domingo, dezembro 03, 2006

DEZEMBRO (fechado)

223. (02 dez) A PRAIRIE HOME COMPANION (Robert Altman, 2006)* **

224. (02 dez) /A VIDA MARINHA COM STEVE ZISSOU/ (Wes Anderson, 2004) ****1/2 [última revisão: 84]

225. (08 dez) A WOMAN UNDER THE INFLUENCE (John Cassavetes, 1974)* ****

226. (08 dez) THE KILLING OF A CHINESE BOOKIE (John Cassavetes, 1976)* **1/2

227. (11 dez) /A ESQUIVA/ (Abdel Kechiche, 2003)* ****1/2 [originalmente: 78]

228. (12 dez) O CÉU DE SUELY (Karim Ainouz, 2006)* *1/2 (concomitantemente metódico e melindroso e, talvez por isso, qualquer tentativa de transcendência, isto é: placidez, soa flácida e despropositada. os profundamente sentidos acordes de guitarra não vão me conquistar, assim como: tentativas de impulsionar a cor local nordestina baseada no ó-que-diferente [pessoas abrem a geladeira para um refresco]; câmera melancolicamente fora-de-foco pegando os pequenos pontos de luz e estourando-os; estradas empoeiradas delimitadas pela pastagem verdejante; rodoviária incentivadora do descontentamento alheio ["qual é o lugar mais longe que você pode me levar?"]; vendinhas cheias de ovos e havaianas; meninos jogando bola na pracinha comunitária; posto de gasolina abastecendo hedonismo desenfreado; sexo animalesco como escape da banalidade do cotidiano; troca de nome = troca de identidade = esforço inútil de não-existência: "eu não sou puta. eu não quero ser nada."; amigo da moto azul que diz coisas como "que merda de controle remoto" no motel; experiências girls-just-wanna-have-fun envolvendo acetona nos relembra que a protagonista é só uma garotinha de 21 anos; atenção para a ambiguidade! rifar o corpo é ter o corpo sob controle, i.e. decidir sobre o destino de algo nessa vida; nossa heroína é agredida pela avó, pelo açougueiro negro e pela sogra de um comprador da rifa seguidamente, e no entanto, ela continua seguindo em frente; cenas mulher-de-fibra com passeios noturnos sem rumo, fumando um cigarro deitada na frente de casa; A: "que tal se a gente colocar uma singela refeição como o contato final entre a protag. e demais familiares? seria discreto, veja só, a conversa simplesmente abordaria a macarronada, se está com sal na medida certa etc. daí quando a protag. elogiar o prato seria como uma mini-epifania, como um obrigadoportudoteamoparasempre." B: "sim, será tão discreto que ninguém irá notar que esse tipo de reconciliação que não parece reconciliação está completamente desgastado." A: "e vamos também surpreender a platéia suspendendo o desfecho durante intermináveis segundos, daí todo mundo pensa que nós só estamos estendendo a coisa para ceder espaço para os tão-badalados tempos mortos com ruídos naturais, pássaros gemendo, vento uivando, nada acontecendo. daí a gente surpreende e só encerra o filme quando a moto azul simbólica voltar para a cidade. daí a gente fecha o filme com créditos num fundo azul simbólico. B: "azul é uma cor plácida.")

229. (12 dez) VIOLENCE DES ÉCHANGES EN MILIEU TEMPÉRÉ (Jean-Marc Moutout, 2003)* *** (bastante engenhoso nos pequenos detalhes - como na cena em que o patriarca executivo ocupado está no celular numa loja de conveniência e liga para o filho com um boneco na mão e pergunta para o protag. qual o nome do produto, daí ele pergunta ao garoto se ele já tem o tal boneco - e um tanto óbvio em outros, como na cena final, privilegiando a informação de que o protag. arranjou uma nova mulher, ao invés de nos deixar no escuro quanto à identidade da moça visto que ela poderia ser apenas a esposa ou filha de algum chefe ou colega de trabalho, algo que já foi testado em uma cena anterior, em que o protag. tira a mulher do chefe para dançar. o relacionamento central é bem delineado, a progressão do protag. de desconfortável para a total aptidão na selva em concreto não é em nada sobressaltada, mas o que força uma reconsideração sobre essas pessoas são as cenas mais preenchendo-os-vazios, como a executiva numa entrevista de emprego abandonando a sala de espera após closes detalhados nas outras candidatas ou cunhados muçulmanos conversando sobre o elo de ligação dos mesmos [i.e. a irmã de um e a namorada do outro] ou, especialmente, na última aparição da namorada, brincando com a filha não-doente e falando "eu odeio mentir para ele."; isso é generosidade: ao permitir às duas partes adotarem medidas inequivocamente desesperadas e finalizantes, o diretor não condena a decisão do protag. pelo trabalho, apenas salientando que as escolhas de duas pessoas foram tão díspares que uma pequena mentira de um lado e a simples esquiva do outro são suficientes para o ponto final.)

230. (13 dez) O QUARTO DOS OFICIAIS (François Dupeyron, 2001)* ***

231. (15 dez) 007 CASSINO ROYALE (Martin Campbell, 2006)* ***

232. (15 dez) UM HOMEM DE VERDADE (Arnaud & Jean-Marie Larrieu, 2003)* ***1/2

233. (16 dez) /VOLVER/ (Pedro Almodóvar, 2006)* *** [originalmente: ***1/2]

234. (16 dez) ATÉ JÁ (Benoît Jacquot, 2004)* ***

235. (16 dez) DUCHAS FRIAS (Antony Cordier, 2005) **

236. (17 dez) CRIME FERPEITO (Álex de la Iglesia, 2004) **

237. (17 dez) STUPEUR ET TREMBLEMENTS (Alain Corneau, 2003) ***

238. (18 dez) DESEJO HUMANO (Fritz Lang, 1954) ***

239. (18 dez) DELITOS EM FLAGRANTE (Raymond Depardon, 1994) ****

240. (19 dez) O QUE EU FIZ PARA MERECER ISTO? (Pedro Almodóvar, 1984)* ***

241. (19 dez) STREET FIGHT (Marshall Curry, 2005) ***

242. (20 dez) /MAKE WAY FOR TOMORROW/ (Leo McCarey, 1937) *****

243. (21 dez) O ICEBERG (Dominique Abel, Fiona Gordon & Bruno Romy, 2005) ***

244. (21 dez) FIVE EASY PIECES (Bob Rafelson, 1970) ****

245. (22 dez) BAGDAD CAFE (Percy Adlon, 1987) ***

246. (24 dez) O TEMPO QUE RESTA (François Ozon, 2005)* ***

247. (24 dez) APRILE (Nanni Moretti, 1998) ***

248. (25 dez) O AMIGO DO DEFUNTO (Vyacheslav Krishtofovich e Leonid Boyko, 1997) ***1/2

249. (25 dez) AMIGAS COM DINHEIRO (Nicole Holofcener, 2006)* ***

250. (25 dez) AS COISAS SIMPLES DA VIDA (Edward Yang, 2000) ****1/2


251. (26 dez) THE LODGER (Alfred Hitchcock, 1927) **

252. (26 dez) /OS IMORAIS/ (Stephen Frears, 1990) ***

253. (27 dez) POPEYE (Robert Altman, 1980) ***

254. (27 dez) OS CHEFÕES (Abel Ferrara, 1996) ***1/2

255. (27 dez) DESENCANTO (David Lean, 1945) *****

256. (28 dez) DOWN IN THE VALLEY (David Jacobson, 2005) ***

257. (28 dez) A PROPOSTA (John Hillcoat, 2005) ***

258. (29 dez) /DESENCANTO/ (David Lean, 1945) *****

259. (29 dez) /VÔO NOTURNO/ (Wes Craven, 2005) ** [originalmente: 58]

260. (30 dez) PAI E FILHO (Aleksandr Sokurov, 2003)* *

261. (30 dez) THE HOLIDAY (Nancy Meyers, 2006)* ***

262. (30 dez) O CROCODILO (Nanni Moretti, 2006)* ***1/2




sexta-feira, novembro 03, 2006

NOVEMBRO

213. (02 nov) PAULINE NA PRAIA (Eric Rohmer, 1983) ***1/2

214. (03 nov) I AM A SEX ADDICT (Caveh Zahedi, 2005) ***1/2

215. (06 nov) UNITED 93 (Paul Greengrass, 2006)* ***1/2

216. (12 nov) OS INFILTRADOS (Martin Scorsese, 2006)* **1/2 (di caprio é perturbado mas o único vestígio de inquietação são as pílulas que ele toma a cada início de cena etc. esse tipo de atenção retardada aos detalhes dá as cartas aqui.)

