sábado, julho 31, 2004

/história real/ (the straight story, david lynch, 1999) 74
/a marca da maldade/ (touch of evil, orson welles, 1958) 85

comentários vindo e mais um filme ainda hoje (dividido entre all that jazz, /o sol é para todos/ ou /pdl/)




sexta-feira, julho 30, 2004

ao romper do dia (om jag vänder mig om, björn runge, 2003) 16 [cartarse intelectual para björn runge, aparentemente: hedonismo --> moralismo + revelações instantâneas :: traições + arrependimentos :: 'se eu tivesse outra chance' + correria + 'você mentiu para mim durante 26 anos, se você fosse Pinóquio seu nariz alcançaria a Lua' {acreditem, isso é proferido} + 'Você me ama? Não tenho certeza' + carros derrapando no lamaçal + gritaria + choque elétrico 'capaz de fazer um boi dormir por três dias' + louças e outros objetos pontiagudos arremessados contra determinada pessoa + cimento nas janelas e portas :: desprezo niilista-fatalista + 'hoje não vou trabalhar, passarei a tarde com minha família' :: sabe, porque são essas coisas que importam, o resto é transitório + 'qual é o nome do seu namorado, filha? :: processo de intimidade progressiva com a filha adolescente + os três núcleos se cruzam em um... cruzamento de rua {ooh, misticismo!} + filho bate no pai mas os dois, chorando, acabam se abraçando, o segundo pede perdão ao primeiro, ele não responde apesar de permanecer engalfinhado nos braços paternos :: gestos "Dizem Mais" que palavras + pedreiro deixa a porta aberta quando sai e o casal recluso observa fascinado a luz do sol :: esperança + mulher chutada pelo marido por moça-mais-nova passa a compreender sua raiva :: perdão :: vida nova :: aparelho elétrico sem valia + algumas observações embaraçosas + outras constrangedoras = pronto, temos um filme!]

um lugar entre os vivos (une place parmi lês vivants, raoul ruiz, 2003) 46 [sub-woody allen, sartre básico - ser = escolher - etc. mas estranhamente fascinante apesar de sonolento, quadrado etc.]

ccbb, 30/08


quinta-feira, julho 29, 2004

Au hasard Balthazar (Robert Bresson, 1966)  57

Bresson parece endereçar como vidas que seguem em direções opostas revolvem ao redor das mesmas coisas, no entanto, isso soa vagamente como um 'filme de responsabilidade', enfocando a personalidade (vulnerabilidade - talvez a palavra-chave + solidão do indivíduo) girando em volta da vida em si e necessidades decorrentes sem que nunca esse sistema entre em equilíbrio. Existe uma certa atenção quanto ao processo de aprendizado multi-geracional (vide Primavera, et al.), visto como fútil e cíclico; e principalmente, grande parte da suposta força do filme advém da necessidade de se medir a crueldade, tratada como uma resposta amarga à mistura de orgulho e privações. No entanto, o 'mundano' de Balthazar me deixou indiferente; talvez sua incisão e eficiência provenham da lógica interna conflituosa dos personagens, sempre presos em alguma regra/princípio, e mesmo agindo em dissonância com tal 'normatização' ainda resguardam muito do recalque e angústia da não-libertação; e provavelmente dessa idéia, surge a sensação desagradável de responsabilidade transviada ou insensibilidade beirando o niilismo à nostalgia ou mudança. E, bem, alguns trechos viscerais (destaque para 'Não despreze minha lágrima' ou as circunstâncias que envolvem a perda e reconquista do burro pelo bêbado) se diluem dentro de composições formalistas e gélidas (O Processo de Joana D'Arc é semelhante nesse aspecto; no entanto, estamos falando de um processo, no qual esse 'realismo dardennês' sobrepõe circunstâncias à psicologia, tornando a confiança em 'outro mundo' muito mais palpável e intensa). O tom é de parábola sobre sina e dor, as circunstâncias envolvidas movem-se em areia movediça com ares de 'mas não poderia acontecer de qualquer outra forma', a protagonista Marie encerra uma ambigüidade sublime (dissolver vínculos passados potencializa a criação - descuidada - de novos; estes incentivam um regressismo ineficaz, contra o qual ela luta através do reforço desses novos vínculos etc.) e todo o fatalismo contido nela e no burro (desse último, o título faz menção: Ao Azar Balthazar) trazem ao jogo metáforas cristãs, mas sabe, o círculo completo da vida, obra e morte do burro é tão sistemático para maior apreciação, como um compêndio rigoroso de pequenos fracassos e fraquezas individuais etc. Talvez em uma revisão suba para 90-e-tantos, mas enfim, Bresson sempre consegue respostas conflitantes da minha pessoa, pena que não no sentido que gostaria. 

