioso de O. Russel que, ao invés de espelhar uma visão monocórdica preto-no-branco, nada mais é que a questão que assola o lado vencido 'por que entramos nessa guerra mesmo?' arremessada contra o líder da investida. E mesmo essa questão mal é respondida pelo exército americano, que sempre acaba por dar a mesma resposta mecânica: 'viemos aqui para libertar o kuwait.' seguidas por 'deus abençoe a américa' seguidas por garrafas quebradas, homem se divertindo no pula-pula, música alta.

O. Russel é mesmo criador das melhores farsas do mercado: são bolas de neve que passam do estágio A para o B para o C e sabe aqueles desenhos animados que uma açãozinha como acender uma vela é capaz de desencadear as coisas mais inimagináveis? Pois é, ele combina essa lógica absurda com temas que a aceitam sem problemas: desde as neuroses da árvore genealógica incerta de PROCURANDO ENCRENCA, até o existencialismo dialético new age de I HEART HUCKABEES, passando por TRÊS REIS, no qual evita que os absurdos da guerra caiam na vala da animosidade de instinto celebratório, só celebrando mesmo a incapacidade de se conformar quando as coisas são problemáticas para si, óbvio.

077. (28 fev) FOGUEIRA (Joseph Cedar, 2004) 59