217. (15 nov) O AMIGO AMERICANO (Wim Wenders, 1977)* ***

218. (16 nov) UMA VERDADE INCONVENIENTE (Davis Guggenheim, 2006)* **1/2

219. (27 nov) VOLVER (Pedro Almodóvar, 2006)* ***1/2

220. (27 nov) O ANO EM QUE MEUS PAIS SAÍRAM DE FÉRIAS (Cao Hamburguer, 2006)* ***1/2

221. (29 nov) BRICK (Rian Johnson, 2005) ****

222. (29 nov) THE ICE HARVEST (Harold Ramis, 2005) **1/2 (FARGO [ambiente plausível para situações inusitadas e... plausíveis; sorrisos superficiais em roupagens taciturnas; cidadezinha interiorana do meio-oeste decadentista com Bar Local, Restaurante Requisitado, Puteiro da Preferência] e BAD SANTA [billy bob, natal, cinismo irrecuperável, alcoolismo pessimista, golpistas miseráveis, final supostamente redentor] entram na ciranda desse filme estranhamente vulgar, sanguessuga com femme fatales e gangstêres improvisados conforme às necessidades dos espaços em branco do bê-a-bá noir e súbitas mudanças comportamentais que, para deixar a marra reinante ilesa no cartório, podem bem serem creditadas à festa etílica circundante. em alguns círculos, a indecisão entre contemplar o estilo-de-vida viciado e fraudulento dos protagonistas com ferocidade canina do olho-que-tudo-vê e jogar alguma luz não-intrusiva naqueles homens de fala mansa e atitudes despropositadas pode soar como um artifício que tenta a empatia pela ausência de compaixão, como se aquelas pessoas precisassem matar e afogar e beber até cair para atingir um estágio pleno, uma nova/segunda chance. então o filme pega o espírito lagarta-para-borboleta como um abono de final-de-ano, desajeitadamente amarrando os arrependimentos do passado [que cusack afirma não ter, embora a compra de presentes de natal numa loja de conveniência indica o contrário...] na liberação de responsabilidades no futuro próximo [...e a entrega dos referidos presentes na ausência dos filhos]. parece incrível, eu sei, mas não o é: trocas de favores interioranas, corrupção em todas as hierarquias, capangas armados em baús nunca se inserem bem na idéia do filme de 'deixar essas coisas pra trás', e ao insistir nessas notas apenas se desbota a cor local do lugar e deixa qualquer vestígio de bondade [/ausência de maldade] se traduzir num gesto condescendente digno de pena. não é que a redenção num ambiente condenável seja inverossímil, é que essas pessoas não querem ser resgatadas de lá e um desfecho desencantando serviria melhor a elas do que o final a la filme de buddies, o qual pega a relação melhor desenvolvida (cusack e o bêbado) e a coloca como mero pastiche dos dois-na-estrada para o-que-der-e-vier.)


sexta-feira, outubro 06, 2006

OUTUBRO

198. (03 out) /TOTALMENTE PESSOAL/ (Nedzad Begovic, 2004)* ***

199. (03 out) O LIVRO DOS RECORDES DE SHUTKA (Aleksandar Manic, 2005)* *1/2

200. (03 out) DEZ CANOAS (Rolf de Heer, 2006)* *1/2

201. (03 out) 12:08 LESTE DE BUCARESTE (Corneliu Porumboiu, 2006)* ***1/2

202. (04 out) EL TOPO (Alejandro Jodorowsky, 1970)* ***

203. (04 out) THE HOST (Bong Joon-ho, 2006)* ***1/2

204. (05 out) UM CASAL PERFEITO (Nobuhiro Suwa, 2005)* ***

205. (05 out) TERRA ABANDONADA (Vimukthi Jayasundara, 2005)* *1/2

206. (11 out) DÁLIA NEGRA (Brian De Palma, 2006)* ***1/2

207. (16 out) /MIAMI VICE/ (Michael Mann, 2006)* ***1/2 [antes, **1/2]

208. (16 out) ÁRIDO MOVIE (Lirio Ferreira, 2006)* ** (olha, lirio colega de dor, racionamento d'água e uma melancia só são interessantes num filme de tsai ming-liang. e quando você quiser que seu protagonista letrado e urbanóide e Paralizado - ver LOST IN TRANSLATION, HORA DE VOLTAR etc. - adquira consciência de classe não coloque na roda camus ("você já leu o estrangeiro do camí?") só porque tem-a-ver-ok. e se você quiser arremessar referências, não se preocupe em explicá-las; o índio-filósofo lá se identifica com raul seixas mas calma porque já está vindo o complemento retardado "eu não tenho opinião formada sobre tudo". espera espera, ele então é uma metamorfose ambulante! o final apocalíptico realmente veio a calhar dessa vez.)

209. (20 out) /O PROCESSO DE JOANA D'ARC/ (Robert Bresson, 1962) *1/2

210. (26 out) C.R.A.Z.Y. (Jean-Marc Vallée, 2005)* ***1/2

211. (30 out) ÀS CINCO DA TARDE (Samira Makhmalbaf, 2003)* *1/2 ("samira, minha bochechudinha, seja boazinha e entregue a câmera pro papai mohsen.")

212. (30 out) CRÔNICA DE UMA FUGA (Adrián Caetano, 2006)* ***



terça-feira, setembro 05, 2006

SETEMBRO

177. (04 set) FACTOTUM (Bent Hamer, 2005)* ***

178. (05 set) A CASA DO LAGO (Alejandro Agresti, 2006)* ***

179. (05 set) MIAMI VICE (Michael Mann, 2006)* **1/2


180. (08 set) /UM PEIXE CHAMADO WANDA/ (Charles Crichton, 1988) ***
181. (10 set) O OPOSTO DO SEXO (Don Roos, 1998) ***