 

terça-feira, julho 27, 2004

o fundo do mar, damian szifron, 2003, cinema ccbb, (a)mostra com filmes do fic brasília, 41, expressão-chave: tempestade num copo d'água.

au hasard balthazar, robert bresson, 1966, cinema mason de france, mostra cinema e filosofia, 57, expressão-chave: burro expiatório.

 

 

 

segunda-feira, julho 26, 2004

/brilho eterno et al./   81

não ficou pior, todo o subtexto de kirsten dunst - e seu conhecimento tardio de como a felicidade com um segredo (i.e. paixão platônica pelo chefe) é mais satisfatória que uma 'felicidade' alienada na qual toda a base de sustentação para o revival desse sentimento foi destroçada - ficou muito mais atraente etc. Acho que eu só superestimei um cadin' (francamente, as cenas com Frodo são, sabe?), provavelmente porque veio logo após meninas malvadas. Mas enfim, tem nietzche, jon brion, e aquele clímax devastador na casa de praia a ser lembrado como a mais orgásmica cena do ano.

eu prometo que falo algo de MM e Cléo, mas antes devo comentar Balthazar e L'Avventura, vistos provavelmente amanhã.

domingo, julho 25, 2004

eu realmente detesto colocar as coisas em perspectivas insanamente unilaterais, mas é o seguinte: o número de visitas desse blog é pequeno, ainda menor diante das minhas ambições bigger than life, logo, isso é um sério, grave, comprometedor, fator de risco para a vida útil do mesmo. Porque sabem, eu estou prestes a entrar em desespero e colocar uma camisa de força no armário, em todos casos. Cheguei a um ponto no qual vejo constantemente coveiros com pás transitando pelos fotogramas mal conservados e amarelados pela exposição ao sol e à coca-cola da minha vida e temo pela segurança do conjunto. Acho que a petrobrás não vai querer restaurá-los, infelizmente, é o preço que se paga por morar em Niterói e não no RJ ou SP. Acho também que esse blog está com os dias contados, e esta semana pode ser a derradeira, portanto: CUIDADO!

Mas ainda há luz no fim do túnel, mais precisamente na página 74 do livro 'Momentos de Sabedoria': Diego escreve: "Nem toda sátira de universo adolescente tem que ser "carinhosa" como Patricinhas. Bah." Eu replico: "...nem beligerantemente escrota como MM." etc. e é nessa selvageria gramatical que eu quero me instalar. Que comece o bombardeio porque eu estou tão cansado dessa minha vidinha burguesa-maçante quanto Cléo, excetuando-se o fato de ser bem mais interessante e ambíguo que aquela mulher chick-flick-françoise.

ps 'revendo os seus conceitos': o crítico de cinema 'mais influente' do RJ (leia: o enviado à Cannes pelo estado), Jaime Biaggio é mais bacana do que um dia eu dei crédito. Desculpe, Jaime.

ps2: o curso da contracampo 'ateliê da imagem' (realmente não se poderia esperar nada menos rebuscado que 'ateliê', pelo menos é um passo anterior à 'oficina da modelação imagética') despertou em mim o interesse de criar um outro, provisoriamente entitulado de 'como passar do primeiro parágrafo nos textos de ruy gardnier sem engasgar com vocábulos como "fílmico" ou sem sofrer crises de auto-depreciação só porque não sabe bem o significado da palavra "cinefilia", ou pensa que sabe, mas é tão pobre, logo, incompatível com essa multiplicidade fertilizante do staff da dita'. Hmmm, alguém topa?

