quarta-feira, outubro 20, 2004

SER E TER, que merecidamente ganhou alguma atenção (se interessar, clique nos arquivos de junho), entrou no rol dos filmes revistos que não se agüentam em pé e se ajoelham desesperados diante da minha hostilidade implacável. Define basicamente o que é cinema contemplativo, de troca e recepção (as crianças aceitando o ambiente coletivo; o professor recepcionando os mini-calouros; os alunos mais velhos migrando para escolas de ensino médio; os espectadores completamente desnorteados com a tranqüilidade ensurdecedora que reina na província em questão) e admitidamente é um doc. cuja fonte essencial de criação de 'conflitos' (desde os minúsculos com pequenas rusgas entre colegas até as Grandes Questões com doenças que fazem parte do caminho e comportamento bicho-do-mato que será amolecido com a maturidade) se esgota, ou pelo menos deixa de soar orgânica para ecoar algum tipo de progressão muito bem pensada da cronologia, desde as inserções prosaicas (ordenhamento de vacas, cães pastores no jardim) até as estações do ano passando lentamente entremeadas com desenhos, matemática primária, empurrões e gramática. E o charme foi reduzido a metade, o filme estava vivo na mente durante a sessão, logo todos os rompantes já eram esperados e essa espontaneidade natural do doc. travou diante de cenas como a do background informativo do professor, deslocada ao extremo, tentando colocá-lo ao nível terreno (infância pobre, pai estivador) enquanto anteriormente tínhamos um ser humano envolto em abstração, guardando semelhança com um enviado de uma sociedade evoluída tamanha paciência, entusiasmo e louvável capacidade de ouvir; agora temos um homem feito, o qual leciona mas cuja profissão pode ter sido escolhida ao acaso e não por meio de uma predestinação agostiniana etc., ou seja praticidade do real > abstração da aura. Então, você conecta os pontos, faz com mão trêmula a linha reta: progressão bem pensada---------------------filme revisto. Enfim, ainda gosto do dito, a cena final é deslumbrante (a título de curiosidade: o mestre observa seus alunos saindo pelo portão da escola pela última vez naquele ano = recesso) e tem um pequeno diálogo envolvendo a criança mais quero-morder-a-bochecha e o professor: a classe fala sobre suas futuras profissões e pipocam aqui e ali 'quero ser professor(a)', daí quando ele pergunta às crianças o que exatamente um professor faz, esse menino acima citado diz categoricamente: 'eles escutam.' (63)

Lição do Dia: não reveja filmes em um espaço menor que 6 meses.


obs: olhando a progressão dos filmes vistos devo adicionar dois que não constam, devido ao frenesi do festival, vistos um dia antes da maratona começar (i.e. 23/09), são eles:

/Longe do Paraíso/ 60 (dvd, sala de projeção, iacs)

O Buraco (Tsai Ming-liang, não o que se encontra na estante 19, prateleiras 4, 5 e 6 da Blockbuster) 78 (cine arte UFF)


* comentários em breve (sei), Longe do Paraíso já passou pelo meu crivo, clique nos arquivos de março (096).

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