182. (12 set) ESTAMIRA (Marcos Prado, 2004)* ***

183. (13 set) SERPENTES A BORDO (David R. Ellis, 2006)* ***
(o que alguém pode dizer sobre esse filme? eu ousaria colocar a tarja indiscreta de "revolucionário" para um produto tão bem fornido de aguerridos fãs num burburinho que fazia tic-tac até a pré-estréia americana? provavelmente não: SERPENTES não quebra nenhum tabu, assim como não os qualifica como instrumentos maleáveis ao gosto do freguês. "freguês" sendo a palavra-chave; esquema self-service: você paga exatamente pelo que consome. são cobras. em. um. avião. e o filme tem uma postura bastante sisuda quanto a isso, como se estivesse sendo projetado para uma coletividade que somente adquire consciência de grupo ao receber o que foi convencionado. o resultado é uma homogeneização (cf. pasteurização) estranhíssima. exemplo: um casal de namorados, o qual entra mudo e sai calado do filme, vai ao banheiro pra trepar. eles são as primeiras vítimas, e o que poderia se passar como comentário incidioso à eliminação hieráquica de personagens nos filmecos terror-teen-médio com a justamente famosa regra do "mantenha o cabaço" acaba simplesmente soando como "ei, alguém tem que morrer primeiro, certo? foi na roleta!", o que acaba tirando a verve paródica consciente e transformando todo o projeto num empenho ético, o qual se apropria do triângulo apresentação-clímax-desfecho com a sobriedade de quem não tem muita opção, uma estóica esnobada para os artifícios e arroubos mirabolantes, apenas amenizada por suas esparsas surpresas -- veja o caso do rabugento senhor de meia-idade que faz cara feia para cachorrinhos e bebês rosados; ele tem que ser obviamente um dos primeiros a serem sabotados e o tempo passa e gente divertida e despretensiosa morre e a coroação vem com a aparição única da sucuri-anaconda para o homem!

se o protag. tem que depor (por que? porque é a coisa certa a fazer, caramba!) e samuel l. jackson tem que protegê-lo e o irmão mais velho cuida do mais novo e as aeromoças, dos demais passageiros e os aparentes seguranças, do cantor neurastênico, o filme também se posiciona como entretenimento honrado afinal, realmente existiu o tal contrato firmado entre guilherme alves e o cinemark no dia 13 de setembro às 20h. se o mesmo contrato é aceito por uma universalidade -- a mesma universalidade que transformou o filme num pequeno fenômeno -- o que se pode fazer é não se engraçar pelos tortuosos caminhos da sátira desgovernada -- TODO MUNDO EM PÂNICO e congêneres -- e manter-se na trajetória correta, na altitude determinada e em piloto automático (coadjuvante #14 acaba pousando a aeronave com esteio em horas de videogame etc.). o que mais poderia corroborar isso que não a quase-inércia reinante para tirar momentos histéricos dos que são provavelmente os personagens mais esteriotipados que se tem notícia há um bom tempo? instantes de pequenas-ironias-do-mundo (a última viagem da aeromoça #3 antes da aposentadoria é sua última. mesmo. e ela morre não sem antes salvar um recém-nascido. porque ela tem um Propósito!) são realmente tratados com a seriedade que, se não é inteiramente mandatória, é bastante plausível. as armadilhas existem e o filme, ao invés de passar por cima delas, as contorna (exceto no episódio estúpido da cobra dando o bote no nosso herói nos minutos finais), o que assegura para si a medalha de trabalho bem feito, i.e. "vocês estão vendo o que poderia ter sido?" resposta: um aliviado sim.)

184. (17 set) OBRIGADO POR FUMAR (Jason Reitman, 2005)* **1/2

185. (17 set) OURO CARMIN (Jafar Panahi, 2003)* ***1/2

186. (19 set) ENRON: OS MAIS ESPERTOS DA SALA (Alex Gibney, 2005)* ***

187. (25 set) MISTRZ (Piotr Trzaskalski, 2005)* 1/2

188. (25 set) A ESPOSA DO PESCADOR (Doris Dörrie, 2005)* ***

189. (25 set) MAN PUSH CART (Ramin Bahrani, 2005)* **1/2

190. (25 set) BAMAKO (Abderrahmane Sissako, 2006)* ***1/2

191. (27 set) A CRIANÇA (Jean-Pierre & Luc Dardenne, 2005)* ***1/2

192. (29 set) O AMIGO DA FAMÍLIA (Paolo Sorrentino, 2006)* **1/2

193. (29 set) JUVENTUDE EM MARCHA (Pedro Costa, 2006)* **

194. (30 set) COMO FESTEJEI O FIM DO MUNDO (Catalin Mitulescu, 2006)* ***

195. (30 set) TOTALMENTE PESSOAL (Nedzad Begovic, 2004)* ***1/2 (tal qual TARNATION, um documentário eu-respiro-via-celulóide, proclamadamente indulgente numa estrutura despretensiosa, é como se um narrador pater familias cabisbaixo abrindo um albúm de fotografias para um grupo de amigos e sua pasta de trabalhos e colagens para uma entrevista de trabalho. ao contrário de TARNATION, com o desabafo alinhavado na ladainha pré-programada, este acaba direcionando sua desformatação mais pro lado da inconsistência narrativa, se prendendo a detalhes que dificilmente são coerentes com o resto, de um bloqueio criativo que, como os de spike jonze, não. como um vídeo-instalação de uma galeria sendo montada, ou um simples making-of de alguma coisa, ...

196. (30 set) FLANDRES (Bruno Dumont, 2006)* *1/2

197. (30 set) 1:1 (Annette K. Olesen, 2006)* *1/2



quinta-feira, agosto 17, 2006

AGOSTO

174. (07 ago) O DIA EM QUE O BRASIL ESTEVE AQUI (Caíto Ortiz & João Dornelas, 2006)
**


175. (17 ago) EM SEGREDO (Jasmila Zbanic, 2006)*
*1/2


176. (17 ago) TRANSAMERICA (Dunkan Tucker, 2005)*
**


quinta-feira, julho 06, 2006

JULHO (novidades? sim como não é sempre um prazer a constatação da visita formal satisfeita! e para os senhores nós trazemos com exclusividade um documentário sobre a névoa da guerra (errol) morriana, o elemento humano morriano, a consciência tortuosa morriana: SHAKE HANDS WITH THE DEVIL! a seguir nós vamos prum filme de auteur do-mesmo-roteirista-de-asassinato-em-gosford-park-que-por-sua-vez-era-dirigido-por-altman: MENTIRAS SINCERAS (olha a rica ambiguidade onipresente! onipresente! e eu JURO onipresente! olha o título!). depois fazemos uma parada não-obrigatória no terror coreano A TALE OF TWO SISTERS: nada de dickens infelizmente mas tudo de poe às avessas, no entanto! mas calma porque nosso passeio continua com LA LU LA E LA BALEIA que cita kafka kafkaniano, jean la putana eustache, truffaut, a cena final de acossado, david floyd lynch num espaço de 5 minutos! e terminamos a jornada com uma farsa eficientemente tola argentina: TEMPO DE VALENTES, com urânio! psicólogos sociopatas! mulheres lendo mme bovary e traindo maridos! é flaubert saindo das rodinhas de borges! (argentina, olha pra onde voce foi!) policiais com barriga de chop's!)

160. (03 jul) SPELLBOUND (Jeffrey Blitz, 2002) 64

161. (05 jul) FREE ZONE (Amos Gitai, 2005)* 21

162. (07 jul) PREMONIÇÃO 3 (James Wong, 2006)* 46

163. (07 jul) OS SEM-FLORESTA (Tim Johnson & Karey Kirkpatrick, 2006)* 59

164. (11 jul) /PELE DE ASNO/ (Jacques Demy, 1970)* 63

165. (11 jul) O SAMURAI DO ENTARDECER (Yôji Yamada, 2002)* 61

166. (17 jul) IVANSXTC (Bernard Rose, 2000) 52

167. (19 jul) O HOMEM-URSO (Werner Herzog, 2005)* 58

168. (20 jul) ALICE NÃO MORA MAIS AQUI (Martin Scorsese, 1974) 74

169. (23 jul) SHAKE HANDS WITH THE DEVIL (Peter Raymont, 2004) 66

170. (26 jul) MENTIRAS SINCERAS (Julian Fellowes, 2005) 35

171. (27 jul) A TALE OF TWO SISTERS (Kim Ji-woon, 2003) 31

172. (28 jul) A LULA E A BALEIA (Noah Baumbach, 2005)* 61

173. (28 jul) TEMPO DE VALENTES (Damián Szifron, 2005)* 56


sexta-feira, junho 02, 2006

JUNHO (adicionados: SEPARADOS PELO CASAMENTO - i.e. THE BREAK-UP - + CARROS - i.e. alguém deixou de grafitar e passou a pichar salas de cinema com coisas indignas dos early years' greatest hits da cia. acho que temos mais uma metáfora, hmm, animada para "decadência", senhoras e senhores.)