 

sábado, julho 24, 2004

brilho eterno:

reconhecer que os momentos de êxtase estão intrínsecos aos de agonia e danação é, resumidamente, o que brilho eterno se propõe a fazer. nos últimos momentos, joel e (oh, my darling) clementine valorizam sua intimidade cintilante ao ponto do provável desgaste da relação (evidenciado com o destino melancólico da primeira vez) se tornar quase insignificante. Ao abraçar a possibilidade de concretização da dor e perda, o casal também abraça seus instantes de felicidade. Eu, particularmente, não encaro o 'okay' da dupla como um novo lance de dados, no qual essa jogada simbolizaria uma nova chance para que o relacionamento não acabe com a ajuda prolífica de uma corporação ilegal; o filme pode até arranhar o tema 'segundas chances' mas, acima de tudo, aborda a valorização extremada, hiperbólica do compromisso firmado. até porque esse compromisso propiciou tantas mudanças de conceitos, possibilitou o desenvolvimento da noção de convivência, redesenhou toda uma vida. apagar os momentos terríveis é uma forma de deixar os maravilhosos à deriva; como categorizar algo em positivo ou negativo, se um desses componentes é inexistente? o desagradável condiciona o paladar aceitável para degustar o êxtase. logo, essa dependência dos extremos se encaixa não só na percepção de estados de espírito como também dentro do compromisso, com duas personalidades absolutamente díspares fazendo concessões e fechando os olhos para atitudes do outro. ou seja, brilho eterno é uma ode à percepção do compromisso. e me deixou inebriado de forma parecida, ainda que menos intensamente, com minha reação a embriagado de amor ou amor à flor da pele.

90 


sexta-feira, julho 23, 2004

3 filmes hoje:

cléo das 5 às 7 - 57 (sério) - dvd, cabine individual, ccbb-rj - mentira deslavada: cléo das 5 às 6 e meia. bem, da minha parte foi de 1 às 2 e meia da tarde, e não foi um rendez-vous particularmente íntimo ou revelatório etc., me pareceu mais um esbarrão.

meninas malvadas - 36 - estação icaraí - aproveitamento 100%: uma cena, um embaraço. o típico filme no qual é inexistente a convivência do desprezo travestido de sarcasmo com a compaixão (exatamente o contrário de patricinhas de bh). Nota: cotação influenciada - positivamente - pela libido.

brilho eterno de uma mente sem lembranças - 90 - estação icaraí - porque ctrl + alt + del apaga não só o seu texto, mas também o tempo que você dedicou a sua feitura, os minutos que você deixou de passar com a família, o arcabouço lógico utilizado, suas memórias que irromperam bruscamente em busca de um espaço na sintaxe, sua fluência e um pedaço da sua verdade. 

 


!!!

JESUS CRISTO, A GRANDE TESTEMUNHA, AKA O FILME DO BURRINHO DIRIGIDO POR ROBERT BRESSON, PASSA NO MAISON DE FRANCE (NÃO ME PERGUNTEM ONDE É) NESTA TERÇA-FEIRA. PROVAVELMENTE A MELHOR NOTÍCIA DO ANO ETC. Nota: se eu vou, aí já é outra história.

 
E Eternal Sunshine of the Spotless Mind é, desde já, dono do mais belo título do ano. Provavelmente a versão cinematográfica de "Emoções", do Rei Roberto Carlos (...se chorei ou se sofri, o importante é que emoções eu vivi...). Nota: eu gosto de RC.

 
VIVA BALTHAZAR! VIVA!

 
Adendo: estou confeccionando (gasp) uma tese de 2 laudas (sic) sobre Ladrão de Alcova/Trouble in Paradise, de Lubitsch, a partir de um texto do qual fiz fichamento entitulado "A duplicidade da cultura brasileira" (de Luiz E. Soares), e acreditem, as relações de poder hierarquizadas e individualizadas nacionais é o que há no dito. E aliás, TiP é sublime, sou devoto ardoroso do filme.

