quarta-feira, setembro 24, 2008

SETEMBRO & OUTUBRO

N/A. (01 set) STRAVISKY... (Alain Resnais, 1974)*

N/A. (02 set) PROVIDENCE (Alain Resnais, 1977)*

125. (13 set) RECORDAÇÕES DA CASA AMARELA (João César Monteiro, 1989) ***1/2
"Aqui estamos mais uma vez sozinhos. Tudo isto é tão lento. Tão parado. Tão triste", recita em off um enfadado João de Deus enquanto um travelling se desenrola sobre o Tejo. A princípio, não parece "uma comédia lusitana", como credita o subtítulo de Recordações da casa amarela. O breve monólogo de João, alterego do diretor João César Monteiro, discorre sobre os percevejos que o atazanam, os cigarros que lhe faltam, as bananas colombianas que amadurecem (e apodrecem) num piscar, as bolhas que singram por seu corpo. É um discurso desencantado que abre um filme encantador. Monteiro afilia suas digressões, conversas de botequim e sucessivos acintes aos bons costumes à chave surrealista do que se convencionou ter por deadpan. Entre o sardônico e o apiedado, o filme é um meio riso a um só tempo voraz e taciturno.

João de Deus é personagem emblemático do olhar ancorado na sátira e no realismo que percorre as ruas de Lisboa. (E, ao contrário de Monsieur Hulot, outro afamado alterego, aqui não há espaço para o desconforto e o deslocamento; a capital lusitana é claramente a sua musa.) Um anti-herói urbano, de contornos picarescos e patéticos, João de Deus é o adorável vagabundo Carlitos em ruínas, libertino, obcecado por ninfetas e infestado de doenças venéreas. Esnoba as convenções, ri das autoridades como um boa-vida, disfarça-se de policial, dá entrada no manicômio apenas para abandoná-lo em seguida, impelido pelas sábias palavras do amigo Lívio: "Vai e dá-lhes trabalho!"

João foi e não duvido de que tenha dado. As duas horas que precedem um João iluminado, nosferatizado, saudado pela correria de crianças e interrompido pela brusquidão de um fade, são matizadas na simplicidade de um banho de sol num parque ou de conversas entre vizinhos, cada qual em sua sacada. Recordações da casa amarela dedica tempo tanto para as sonatas de Schubert, que atestam a dignidade estilhaçada de nosso herói, como para Quim Barreiros, que o alça à categoria de bufão, algo que não deixa de amortizar e dilapidar seu comportamento destrambelhado e ultrajante como um compêndio de idiossincrasias, que fazem perfeito sentido por serem tão caras ao mundo que Monteiro erige com a força peculiar de suas narrativas.

Dona Violeta, a senhoria carola de João de Deus, diz a certo ponto que "a vida está pela hora da morte". Mas certamente não a vida das personagens dessas Recordações. Sua filha, Julieta, persiste na apresentação de clarinete mesmo debaixo de um temporal; a prostituta Mimi abre o coração e desata reminiscências da terra natal, da mãe e da filha; João adoravelmente insiste num "adorei, adorei, adorei" com sua Lolita. "São os impromptus da vida", esclarece o protagonista, que, cenas depois, emenda: "Tenho mais idade do que sentimento. É minha maneira de ser velho." Do lado de cá parece exatamente o contrário.