145. (02 jun) BOTTLE ROCKET (Wes Anderson, 1996) ***

146. (02 jun) METROPOLITAN (Whit Stillman, 1990) ****

147. (03 jun) A SALVO (Todd Haynes, 1995) ****1/2

148. (07 jun) FALANDO DE SEXO (John McNaughton, 2001) **1/2

149. (07 jun) O NOVO MUNDO (Terrence Malick, 2005)* **1/2

150. (09 jun) PERGUNTE AO PÓ (Robert Towne, 2006)* **

151. (10 jun) /FEITIÇO DO TEMPO/ (Harold Ramis, 1993) ****

152. (12 jun) /O PLANO PERFEITO/ (Spike Lee, 2006)* ***1/2

153. (12 jun) TRÊS ENTERROS (Tommy Lee Jones, 2005)* ***

154. (14 jun) V DE VINGANÇA (James McTeigue, 2005)* **1/2

155. (19 jun) CAPOTE (Bennett Miller, 2005)* **1/2 [eram ***]

156. (19 jun) CACHÉ (Michael Haneke, 2005)* ***

[dizem que o hiato aumenta o suspense.]

157. (28 jun) /CACHÉ/ (Michael Haneke, 2005)* **1/2

158. (30 jun) THE BREAK-UP (Peyton Reed, 2006)* ***1/2

159. (30 jun) CARROS (John Lasseter, 2006)* **1/2



segunda-feira, maio 01, 2006

MAIO

126. (01 mai) LUA DE PAPEL (Peter Bogdanovich, 1973) ***1/2

127. (01 mai) NEW ROSE HOTEL (Abel Ferrara, 1998) **1/2

128. (02 mai) BOA NOITE E BOA SORTE (George Clooney, 2005)* ***

129. (02 mai) /KRAMER VS. KRAMER/ (Robert Benton, 1979) ***1/2

130. (06 mai) HARDBODIES (Mark Griffiths, 1984) **1/2

131. (07 mai) ONE MISSED CALL (Takashi Miike, 2003) *

132. (10 mai) MISSÃO: IMPOSSÍVEL III (J. J. Abrams, 2006)* **

você pensa que 24 HORAS está finalmente fazendo efeito quando você leva em conta aquelas decisões pragmáticas, prioritariamente apolíticas em assuntos explosivos de estado como batidas de martelo de quem entende do riscado e não de roteiristas que pegam aquele atalho preguiçoso no bom senso, mas daí vem essa outra agência secreta da inteligência americana, na qual as missões são designadas num piscar (sem aprovação do comando-geral, é aí que entra a parte secreta, aparentemente), o chefe diz "essa é uma agência da inteligência mas eu não estou vendo nenhuma por aqui" e todos os Tipos estão lá, desde o desavergonhadamente nerd no computador ("eu tinha um professor. ele era gordo. ele tinha um apelido..." etc.) até o chefão mal-encarado que aparenta ser o Grande Traidor (coisas que aprendi com 24 HORAS: todo traidor é um mártir nacionalista dependendo do ponto de vista lógico etc.) oh! mostra que as feições soturnas é parte do apelo irresistível de uma agência-bunker (#1: "nem tudo é o que parece ser"); logicamente o Grande Traidor é Aquele Mesmo Que Você Pensou Ser a Priori (#2: "lobo em pele de cordeiro").

ninguém esperava nada diferente, certo? essa ciranda de responsabilidades políticas, a batata-quente globalizada, fatalismo de maquiavel for dummies ("os fins justificam os meios" parece aliviar toda e qualquer decisão que poderia se passar por hum questionável) precisam se situar de um modo ou de outro num filme que começa em berlim (símbolo-maior do capitalismo pós-guerra fria, sendo que as cenas passadas na cidade se situam numa decadente zona portuária/industrial = comentário ácido-inócuo), vai para o vaticano (este é o mundo do tudo-está-conectado: assiste-se ao trailer d'O CÓDIGO DA VINCI e ele funciona como entreposto lógico [best seller, lembra?] para a provável compra ilícita entre traficante e funcionariado cristão) e termina em xangai (o oba-oba da nova onda chinesa, vista estritamente como a manhattan oriental com arranha-céus e neon e depois passamos para uma vila, i.e. cor local, i.e. tradição/costumes, i.e. "a reversão é possível?").

e as coisas são assim mesmo, curtas-e-grossas, na-sua-cara buscando a simples, óbvia satisfação de nossos interesses mórbidos, curiosos no grande rumo do planeta utilizando os elementos geopolíticos mais o-mundo-hoje e processando-os como a conveniência do bem informado que lê jornal com aquele orgulho besta e o broche do greenpeace.
ninguém esperava nada diferente, certo? agora, não só temos adolescentes Paralisados, que Não Sabem o Que Sentir Et. Al. como o soerguimento de novos e aperfeiçoados heróis, humanos dessa vez ("eu sangro", pixies). engraçado, frases de efeito que geralmentre entregam um aspecto da personalidade da tal pessoa (durão, engraçadinho, e só) durante cenas de ação - obviamente ridículas visto que quem perde tempo nelas durante fogo-cerrado inimigo? - não se prestam a esse efeito, o cara para ser considerado um humanóide em operação precisa trocar alianças toscas e, de preferência, se casar espontaneamente numa cerimônia ninguém-pode-saber, que serve tanto seu lado ultra-secreto como vejam-como-ele-é-impulsivo (impulsividade sendo a linha característica da índole de todo herói de interesse, ver cruise & capote na semi-descarga no avião). o fato é, se a mulher não morre assim que acaba o casamento (como em 007 - A SERVIÇO DE SUA MAJESTADE; bond, herói setentista), sua função catártica é de uma precariedade sustentada pelo fato dessa nova onda de heróis sossega-facho ser relativamente nova e as pessoas não se acostumam muito bem com isso (algo assim: "você tem seus super-poderes então que tal você deixar de lado a mulher que lhe é de direito [eita] para mim, mero mortal? onde estão suas grandes responsabilidades?). talvez peter parker consiga se sair bem daí porque ele é jovem, e jovens não pensam direito com a cabeça apresentável, e ele é nerd então ele merece, e ele levou o sermão das grandes responsabilidades então ele sabe para onde está indo e se ele foi para lá é porque está disposto a pagar o preço (muito alto, sempre, tanto é que sábia foi a decisão dele por ela somente no segundo filme). com tom cruise não funciona e o motivo é desconhecido. (R: talvez por ele não ter super-poderes mágicos, mas isso não invalida de todo seu raciocínio, guilherme)