 

quarta-feira, julho 21, 2004

BERLIM FICA NA ALEMANHA

44 (comeback triunfal, como o final de Sunset Blvd. excetuando a ironia desconcertante)

Genérico Gênero do Recomeçando Após 11 Anos De Reclusão (Como O Termo Prisão É Conhecido Em Celulóide) Em Uma Alemanha Completamente Reformulada Política-Socialmente Devido A-Craseado Queda Do Muro De Berlim. Chega, é cansativo (e não muito recompensador) fazer essas maiúsculas alegóricas; na pior acepção, claro. É, um homem-qualquer é preso (homicídio doloso Sem Querer, sabem? "Eu não medi a minha força, Autoridade!"), -- 11 Anos Depois -- liberto, encontra todas as suas referências apagadas e sua família anterior desemembrada (leia: sem lugar para o dito), daí encontra seus amigos de cela, uns caras chatos freqüentadores assíduos de bares, se hospeda em uma sex shop/ponto de drogas (= péssimo para a condicional), tem o apoio da (ex-)mulher (não aqueeeele, entretanto) mas seu atual namorado/parceiro/marido/ficante sente que sua posição de Rei do Lar está ameaçada e ele faz Maldades Injustas e Inconseqüentes com nosso protagonista, que sofre, lima, teima, sua como naquele poema parnasiano. Ah, ele luta também para conquistar o amor do filho etc. Agora, existe uma metáfora (geralmente a genuína mão na roda desse tipo de produção) instigante (talvez porque seja colocada ao lado do conjunto pálido, inodoro, enfim, características da água): a licença para dirigir um taxi como via de controle manual do novo e limitado cotidiano, percorrendo itinerários desconhecidos formalmente, já que os nomes das ruas/avenidas se modificaram, mas não geograficamente (memória visual etc.), uma fagulha de intimidade e contato com a vida anterior.

 

terça-feira, julho 20, 2004

estou em aula, mais especificamente em provas/trabalhos/fichamentos. Logo, sem filmes, sem comentários, mas, enfim, comprei ALL THAT JAZZ por 20 e a melhor notícia é provavelmente (além de DEZ nas locadoras, aliás, o filme 'perde' algo se visto numa tv em full?) a volta triunfal de Tiago Superoito ao mundo da internet e não basta fazer propaganda, site com fluência que não se vê em lugar algum. E, nas férias, devo criar um nos moldes pra mim etc.
 
tiago8.sites.uol
 
 

sábado, julho 17, 2004

Drugstore Cowboy 
 
Grande parte de sua beleza reside no conforto e bem-estar social proporcionados pelas drogas àquela família, que provavelmente veio a se unir nos becos underground de Portland (a terra natal de baaab, aliás). Essas 'nocivas substâncias alucinógenas', segundo o Ministério da Saúde de qualquer país pertencente à ONU, os unificou e os mantêm presos a uma estrutura circular, mostrada com fluência nos métodos nada ortodoxos e altamente bizarros utilizados em sua obtenção. Pode-se dizer até que os personagens estão em confluência (excetuando-se algumas rusgas ocasionais de 'controle da demanda') justamente quando a adrenalina da fuga corre em suas veias e a recompensa é compartilhada com senso de justiça e sobriedade incalculáveis. Pena que no processo de desintoxicação do protagonista as coisas desandem de modo, francamente, grotesco. Claro que o filme ganha pontos quando Dillon não busca o dinheiro da mãe como via prática e vai à luta sozinho etc. mas perde outros tantos quando a equação hedonismo + renovação equivale às ramificações das besteiras passadas agrupadas em um bote certeiro. O diálogo final entre antigos cúmplices carega boas doses de saudosismo e desencanto, mas van Sant corrompe a aura de 'escolhas diferentes = afastamento' quando revela que ela está, agora, ao lado de um dos fornecedores/compradores antigos dele, uma espécie de rival bobalhão-mas-perigoso (a ironia!). Isso porque a emenda é ainda pior que o soneto: esse 'rival' espanca/tortura Dillon como troco pelas 'humilhações sofridas', 'danos irreparáveis a sua imagem de durão' etc., algo como 'aqui se faz, aqui se paga', 'pague o preço para recobrar a dignidade', i.e. uma crônica de Paulo Coelho com subtexto auto-reconciliatório etc. Lamentável. Pelo menos não é tão hipócrita, débil e inócuo quanto Réquiem para um Sonho, mas como/quem/em qual circunstância poderia?
 
