domingo, fevereiro 04, 2007

FEVEREIRO (últimos: CARTAS DE IWO JIMA etc.)

023. (01 fev) /SE7EN/ (David Fincher, 1995) 72
[que ninguém reclame da prodigiosa uniformidade na caracterização. morgan freeman quer apenas um banco para descansar suas pernas cansadas do início ao fim. sua apatia é quebrada apenas com o jantar na casa do parceiro -- ao qual ele aceita mais pela alegria que tira em ser a pedra no sapato de brad pitt do que por cortesia -- e na exposição daquele velho olhar desencantado perante o mundo na lanchonete numa cena que começa justificadamente bamba e termina absolutamente seguríssima: freeman impulsionando o aborto do filho há anos é tanto a razão pela qual ele mantém sua convicção negativista e o motivo pelo qual ele precisa continuar crendo nela. ele diz que sabe que fez a coisa certa, que colocar filho nesse mundo-de-meu-deus é irracional, e ao mesmo tempo queria ter tomado decisão divergente. esse não é o típico chato-de-galochas siga-o-procedimento workaholic melancólico velhote. ele é tudo isso mesmo, mas as circunstâncias que o cercam o colocam em outro patamar, sua visão de mundo que sempre me irrita é tão artificialmente alimentada que até um acontecimento jogado-ao-léu no esquema trauma-do-passado é competente o suficiente. no pólo oposto, brad pitt é destemido, intrépido e injeta o fôlego de galã sem-esforço na completa aversão pelo trabalho burocrático de delegacia e pesquisa de campo. na batida da dupla à casa do criminoso é ele o autor dos pa-pous e chutes na porta e é ele que leva a pancada na cabeça e é auxiliado pelo nada suado freeman etc. até mesmo na cena final, pitt pergunta "o que tem na caixa?" como uma criança manhosa. e por falar nos últimos minutos, eles tem a força de um painel desnudado, de um esquema desvendado, e não exatamente de uma obra concluída. desde a cena um, o filme parece já seguir aquela trajetória com a tal promessa de "7 crimes, um para cada pecado capital" e você só espera tudo se desacortinar na sua frente. as peças se encaixando no final e a possibilidade do último crime são cartas tão marcadas que parte da surpresa se esvai e é direcionada para algo muito mais proveitoso. a conversa entre spacey e freeman não apenas confronta os métodos lunáticos de um com os hábitos taciturnos do outro mas também promove conforto: os planos totalitários de spacey encontram certa correspondência e facilmente corroboram o desencanto e o merecimento do descanso dos justos para freeman.]

024. (03 fev) /PULP FICTION/ (Quentin Tarantino, 1994) 75

025. (04 fev) /MISTÉRIOS DA CARNE/ (Gregg Araki, 2004) 72 [originalmente: 68]