duas cenas pá-pou-caboom-boom conceitualmente interessantes são as do vaticano e o roubo da coisinha-lá em xangai. na primeira, só o objetivo (sequestrar capote) é dado de bandeja, e isso é perfeito, porque segmenta o passo-a-passo daquele plano, não somos advertidos das ações mirabolantes que irão ocorrer, elas nos pegam de surpresa e quando nós pensamos na plausibilidade da coisa toda (que sempre acaba com "tom cruise pode") o plano já avançou mais uma casa e você volta ao processo anterior, de modo que quando a coisa termina tudo parece surrealmente natural (sabe aquele efeito divertido, elegante da lei do pequeno esforço - "isso é tão fácil para mim, me veja em ação" - de 11/12 HOMENS E UM/OUTRO SEGREDO?). na segunda, o roubo da coisa frustra expectativas porque tom cruise coloca o plano todo desenhado para o espectador e ele parece costumeiramente impossível; mas depois o filme mostra apenas o salto dele, deixando de revelar todo o desentolar da ação no interior do prédio. as expectativas são demolidas porque não se sabe exatamente o sistema de segurança que ele encontrará no edifício e nós queremos ver isso e isso nos é negado droga (NOTA: não estou falando da Magnífica Coragem do Filme - ela não existe - aqui, até porque o aparato contra furtos do lugar é colocado nas ruas de xangai assim que cruise sai são e salvo do lugar, ou seja, nós acabamos testemunhando uma amostra dele invariavelmente), ao invés disso, o filme se foca em uma conversa patética entre coadjuvante #1 e coadj. #2 que incl. a já infame fala "se ele não ligar para o terrorista em 5 minutos, ele matará a esposa dele" ou algo idiota assim; o divertido é que o ator que a proclama protagonizou MATCH POINT e o cículo das pequenas ironias desse mundo pequeno se fecha.

não tenho mais nada para dizer, eu acho, só notar que eu estava gostando bem mais que duas-estrelas-e-meia do filme até que eu tomo uma atitude e tacho como tapadas as inúmeras reviravoltas que funcionam como uma coluna vertebral torcida várias vezes para a direita até que nos minutos finais ela dá uma guinada para a esquerda e volta a posição normal, i.e. o mundo volta aos eixos e nunca deveria ter saído de lá porque não há nada que justifique qualquer uma delas. a não ser que o clímax tosco possa ser considerado uma rendição (#3: "o amor vence tudo") e explique a tomada do filme como refém de uma lógica que viabiliza uma pessoa que nunca encostou a mão em uma arma aprenda a engatilhar, trocar cartucho etc. numa explicação resumão de um cara com uma bomba na cabeça sofrendo espasmos aqui e lá (mais lá que aqui). última coisa:
que ousado! the emotions com a clássica setentista (anos setenta de novo? o fim da era do desprendimento bondiano?) "the best of my love" junto com kanye west (peguei umas músicas do late registration e não gostei) junto com beethoven! nada é sagrado?

133. (12 mai) AS MELHORES INTENÇÕES (Bille August, 1992)* 1/2

134. (13 mai) FANNY & ALEXANDER (Ingmar Bergman, 1982)* **1/2

135. (14 mai) HOJE E AMANHÃ (Alejandro Chomski, 2003) *1/2

136. (16 mai) HISTÓRIAS MÍNIMAS (Carlos Sorin, 2002) ***

137. (17 mai) MEU TIO DA AMÉRICA (Alan Resnais, 1980) ****

138. (18 mai) THE YES MEN (Dan Ollman, Sarah Price & Chris Smith, 2003) **1/2

139. (21 mai) JOE CONTRA O VULCÃO (John Patrick Shanley, 1990) ****

140. (28 mai) MADRUGADA MUITO LOUCA (Danny Leiner, 2004) **1/2

141. (28 mai) TODO MUNDO EM PÂNICO 3 (David Zucker, 2003) **

142. (30 mai) CRIME DELICADO (Beto Brant, 2005)* **

143. (31 mai) /SINTONIA DE AMOR/ (Nora Ephron, 1993) **1/2

144. (31 mai) OS REIS DE DOGTOWN (Catherine Hardwicke, 2005) **1/2


terça-feira, abril 04, 2006

ABRIL (últimos: /BAD SANTA/ + TOKYO GODFATHERS)

107. (02 abr) FATA MORGANA (Werner Herzog, 1970)* ***


108. (02 abr) O PODER DO PESADELO (Adam Curtis, 2004)* ***

1/2. (02 abr) O GRANDE ÊXTASE DO ENTALHADOR STEINER (Werner Herzog, 1974)* n/a

109. (02 abr) O PEQUENO DIETER PRECISA VOAR (Werner Herzog, 1997)* ***1/2

110. (02 abr) /ALÉM DO INFINITO AZUL/ (Werner Herzog, 2005)* ***1/2 [originalmente: 52]

111. (03 abr) /VERA DRAKE/ (Mike Leigh, 2004)
***1/2 [originalmente: 68]

112. (04 abr) OS ÚLTIMOS EMBALOS DA DISCO (Whit Stillman, 1998) ****

113. (04 abr) O PESADELO DE DARWIN (Hubert Sauper, 2004)
*1/2

114. (06 abr) O PLANO PERFEITO (Spike Lee, 2006)* ***

115. (06 abr) SYRIANA (Stephen Gaghan, 2005)* **1/2

116. (06 abr) KUNDUN (Martin Scorsese, 1997)*
***1/2

117. (09 abr) DANDELION (Mark Milgard, 2004) **1/2

118. (10 abr) /SE MEU APARTAMENTO FALASSE/ (Billy Wilder, 1960) *****

119. (11 abr) THE REAL CANCUN (Rick de Oliveira, 2003) ***

120. (12 abr) CONFISSÕES DE UMA ADOLESCENTE EM CRISE (Sara Sugarman, 2004) **1/2

121. (13 abr) O FIM E O PRINCÍPIO (Eduardo Coutinho, 2005)* **

122. (17 abr) DUPLEX (Danny DeVito, 2003) ***

123. (24 abr) PARADISE NOW (Hany Abu-Assad, 2005)* **

124. (29 abr) /BAD SANTA/ (Terry Zwigoff, 2003) **1/2 [originalmente: 62]

125. (29 abr) TOKYO GODFATHERS (Satoshi Kon, 2003) **1/2


domingo, março 12, 2006

MARÇO (novos: O DIAMANTE BRANCO, curteco, desistência, MISTÉRIOS DA CARNE)

078. (01 mar) O VÔO DA FÊNIX (John Moore, 2004) 41

079. (07 mar) BEIJOS E TIROS (Shane Black, 2005)* 69

080. (09 mar) WALLACE & GROMIT - A BATALHA DOS VEGETAIS (Steve Box & Nick Park, 2005)* 48

081. (10 mar) /RUSHMORE/ (Wes Anderson, 1998) 96 [última revisão: 91]


082. (13 mar) /CONTRACORRENTE/ (David Gordon Green, 2004)* 67 [originalmente: 77]

083. (13 mar) ELLIE PARKER (Scott Coffey, 2005) 57

084. (13 mar) UM VAZIO NO MEU CORAÇÃO (Lukas Moodysson, 2004) 43

085. (14 mar) CASA DE LOS BABYS (John Sayles, 2003) 44

086. (14 mar) HERÓIS IMAGINÁRIOS (Dan Harris, 2004)* 55

087. (14 mar) /MARCAS DA VIOLÊNCIA/ (David Cronenberg, 2005)* 66

088. (15 mar) O CÍRCULO (Jafar Panahi, 2000) 60

089. (16 mar) UM AMOR QUASE PERFEITO (Ferzan Ozpetek, 2001) 70

090. (17 mar) /IRMÃOS/ (Patrice Chéreau, 2003)* 51 [originalmente: 79]