 
 
Últimos Filmes Vistos:
 
- De Cabelo em Pé: pro
 
- A Profecia dos Sapos: mixed
 
- Eternamente Sua:  pendendo revisão, PRO- provavelmente (uma palavra: DIGRESSÃO)
 
O Anima Mundi foi um barato.
 
 

sábado, julho 10, 2004

Considerações sobre a magnífica cena do disque-sexo de Punch-Drunk Love:

(não, eu ainda não falei dela nas prévias vinte mensagens sobre o dito; sim, eu o assisti novamente hoje e, mamma mia, #1 etc.)

O apartamento de Barry é obviamente impessoal de tão clean e funcional (ver: luz do quarto é apagada ao se bater as mãos; mesa de jantar com todo o 'aparato técnico' já disponível [o forro do prato, saleiro etc.] só faltando o prato, talheres, copo e a comida congelada, provavelmente o frango teriyaki de $1,79), burocrática é também a atendente do 'serviço via fone' questionando a respeito de todos os aspectos que fazem de Barry um cidadão exemplar (seguro social, número do cartão de crédito e validade, endereço e telefone para contato). Essa intromissão é severamente confrontada com as intenções de Barry ('Você Está Preparado Para Um Caso Íntimo? Encontre o Amor! Fale ao Vivo!' diz o anúncio, verdadeiro golpe publicitário aos ingênuos out-of-system freaks), afinal, ele só quer falar com uma garota qualquer, sem nenhum atributo físico que sobreponha uma a outra em contexto parecido. Barry fecha as persianas como se acreditasse na verossimilhança do enredo de Janela Indiscreta e, pior, de modo a endossar rigorosamente a parte culposa de recorrer ao 'sistema' para satisfazer suas necessidades mais básicas (talvez o embaraçoso encontro com Lena - ela deixa o carro estacionado ao lado da loja de Barry - testemunhe a favor de seu rompante). Da mesma maneira, observa desconfiado pelo olho mágico da porta, acreditando que vizinhos xeretas são problemas recorrentes dos neurastênicos de plantão; assegura-se que a mesma está devidamente trancada (pessoas possuem chaves-inglesa em suas caixas de ferramentas!) etc. Bizarro é a permanência da televisão ligada em um noticiário genérico. Não seria um estepe válido caso o elemento constrangedor irrompa via fone? Algo como a segura tecnologia da TV validando o caos instalado no telefone? E é basicamente isso que recebemos pelos próximos minutos. As expectativas de Barry são altas. Observe que após resolver a parcela pouco orgásmica dessa conversa, discutindo o preço do serviço dentre outras amenidades, ele espera o retorno da ligação, desta vez, com a tão desejada companhia feminina. Ele se acomoda - com o telefone em mãos - em uma das seis cadeiras de sua - pouco usada - mesa de jantar, exatamente no extremo oposto de onde ele, regularmente, ingere sua comida-microondas-isopor. Essa composição de plano é fabulosa (nota: os filmes de PTA oferecem as melhores lições práticas quanto à 'Essa Cena Não Poderia Ter Sido Feita de Outra Maneira Pois Apresenta Composições Esteticamente Sublimes'): momentânea esperança de que aquela ligação traga coragem para posteriores declarações a alguma pessoa (não especificamente Lena, pois apenas um encontro, desastroso, ocorreu) ou apenas alguém compartilhando com ele um futuro delicioso pudim da Healthy Choice e posteriormente, uma aliança. Ele pede para a recepcionista conferir para si a alcunha de Jack, de modo que a garota não saiba seu nome verdadeiro. Essa estranha manifestação pró-impessoalidade vai brutalmente de encontro aos objetivos calorosos de Barry. Talvez ele acredite que a simples menção de seu nome pela sexy-girl impedirá que ele aja naturalmente (minutos antes, em uma conversa impregnada por um autoritarismo de benignas intenções com sua irmã, ele declara que se a mesma trouxer para uma festinha de família sua amiga de trabalho [Lena], ele 'agirá como outra pessoa') já que, convenhamos, ele não conhece a pessoa do outro lado da linha assim como desconhece todos ao redor (lembre do belíssimo diálogo: 'Eu não sei se há algo de errado comigo porque não sei como as pessoas são.'). O processo de conquista da confiança é dolorosamente recompensador. Barry pergunta para a garota (chamada Georgia Peach) de onde ela fala. Ela responde: 'da cama'. Ele replica: 'não, de que estado?'