026. (05 fev) THIN (Lauren Greenfield, 2006) 71

027. (07 fev) O LABIRINTO DO FAUNO (Guillermo del Toro, 2006)* 55

028. (07 fev) BABEL (Alejandro González Iñárritu, 2006)* 31

029. (07 fev) PERFUME - A HISTÓRIA DE UM ASSASSINO (Tom Tykwer, 2006)* 54

030. (09 fev) VAMOS NESSA (Doug Liman, 1999) 66

031. (11 fev) /EMBRIAGADO DE AMOR/ (Paul Thomas Anderson, 2002) 100
[o que a obrigatória revisão anual do tal filme lá-do-topo nos traz de novo? tá-dá! absolutamente nada e, enquanto a sensação de realmente ter secado os detalhes deixa marcas, muito mais importante é o senso contínuo de reavaliação, que PDL permite, finalmente colocado em movimento. de algum modo eu poderia estabelecer no filme o meu marco regulatório e, não mais meu marco zero. eu sei dos momentos que eu geralmente rio, eu sou ciente das cenas que me fazem contorcer de felicidade, eu já tenho anotados mentalmente alguns problemas (dois: barry saindo de seu escritório e dando com a cara na porta = rendição: um filme com adam sandler; os dois minutos gastos com os bastidores do negócio corrupto do disque-sexo tiram parte da estranheza já inerente ao confronto final) e eu sei dos detalhes descobertos há poucas assistidas (o último foi georgia peach identificando o interlocutor como 'barry' mesmo, esquecendo-se do pedido dele por um pseudônimo, o que não só estabelece o aspecto fraudulento do sistema como também a não-percepção a escorregada dela por barry só relembra que sua ânsia por reciprocidade é superior à sua atenção aos procedimentos-padrão). a partir de agora a obsessão em coletar novas coisinhas cede passagem a um guilherme trazendo novas coisas ao filme a cada ano e respondendo de modos diferentes a algo já imortalizado. 'imortalizado' não é 'mumificado' e PDL sempre terá o mesmo frescor rico, esquisito e surpreendente. agora deixe-me contar porque eu caio de quatro por esse filme: é o technicolor do trabalho de arte lava-lamp alucinado de jeremy blake, é o p&b expressionista sinistro da perseguição de barry pelos quatro irmãos culminando num maleável barry se esborrachando no chão. é o tom screwball do caos controlado, com a empilhadeira derrubando caixas, é o sentimento anti-faroeste com o grande vilão num prosaico corte de cabelo (detonando qualquer tracejado bocejante de "este é o homem para temer" antes do duelo final) surpreendido por um anti-shane, o herói que encontra forças no amor e nas raízes (barry magneticamente orientado nos corredores do prédio de lena, cf. um confuso barry desorientado no mesmo edifício cenas atrás) e o que esse herói azulado exige do barbudo mascarado é apenas reciprocidade ("i'd say 'that's that' mattress man"). é lena, no interfone, explicitando que não importa onde quer que ele vá ou o que quer que vá fazer agora, ela quer comunicá-lo que gostaria de tê-lo beijado "just then" & é barry no telefone público havaiano esnobando a coleira da irmã e colocando o filme em outro ritmo, sereno e contemplativo contraposta à cena nervosa do disque-sexo. é tecnologia, é promoção por tempo limitado, são letrinhas pequenas, é convite irrefutável ("are you ready for an intimate affair?" no anúnico do disque-sexo, levado ao pé da letra), é apartamento com a persiana cerrada para privacidade, é empreendorismo com um self-made man querendo "diversificar" seus negócios, é cancelamento de cartão de crédito, é uma ida à oficina de carros e outra a um restaurante, acessos de raiva, festa de aniversário ("nós já temos bolo"), é um fim de semana numa ilha, são acidentes de carro, é um pronto-socorro e são aquelas cenas imediatamente deslumbrantes. é sissy, uma mulher do trio ladies k, na sua performance para "waikiki". é a câmera acompanhando sua dança e, quando ela estende os braços, a câmera num leve chicote se dirige ao nosso casal, os quais tem o silêncio interrompido quando lena diz "você veio. você veio e me tirou do quarto". (...) e eles voltam ao quarto para a cena de rendição mais adorável do mundo - a dos olhos mastigados e das bochechas marteladas - provando o diálogo dela como um instante de guarda-baixa, uma metonímia parte (quarto de hotel) pelo todo (enclausuramento, solidão). mas absolutamente nada se compara aos segundos mais iluminados que eu já testemunhei na vida: são aqueles quando lena chega ao saguão do hotel para o encontro com barry no havaí: ela surge e começa a subir os lances da escada mas sua primeira aparição é interrompida por um corte que a reposiciona fora do quadro e, na nova tomada, ela surge novamente, repetindo sua entrada triunfal, antes interrompida. sendo as duas tomadas partes do ponto-de-vista de barry, é de se supor que a chegada de lena é como uma miragem, barry fecha os olhos e recebe a confirmação de sua Presença logo depois que os volta a arregalar. pena que as pessoas geralmente só se recordam dos instantes que vêm logo depois, com barry e lena se beijando subexpostos e a multidão passando com a praia ensolarada ao fundo. enfim, fã é fã.]

032. (11 fev) FALLING ANGELS (Scott Smith, 2003) 40

033. (12 fev) /DUAS GAROTAS ROMÂNTICAS/ (Jacques Demy, 1967) 81 [originalmente: 86]

034. (12 fev) eXistenZ (David Cronenberg, 1999) 73

035. (13 fev) A CONQUISTA DA HONRA (Clint Eastwood, 2006)* 64

036. (13 fev) DEJA VU (Tony Scott, 2006)* 51

037. (15 fev) O ÚLTIMO VERÃO (Frank Perry, 1969) 67

038. (15 fev) A VIDA É TUDO O QUE TEMOS (Wolfgang Becker, 1997) 54

039. (16 fev) 13 TZAMETI (Géla Babluani, 2005) 47

040. (16 fev) /O DORMINHOCO/ (Woody Allen, 1973) 74

041. (17 fev) /ZELIG/ (Woody Allen, 1983) 68

042. (21 fev) UMA ADOLESCENTE DE VERDADE (Catherine Breillat, 1976)* 50

043. (21 fev) DJOMEH (Hassan Yektapanah, 2000)* 63

044. (21 fev) ELEIÇÃO (Johnnie To, 2005)* 62

045. (22 fev) LES BONNES FEMMES (Claude Chabrol, 1960) 71

046. (22 fev) RÁPIDO E INDOLOR (Fatih Akin, 1998) 49

047. (24 fev) EM JULHO (Fatih Akin, 2000) 41

048. (24 fev) /I ♥ HUCKABEES/ (David O. Russel, 2004) 85

049. (25 fev) O RAIO VERDE (Eric Rohmer, 1986) 78

050. (26 fev) ANATOMIA DE UM CRIME (Otto Preminger, 1959) 91

051. (26 fev) DIAS DE GLÓRIA (Rachid Bouchareb, 2006)* 51

052. (27 fev) ABRE LOS OJOS (Alejandro Amenábar, 1997) 70

053. (27 fev) /CORAÇÃO SELVAGEM/ (David Lynch, 1990) 80

054. (27 fev) /CLUBE DA LUTA/ (David Fincher, 1999) 73

055. (28 fev) CARTAS DE IWO JIMA (Clint Eastwood, 2006)* 55

056. (28 fev) A RAINHA (Stephen Frears, 2006)* 69

057. (28 fev) CHRISTINE (John Carpenter, 1983) 56