091. (17 mar) /CLOSER/ (Mike Nichols, 2004)* 72 [última revisão: 57]

092. (20 mar) O SIGNO DO CAOS (Rogério Sganzerla, 2005)* 58

093. (20 mar) O CLUBE DOS PERVERTIDOS (John Waters, 2004) 16

094. (21 mar) O LENHADOR (Nicole Kassell, 2004) 50

095. (21 mar) O SOLITÁRIO JIM (Steve Buscemi, 2005) 49

096. (21 mar) CONFLITOS INTERNOS (Wai Keung Lau & Siu Fai Mak, 2002) 53

097. (22 mar) O OPERÁRIO (Brad Anderson, 2004) 46

098. (23 mar) CHUVA DE VERÃO (Christine Jeffs, 2001) 59

099. (24 mar) MACHUCA (Andrés Wood, 2004)* 21

100. (24 mar) /A MENINA SANTA/ (Lucrecia Martel, 2004)* 76

Nesse momento em que escrevo eu tenho em mente Lucrecia Martel e Olivier Assayas como diretores que criam e liberam tensão de modo singular, nem que esta seja produto de uma conversa carregada de diálogos que subitamente cede passagem a um interlocutor abandonando o outro e passando por uma porta giratória, como em CLEAN, no instante em que Maggie Cheung corre desabalada pelo aeroporto depois de travar contato tremuloso com Nick Nolte. Eu também penso nas elipses incandescentes de DESTINOS SENTIMENTAIS, dentre as quais nós vemos um breve indicativo de doença para um dos personagens e isso é mantido encoberto até que se tem a notícia de seu falecimento ocorrido anos antes ou até mesmo uma pulada de cerca, que começa frágil e hesitante, nunca mais é citada até que numa conversa - meses? anos? depois - entre marido e esposa, este revela o conhecimento do episódio. Pode-se dizer que isso realmente Acontece na Vida, essa espécie de pausa e elevação de um instante que segue nessa condição até que algum desenlace se apresente.

A MENINA SANTA trabalha com esses instantes de pausa e elevação. A própria ambientação num hotel decadente interiorano já passa a impressão de uma localidade que não permite aos seus habitantes se desenvolver plenamente. Em vários momentos o hotel ganha vida. Ele está ali para promover encontros (como o congresso de medicina, obviamente) ou esbarrões fatídicos (os três vértices – o médico, a menina, a mãe dela - são finalmente reunidos num mesmo ambiente pela razão mais prosaica do mundo: um simples reparo numa banheira quebrada) ou até mesmo para incentivar que a menina protag. saia do quarto já que a tv e o rádio estão desintonizados. O hotel também reúne pessoas, quando p. ex. uma delas está na porta do quarto conversando com o hóspede e este deixa aquele entrar porque uma camareira está desodorizando/desinfetando vigorosamente o corredor com um spray indefinido. É o hotel que permite essas manifestações, ele juntou essas pessoas para o congresso e continua as unindo ao simular vazamentos e reparos estratégicos. Não raro tal estabelecimento ajuda Martel criar planos impecáveis, como aquele em que dois empregados estão verificando um provável vazamento no teto e eles se movimentam em um espaço contíguo, entre dois rostos que estão conversando em primeiro plano.

As aulas de religião, como todas as aulas de religião, são momentos agradáveis entre a química e a biologia; um instante para descanso físico e não para um retiro espiritual, para fofocar que a professora beija o namorado com entusiasmo ou para alimentar histórias imaginativas e supersticiosas enquanto a professora pede desesperadamente para que seus alunos se restrinjam aos textos xerocados (até mesmo a visita do quarteto de meninas ao matagal que beira a estrada, onde um acidente de carro fatal ocorreu, funciona como uma experiência de campo, uma excursão que poderia ser promovida pela escola caso o teor não contivesse o tal elemento mórbido). As duas primas vão para lavanderia do hotel e brincam de fechar os olhos e, depois de abertos, uma conta à outra o que viu ("dois traços vermelhos num círculo amarelo" etc.) e depois uma se acomoda bem perto da câmera e diz "Eu vejo tudo muito mais branco." e isso numa lavanderia. Pode-se levar a sério esse transe, uma busca pelo contato espiritual com o Chamado de Deus, mas a associação branco/lavanderia certamente impõe que aquele instante consiste numa pequena e indolente diversão vespertina entre amigas. Até mesmo alguma incisão no despertar da sexualidade das duas primas acaba sendo não mais que uma fagulha de curiosidade inocente quando uma delas beija a outra e aquela fala "você abriu a boca!" e a outra retruca "mas você colocou a língua!".

O desconforto miserabilista de O PÂNTANO, com seus planos intrincados repletos de pessoas, pedia como resolução reações extremadas, catárticas, especialmente físicas. Em A MENINA SANTA, Martel cria um ambiente desorientador, mas não via intimidade forçosa do filme de estréia, mas sim por posicionar seus personagens em locais que mais parecem esconderijos (até mesmo o instrumento musical enseja certa reticência em sua lógica: música sem contato físico). Na primeira visão que o doutor tem da dona do hotel, ele se encontra num corredor e ela está no interior de um dos quartos; a janela está aberta e ele a enxerga, sem que ela perceba, dividida em duas: o rosto está indistinto pelo reflexo do vidro enquanto o restante do corpo é plenamente visível. Em outra é o ato de abrir a porta do armário por uma camareira que desencadeia uma nova exibição inadvertida dela para ele. Algo que me deixa transtornadamente fascinado é Martel devassando a introspecção alheia e, logo em seguida, conferindo uma calma plácida e justificada a um ato abelhudo. Uma seqüência revela a menina observando o doutor: a intimidade dele é devassada enquanto o mesmo não percebe olhar dela, mas quando ele se dá conta da presença da garota, as coisas continuam como são, ou seja, a garota continua a observar e ele manobra o olhar para o horizonte; dessa forma, além da menina ter a prerrogativa do ato, ela também consegue sua legitimação.

Tudo está suspenso em A MENINA SANTA e, mesmo assim, as coisas insistem em ir para frente. O tema das aulas de religião está estagnado mas invariavelmente se discursará sobre outro ponto; mesmo com residência fixa no hotel ainda existe um certo ímpeto tradicionalista nos dizendo que isso é passageiro. Talvez seja por isso que durante o filme tem-se a sensação de que muito pouco está em jogo. Tal sentimento provavelmente advém da confecção de uma série de pequenos mal-entendidos. Ficamos sabendo do caso do médico processado por um paciente porque este não conseguiu identificar as dosagens expressas na receita devido à caligrafia incompreensível daquele; a dona do hotel confunde palavras quando testa a audição na cabine; a comodidade de uma esfregada se confunde com a comodidade de descobrir sua vocação mais cedo que qualquer outra colega de classe. Todos os elementos aqui fazem questão de se esconder. O desenlace do relacionamento entre o doutor e a dona existe e ao mesmo tempo só ocorre efetivamente na cabeça dela. É mais um pequeno mal-entendido: a timidez envergonhada pela tal atitude dele se passa como encabulamento perante a possível mulher da sua vida. Em uma cena fica claro toda a carga simbólica da representação da relação médico-paciente (olha a ironia!) que tomará parte no encerramento do congresso. A mulher pergunta para ele o que ela deve vestir na ocasião pretendendo certamente uma definição da parte dele, usando esse pequeno momento de intimidade (na minha opinião pedir ajuda nesse departamento é algo íntimo, mas entendo a eventual posição contrária) para tanto, mas a cena se desenrola com a sobriedade de uma mera escolha de figurinos para um evento qualquer (numa conversa ficamos sabendo que os dois já atuaram em peças), sem nenhum traço de constrangimento, até porque ela o despacha de seu quarto dizendo simplesmente que o modelo não caiu bem.