. Ela: 'Califórnia, assim como você. Vamos marcar um encontro?' Ele (pensando): 'encontro? Já?'. Quando ela questiona Barry se caso ele quer saber como sua interlocutora é, fisicamente; primeiramente ele revela não se importar (certo, a aparência não é importante, afinal ele não vê a cor desde seu nascimento). Mas segundos depois ele diz que não tem como checar se as informações passadas por ela são verdadeiras (= processo de confiança mútua instável). Mais adiante, Georgia Peach indaga a respeito de seu aspecto físico. Barry declina com um ligeiro 'não importa...'. Em menos de um minuto, PTA revela que Barry: a) funciona apenas em condições favoráveis de 'segurança' (i.e.: confiança); b) o 'contato físico' dele com Peach apenas se estabelece através do 'áudio' e não do 'audiovisual', não há motivos para tranformá-lo em algo maior [nesse momento], ainda mais quando Barry se sente um covarde limitado como no momento (ver rituais de 'vedação' do apto.). As várias verificações de Georgia quanto ao estado, inflado ou não, do pênis de Barry são 'quebradas' com insinuações das mais inocentes proferidas por ele (ela: 'o que você está fazendo?', ele: 'falando com você.'). Na minha opinião, o que mais me deixa ouriçado/fascinado/deslumbrado quando assisto PDL outra vez é essa alocação bizarra do que é tipicamente pessoal e do que é 'apresentável socialmente' categorizada por Barry. Ele confere todas as suas informações pessoais à atendente, diz que tem uma micro-empresa para Georgia etc. mas não permite que seu nome seja revelado para a pessoa que terá maior contato (Georgia), enquanto a recepcionista do sistema tem livre acesso ao mesmo, afinal, nenhuma intimidade será compartilhada com ela, apenas os usuais dados burocráticos que nos fazem legítimos a esse mundo. Barry, para a atendente, é pura estatística, mais um dentre tantos pervertidos, buscando um alienado sexo virtual; mas essa imagem não pode, em hipótese alguma, ser passada para Georgia, ele quer os olhos da garota mirando-o como um notívago solitário em busca de afeto nos braços (/no papo) de estranhos. Enquanto Barry se masturba (provável confiança plena), a TV (aka: o estepe) desliga automaticamente e o abajur aparece, pela primeira vez em cena, inclinado (aka: tecnologia < interação entre humanóides = você fala com a pessoa, o fone é apenas o meio de contato e não a materialização do interlocutor). Pérola da reticência é descobrir que Georgia e Barry conversaram sobre o aluguel do apartamento da garota nesse mesmo telefonema. PTA preferiu encobrir o rumo posterior das coisas pós-masturbação a fim de declarar que no dia seguinte, como um 'bom dia' da amada via fone, não pessoalmente (e isso realmente acontece, Georgia diz que ligou para dar 'bom dia' para o acompanhante da noite passada), um intercâmbio de coisas secretas ocorreu por aquelas bandas. Nós apenas sabemos que laços foram estreitados, o que é ainda mais íntimo quando da ejaculação somos levados à novas palavras e não ao fim da ligação. Se 'Escrever é cortar palavras', filmar é [ligue os pontos]...