126. (19 set) O NEVOEIRO (Frank Darabont, 2007)* ***

127. (22 set) OF TIME AND THE CITY (Terence Davies, 2008)* **

128. (23 set) /MAL DOS TRÓPICOS/ (Apichatpong Weerasethakul, 2004)* ****1/2

129. (23 set) /O MUNDO/ (Jia Zhang-ke, 2006)* **1/2

130. (24 set) INÚTIL (Jia Zhang-ke, 2007)* **

131. (24 set) LIVERPOOL (Lisandro Alonso, 2008)* *1/2

132. (24 set) LA MUJER SIN CABEZA (Lucrecia Martel, 2008)* ***

133. (25 set) MILLENNIUM MAMBO (Hou Hsiao-hsien, 2001)* ***

134. (26 set) DERNIER MAQUIS (Rabah Ameur-Zaïmeche, 2008)* ***

135. (26 set) NA CIDADE DE SYLVIA (José Luis Guerín, 2007)* ****

136. (26 set) DELTA (Kornél Mundruczó, 2008)* **1/2

137. (26 set) LA FRONTIÈRE DE L'AUBE (Philippe Garrel, 2008)* **1/2

138. (27 set) VOCÊS, OS VIVOS (Roy Andersson, 2007)* **1/2
Bom e velho (e aqui desgastante) deadpan. Começa pan, inclusivo, multiculti, toda-a-vida-humana-tem-seu-espacinho, termina dead, basta!; trata-se da mesma vida humana atrás da outra (da mesma), o mesmo "ninguém me entende" e "daqui a pouco eu vou" da mesma mulher com camisa de estampa de onça. Talvez o sonho
puxa-toalha do velhote tenha dado o tom errado para as próximas seqüências: menos que achar ímpeto e picardia no discreto charme da porcelana da burguesia (ou, à O fantasma da liberdade, em qualquer outra coisa), o filme se contenta com o pueril, pg-13, pá-pum. Volta aos eixos, enfim, na dreamy cena da lua-de-mel no finzinho. Literalmente dreamy, o que só deixa antever a sempre presente necessidade de chocar as instâncias pública e privada da vida com os paralisantes e gélidos efeitos da incomunicabilidade para a realidade, e confete-carnaval-let's-get-it-on para os devaneios (algo enervante, especialmente para um filme que dá a qualidade imaterial, cores pastel lavadas, de sonho para todas as situações, ou assim pretende). Esses projetos-de-esquete são alinhavados pela generosa bênção do é-só-cortar-pro-próximo, e aqui "o próximo, por favor" ultrapassa o "peraí, deixa mais um pouquinho". A caipirinha chegou à Suécia, quem disse que não.

139. (27 set) SOL SECRETO (Lee Chang-dong, 2007)* ****
Adaptado do MSN: O Guilherme irmão do Furtado não gostou. Sentei-me ao lado dele, o cara com aquela respiração pesada de resfriado que só um filme hipnótico deixa irrelevante. (Réplica: "Ele e o irmão são 'conhecidos' por isso.") Poderosíssimo. Sim, aquele era eu, sem me mexer, no assento.

140. (27 set) O PODEROSO CHEFÃO (Francis Ford Coppola, 1972)* ****1/2
Adaptado do MSN: Lindo, trekkies cantavam a música-tema. Ilda Santiago (acho que era a dita) inquiriu: "Quem aqui nunca viu OPC?" Eu não levantei a mão. E eu finalmente entendi uma referência de Gilmore ao filme. As duas, no primeiro episódio da temporada 4, planejam rever a trilogia, e, no meio do nada, Lorelai fala "monday, tuesday, thursday" com sotaque siciliano. Nunca entendi porque wednesday foi pulado até poucas horas.


141. (28 set) O BOM, O MAU, O BIZARRO (Kim Ji-woon, 2008)* **1/2

142.
(28 set) /NA CIDADE DE SYLVIA/ (José Luis Guerín, 2007)* *****
"We're only good at brief encounters, walking around in European cities in warm climate", diz Julie Delpy no último filme que fez meu coração disparar, Before Sunset. Outro breve encontro, uma nova cidade européia, semelhante clima ameno e o coração numa maratona, não numa corridinha. Medalhas no peito de Guerín por permitir estupor e abstração em igual medida para um filme tão absorto nas delícias do flanar-por-aí. Primeira vez visto, fiquei desnorteado com a parte final, pós-Heart of Glass; na revisão, uma velhinha toma sundae, um grupo de amigos se banha num rio urbano, as folhas amareladas do caderninho tomam vida, "deixa o cafezinho que me deu vontade agora". Fabulosa tessitura humana, as pessoas são verdadeiramente boas de novo, é uma delícia tomar suco de maracujá, ouvir Blondie e ganhar duas cerejas colhidas há pouco do feirante. Honestamente, traga a parte B (com a árvore de vaga-lumes à tiracolo) de Mal dos trópicos para perto do lindo, mágico trem urbano que cruza Strasburgo, e você tem dois arrebatadores conceitos de setpiece. Unsquare Dance, dazzling composição do Dave Brubeck, é a experiência sonora mais próxima; o Rio é mais Strasburgo nas maravilhosas vielas e projetecos de rua entre o Arco do Teles e o CCBB. Reencenar Sylvia, rever Sylvia: Laure, eu te amo.