Martel também é cuidadosa o bastante para propor cenas com verossimilhança interna e externa. Assim, a menina passa o creme de barbear do doutor na gola da camisa, a camareira, no mesmo aposento, continua despejando spray descontroladamente e logo depois a primeira cheira a gola; a montagem é perfeita: obviamente a menina está cheirando a gola por uma mera questão de intimidade, identidade e desejo mas ela também pode estar tapando o nariz devido ao spray massivo. Tal duplicidade dificilmente vem ao caso. Em um mundo fora de sintonia, de ponta-cabeça, duas meninas numa piscina conversando amenidades conta mesmo como um Momento Sagrado.

///

101. (26 mar) NEGÓCIOS À PARTE (Claude Chabrol, 1997) 59

102. (27 mar) MENTIRAS (Jang Sun-woo, 1999) 50

103. (27 mar) O FANTASMA DO FUTURO (Mamoru Oshii, 1995) 42

104. (29 mar) REIS E RAINHA (Arnaud Desplechin, 2004)* 70


105. (30 mar) O DIAMANTE BRANCO (Werner Herzog, 2004)* 67

c01. (30 mar) AARHUS (Jorgen Leth, 2005)* 0

W/O. (30 mar) SVYATO (Victor Kossakovsky, 2005)*

106. (31 mar) MISTÉRIOS DA CARNE (Gregg Araki, 2004)* 68





sábado, janeiro 07, 2006

2006 (últimos: /TRÊS REIS/ COMENTADO EM PARÁGRAFOS + FOGUEIRA)

001. (05 jan) 9 CANÇÕES (Michael Winterbotton, 2004)* 44

002. (06 jan) BENS CONFISCADOS (Carlos Reichenbach, 2004)* 62

003. (06 jan) UMA NOITE COM SABRINA LOVE (Alejandro Agresti, 2000)* 45

004. (06 jan) MARTÍN (HACHE) (Adolfo Aristarain, 1997)* 73

005. (09 jan) JOHNNY GUITAR (Nicholas Ray, 1954) 88

006. (10 jan) JARHEAD (Sam Mendes, 2005)* 38

007. (11 jan) 2046 (Wong Kar-wai, 2004)* 54

008. (11 jan) /QUERIDA WENDY/ (Thomas Vinterberg, 2005)* 65

009. (11 jan) OS AMANTES (Louis Malle, 1958)* 39

010. (12 jan) VIDA DE MENINA (Helena Solberg, 2003)* 41

011. (13 jan) HAMLET (Michael Almereyda, 2000) 64

012. (14 jan) FLORES PARTIDAS (Jim Jarmusch, 2005)* 49

013. (15 jan) A SOGRA (Robert Luketic, 2005) 21

014. (16 jan) SOY CUBA, O MAMUTE SIBERIANO (Vicente Ferraz, 2005)* sem nota

015. (16 jan) A ESQUIVA (Abdel Kechiche, 2003)* 78

016. (21 jan) /EMBRIAGADO DE AMOR/ (Paul Thomas Anderson, 2002) 100 [objetivamente: 94] (descobri um pequeno detalhe graças a minha prima que assistiu ao filme pela primeira vez (ao contrário deste aqui que deve ter visto umas 25): na cena do disque-sexo - que merecidamente ganhou um texto próprio nos arquivos de julho 04 -, a mulher escorrega chamando sandler de 'barry' no instante em que ela pergunta no que ele trabalha e não 'jack' como ele havia estipulado com a atendente; algo que não só salienta que a atentende do serviço é a interlocutora sexy, como também já coloca a questão no âmbito profissional de barry, logo as cifra$ vem ao resgate e conferem uma tonalidade amoral a algo que antes era apenas um desconforto colateral míope na nova forma de perversão encontrada casualmente (além de obviamente insinuar que as pessoas fazem coisas diversas quando estão com outras no telefone. assim, barry veda o apartamento, isolando-o do olho público enquanto a interlocutora provavelmente está lendo animadamente no computador o número do cartão de crédito dele ocasionando assim o deslize: não tem como ficar mais impessoal que isso, esp. para um bate-papo que pede certa auto-implicação desde o início, até porque barry - e provavelmente a mulher - não percebe o engano e segue em frente sem saber que a guarda está aberta). é insignificante, mas descobrir coisas novas quando você pensa que já secou um filme é incrível.)

017. (25 jan) CONFIANÇA (Hal Hartley, 1990) 74

018. (25 jan) CRASH (Paul Haggis, 2004)* 8 (crash, mas o efeito é ploft.)

019. (25 jan) /GUERRA DOS MUNDOS/ (Steven Spielberg, 2005)* 70 [antes, 69]

020. (27 jan) MUNIQUE (Steven Spielberg, 2005)* 52

021. (27 jan) /UM FILME FALADO/ (Manoel de Oliveira, 2003)* 71 [antes, 85]

022. (28 jan) SAVED! (Brian Dannelly, 2004) 34

023. (28 jan) DEMONLOVER (Olivier Assayas, 2002) 63

024. (30 jan) /DEMONLOVER/ (Olivier Assayas, 2002) 65

025. (30 jan) /2046/ (Wong Kar-wai, 2004)* 49 [antes, 54]

026. (30 jan) APENAS UM BEIJO (Ken Loach, 2004)* 46

027. (31 jan) IMPULSIVIDADE (Mike Mills, 2005)* 36

028. (03 fev) BROKEBACK MOUNTAIN (Ang Lee, 2005)* 60

029. (03 fev) WOLF CREEK (Greg McLean, 2005)* 28

030. (03 fev) AS LOUCURAS DE DICK E JANE (Dean Parisot, 2005)* 43

031. (07 fev) /MUNIQUE/ (Steven Spielberg, 2005)* 68 [antes, 52]

032. (07 fev) O JARDINEIRO FIEL (Fernando Meirelles, 2005)* 47

033. (07 fev) HOTEL RUANDA (Terry George, 2004)* 61

034. (08 fev) SIMPLES DESEJO (Hal Hartley, 1992) 78

035. (08 fev) /ANJOS CAÍDOS/ (Wong Kar-wai, 1995)* 59 [1a. 45; 2a. 52]

036. (08 fev) /AMOR À FLOR DA PELE/ (Wong Kar-wai, 2000)* 94

037. (08 fev) A ESCOLTA (Ricky Tognazzi, 1993)* 48

038. (10 fev) JOHNNY & JUNE (James Mangold, 2005)* 51

039. (10 fev) ORGULHO E PRECONCEITO (Joe Wright, 2005)* 63

040. (10 fev) MATCH POINT (Woody Allen, 2005)* 57

041. (12 fev) MR. SMITH GOES TO WASHINGTON (Frank Capra, 1939) 81

042. (12 fev) 36 QUAI DES ORFÈVRES (Olivier Marchal, 2004) 54

043. (13 fev) BAD NEWS BEARS (Richard Linklater, 2005) 46

044. (14 fev) /O JARDINEIRO FIEL/ (Fernando Meirelles, 2005)* 54 [antes, 47]