... Daí surge o aspecto contraventor/ilegal do disque-sexo, e Barry, impulsionado por Lena, veste o terno azul do super-herói, lutando a favor do mundo que lhe deu paz, amor e, sobretudo, (auto-)confiança.

PRO+

quinta-feira, julho 08, 2004

Beijo



a primeira metade de Eternamente Sua (para os de bom senso, Blissfully Yours) é fabulosa.

quarta-feira, julho 07, 2004

então, meus planos amadores para hoje, dia 7.7.04 se concretizaram:

coments rapidos.

drugstore cowboy - ccbb - mixed+ [os últimos 30' coming clean c/ ramificaçoes das besteiras do passado sao... mediocres. O resto do filme não (grandes 3 min: a saida do quarteto de Portland pro interior de Ohio, lindo)

respiro - paço - mixed+ [sensiblidade amarcordiana notavel mas ligeiro demais, conciliatorio demais etc.]

anik bobó - mixed+ [velha nostalgia infantil que usa e abusa dos metodos menos nostalgicos imo. E alguem coloque legendas nesse filme, por favor? Obrigado etc.]





segunda-feira, julho 05, 2004

A partir desse instante decisivo (tesoura para cortar a fita, sr. contra-regra), em posts semanais, revelarei mais sobre minha pessoa (com a discrição usual) e do meu mundinho limitado a constantes itinerários circulares pelo umbigo etc. Então...

... Meu nome completo, segundo a cópia do registro autenticado e os berros do meu pai* clamando pela presença do meu futuramente flagelado organismo pluricelular é... Guilherme Semionato Silva Alves.

* = não é verdade, ele, quando nervoso, ou seja, em vida, me chama de Guilherme, Guigo ou Gui. O número de letras associadas ao nome é diretamente proporcional ao seu humor (nota: negativamente falando) no calor do momento.

Breve, mais revelações transcendentais.

sexta-feira, julho 02, 2004

Plano de Ação de um Amador:

- Quarta, dentro da programação Antes da Fama do CCBB, Drugstore Cowboy, Maus Hábitos e o primeiro filme do Manuel (da padaria?)* de Oliveira. Provavelmente devo pular o de Almodóvar para correr loucamente até o Estação Paço e ver Respiro (e voltar loucamente para a sessão do portuga). E... voltar loucamente para casa, não sem antes correr (loucamente) um sério risco de vida.

- ANIMA MUNDI a partir do dia 9 (o dia 13 será con$umido no CCBB e dia 16, pa$$ado no OdeonBr; entrem aqui). Pena que a lista de longa-metragens não me pareceu muito apetitosa, apesar de dois serem imperdíveis (o subvê Hair High & o francês La Prophetie des Grenouilles).

- Dez e O Pântano, (possivelmente, o preview dos próximos lançamentos parece redigido por uma clarividente fajuta com o máximo de vontade de dar água na boca nos cinéfilos com a barba por fazer de Botafogo. Conto do Vigário etc.) dia 16. A nova brincadeira geométrica de Kauffman (imo, tudo é uma questão de geometria em BJM & Adaptação., inclusive a progressão do desejo --> fatalismo é controlada racionalmente, já que o fatalismo gera mais insatisfação e não uma resolução para os conflitos pendentes; brilhante, adoro ambos) e o barulhento doc. do relações-pública MM, dia 23. E, segundo fontes americanas confiáveis, Mean Girls & Confessions of a Teenage Drama Queen são interessantes, melhor ainda se assistidos com Lizzie McGuire - (sic.) Um Sonho Popstar (em agosto nas Blockbusters da vida).


* sinto muito estar expondo meus leitores a isso, mas não é sempre que estou afiado e mordaz, na maioria das vezes meu célebre cérebro trabalha como um órgão a parte (Durkheim não poderia ficar mais desapontado etc.) do conjunto motor. Como um crossover biológico entre (gasp) o Mal de Alzheimer e (cof) o de Parkinson. Jesus Cristo de Minh' Alma.

...


01/07 Fala Tu | mixed [sociologicamente apático {rap = via de conscientização: livre-arbítrio para escolher o bem ou o mal}]

02/07 Roger Dodger | pro- [muito bom. bom. bom. bom. muito bom. muito bom. bom. hmmmm, bom. ughhh bom,... ughhh. UGHHH]

w/o /L.A. Confidential/ [sem tempo para terminá-lo, excelente até os 40'; atmosférico, ambigüidade sublime {Pearce quer ascender na carreira para honrar a memória de seu pai ou a fim de superar algum entrave passado entre ambos, como em uma competição com um membro fora da rodada; Spacey é consultor técnico de um seriado policial de TV e coloca em prática a mesma destreza, só que de uma outra perspectiva - 'propaganda' dos corretos valores da força policial cf. com pactos clandestinos e obscuros -, ao sustentar o mundo- holofote da Mídia, garantindo as manchetes de DeVito} etc.]