045. (14 fev) AS CHAVES DE CASA (Gianni Amelio, 2004)* 42

046. (15 fev) O EXPRESSO SHANGAI (Josef von Sternberg, 1932) 70

047. (15 fev) /FELIZES JUNTOS/ (Wong Kar-wai, 1997)* 57

048. (15 fev) AMORES EXPRESSOS (Wong Kar-wai, 1994)* 58

049. (15 fev) VENHA DORMIR LÁ EM CASA ESTA NOITE (Dino Risi, 1977)* 55

050. (15 fev) /ANNIE HALL/ (Woody Allen, 1977) 83 [última revisão: 81]

051. (18 fev) /RASTROS DE ÓDIO/ (John Ford, 1956) 85

052. (19 fev) /O HOMEM QUE NÃO ESTAVA LÁ/ (Joel [& Ethan] Coen, 2001) 77

053. (20 fev) FEMINICES (Domingos de Oliveira, 2004)* 60

054. (20 fev) /ÁGUA NEGRA/ (Walter Salles, 2005)* 52

055. (20 fev) /ADORÁVEL JULIA/ (István Szabó, 2004)* 54 [antes, 72, SETENTA E DOIS e um dos 10 melhores filmes lançados no ano passado]

056. (20 fev) O ÚLTIMO MITTERRAND (Robert Guédiguian, 2005)* 59

057. (21 fev) PLATAFORMA (Jia Zhang-ke, 2000)* 53

058. (21 fev) GERAÇÃO ROUBADA (Phillip Noyce, 2002)* 49

059. (21 fev) LADO SELVAGEM (Sébastien Lifshitz, 2004)* 47

060. (21 fev) FELLINI: EU SOU UM GRANDE MENTIROSO (Damian Pettigrew, 2002)* 46

061. (22 fev) OS DESTINOS SENTIMENTAIS (Olivier Assayas, 2000)* 67

062. (22 fev) /ABC AFRICA/ (Abbas Kiarostami, 2001)* 44

063. (22 fev) /DEZ/ (Abbas Kiarostami, 2002)* 72 [1a. 73; 2a. 69] (comentário nos arquivos de agosto/05, número 231.)

064. (22 fev) BULLY (Larry Clark, 2001)* 66

065. (23 fev) TAURUS (Aleksandr Sokurov, 2001)* 40

066. (23 fev) NESTE MUNDO (Michael Winterbotton, 2002)* 35

067. (23 fev) BOLIVIA (Adrián Caetano, 2001)* 63

068. (23 fev) PASSAGEM AZUL (Yee Chin-yen, 2002)* 60

069. (24 fev) A MORTE NUM BEIJO (Robert Aldrich, 1955) 80

070. (24 fev) /A VIDA MARINHA COM STEVE ZISSOU/ (Wes Anderson, 2004)* 84 [1a./2a. 82; 3a. 84]

071. (24 fev) ABOUNA (Mahamat-Saleh Haroun, 2002)* 52

072. (24 fev) CARGA EXPLOSIVA 2 (Louis Leterrier, 2005) 55

073. (25 fev) MEMÓRIAS DO SAQUE (Fernando E. Solanas, 2004)* 49 (esqueçam a nota, ver esse filme, na verdade conseguir terminá-lo sem recordar rancorosamente - ou mesmo sem recordar até o presente momento, i.e. 1 dia depois - dos momentos que antecederam a minha sessão do filme seguinte do diretor - A DIGNIDADE DOS NINGUÉNS, muito bom - no festival do rio passado foi realmente uma prova de que as coisas realmente andam e você nem percebe que está deixando algo para trás. é triste mas abençoadamente extraordinário.)

074. (25 fev) /O CASTELO ANIMADO/ (Hayao Miyazaki, 2004)* 68 [1a. 74; 2a. e 3a. 71]

075. (26 fev) ANJO DA GUERRA (André Téchiné, 2003) 51

076. (26 fev) /TRÊS REIS/ (David O. Russel, 1999) 75

Intervencionismo americano em solo estrangeiro para garantir a consolidação de direitos humanos? Esse pode ser o ponto de chegada de TRÊS REIS mas a retórica de O. Russel é tão impecável que ele consegue acoplar nessa lógica mais um prego no caixão da política externa dos EUA.

Os soldados americanos decerto adquirem Consciência, mas ela surge tão sorrateiramente que dificilmente O. Russel transforma o processo em uma maturação irreversível: tudo gira entorno de circustâncias que fracassam retumbantemente e que pedem um desenlace que não poderia ser outro. TRÊS REIS tem o charme imprevisível do tudo-pode-acontecer, o que ainda dá margem para o filme trabalhar com a idéia sempre irresponsavelmente instigante de 'já estamos ferrados' [pausa reflexiva] 'agora não tem mais volta, dane-se tudo' [fazer o que?] e essa é a tal consciência. O 'outro lado' ganha voz somente porque o quarteto deu margem para isso, não só porque três deles são salvos pelos futuros refugiados, como também um deles é interrogado e torturado por soldados iraquianos (e futuramente salvo pelos futuros refugiados). No último caso, com a tortura de Mark Whalbergh, estruturada no óbvio silogismo - bombas americanas destruíram minha casa / você é americano / você destruiu minha casa - (ninguém espera racionalidade de tanta amargura, certo?), as coisas ficam irremediavelmente claras; nesse caso a consciência advém de se colocar no lugar do outro (ao invés de um flashback com a residência destruída do iraquiano, temos um no qual o americano pensa na hipótese de uma bomba cair em sua casa), mas mesmo isso guarda um râncido sentimento alarmante ao despertar propositalmente certa compaixão do algoz para sua condição de marido-e-pai, mesmo indiretamente (i.e.: ele se identifica, mas ele quer dar o fora dali o mais rápido possível). Com os outros três as circustâncias se assemelham mais com um trabalho de parceria com os refugiados, implicando portanto em obrigações, vistas ainda no contexto restrito da honra militar.

Mas não importa porque tudo é obviamente um acidente (o ponto de partida é um acidente! um mapa na bunda!) e as coisas se complicam a tal ponto que a missão de resgate do ouro kwaitiano de não-oficial e mercenária passa a ser oficial somente porque existe uma repórter transmitindo ao vivo todo o episódio (o que acaba também exonerando os quatro de qualquer culpa). Esse último detalhe é uma ratificação na-mosca do espetáculo midiático no qual acabou degenerando todo conflito armado pós-Guerra Fria. Saddam pode ser visto como um demônio até por suas tropas, mas esse é mais um questionamento incidioso de O. Russel que, ao invés de espelhar uma visão monocórdica preto-no-branco, nada mais é que a questão que assola o lado vencido 'por que entramos nessa guerra mesmo?' arremessada contra o líder da investida. E mesmo essa questão mal é respondida pelo exército americano, que sempre acaba por dar a mesma resposta mecânica: 'viemos aqui para libertar o kuwait.' seguidas por 'deus abençoe a américa' seguidas por garrafas quebradas, homem se divertindo no pula-pula, música alta.

O. Russel é mesmo criador das melhores farsas do mercado: são bolas de neve que passam do estágio A para o B para o C e sabe aqueles desenhos animados que uma açãozinha como acender uma vela é capaz de desencadear as coisas mais inimagináveis? Pois é, ele combina essa lógica absurda com temas que a aceitam sem problemas: desde as neuroses da árvore genealógica incerta de PROCURANDO ENCRENCA, até o existencialismo dialético new age de I HEART HUCKABEES, passando por TRÊS REIS, no qual evita que os absurdos da guerra caiam na vala da animosidade de instinto celebratório, só celebrando mesmo a incapacidade de se conformar quando as coisas são problemáticas para si, óbvio.

077. (28 fev) FOGUEIRA (Joseph Cedar, 2004) 59