143.
(28 set) TRAQUINAGENS (Andrzej Jakimowski, 2007)* ***1/2

144.
(28 set) DEREK (Isaac Julien, 2008)* **1/2

145.
(29 set) SAN MICHELE AVEVA UN GALLO (Paolo e Vittorio Taviani, 1972)* ***

146.
(29 set) AQUELE QUERIDO MÊS DE AGOSTO (Miguel Gomes, 2008)* ***1/2

147.
(29 set) PLUS TARD (Amos Gitai, 2008)* **

148.
(30 set) A NOITE DE SÃO LOURENÇO (Paolo e Vittorio Taviani, 1982)* ***

149.
(30 set) A VIAGEM DO BALÃO VERMELHO (Hou Hsiao-hsien, 2007)* ****1/2

150. (01 out) O CASAMENTO DE RACHEL (Jonathan Demme, 2008)* ***1/2

N/A. (01 out) THREE TIMES (Hou Hsiao-hsien, 2005)*

151. (02 out) /BLISSFULLY YOURS/
(Apichatpong Weerasethakul, 2002) [dvd projetado] ****

152. (02 out) XIAO WU (
Jia Zhang-ke, 1997)* ***1/2

153. (03 out) NOITE E DIA (Hong Sang-soo, 2008)* ***1/2

154. (04 out) [REC] (Jaume Balagueró e Paco Plaza, 2007)* **1/2

155. (04 out) LES AMOURS D'ASTRÉE ET DE CÉLADON (Eric Rohmer, 2007)* ***

156. (04 out) PROCEDIMENTO OPERACIONAL PADRÃO (Errol Morris, 2008)* **1/2

157. (04 out) /SÍNDROMES E UM SÉCULO/ (A
pichatpong Weerasethakul, 2006)* ****1/2

158. (06 out) QUATRO NOITES COM ANNA (Jerzy Skolimowski, 2008)* *1/2

169. (06 out) BALLAST (Lance Hammer, 2008)* ***

170. (07 out) GONZO: THE LIFE AND WORK OF DR. HUNTER S. THOMPSON (Alex Gibney, 2008)* ***

ZZZ. (07 out) AQUILES E A TARTARUGA (Takeshi Kitano, 2008)*

171. (08 out) SAD VACATION (Shinji Aoyama, 2007)* **

172. (08 out) TOKYO SONATA (Kiyoshi Kurosawa, 2008)* ***

173. (10 out) OM SHANTI OM (Farah Khan, 2007)* **

174. (10 out) /NA CIDADE DE SYLVIA/ (José Luis Guerín, 2007)* *****

175. (10 out) /LA MUJER SIN CABEZA/ (Lucrecia Martel, 2008)* ***1/2 [antes: ***]

176. (11 out) SLEEPING DOGS LIE (Bob Goldthwait, 2006) ***1/2

177. (12 out) VERÃO DE 2004 (Stefan Krohmer, 2006) ***1/2

178. (12 out) COME EARLY MORNING (Joey Lauren Adams, 2006) ***

179. (12 out) /MICHAEL CLAYTON/ (Tony Gilroy, 2007)* ***1/2 [antes: 61]

180. (12 out) EDMOND (Stuart Gordon, 2005) ***

181. (13 out) FUNNY GAMES U.S. (Michael Haneke, 2007)* ***1/2

182. (14 out) O BALÃO VERMELHO (Albert Lamorisse, 1956)* ****1/2

183. (14 out) O CAVALO BRANCO (
Albert Lamorisse, 1953)* ****1/2

184. (15 out) DO OUTRO LADO (Fatih Akin, 2007)* ***

185. (17 out) ELEGY (Isabel Coixet, 2008)* **1/2

186. (17 out) IN BRUGES (Martin McDonagh, 2007)* ***

187. (26 out) /PLAYTIME/ (Jacques Tati, 1967) *****

188. (27 out) MISTERIOSO OBJETO AO MEIO-DIA
(Apichatpong Weerasethakul, 2000) ***

189. (28 out) SHADOWS (John Cassavetes, 1959)* ****

c??. (28 out) REPORT (Bruce Conner, 1967) *****

190. (29 out) NOSFERATU (F.W. Murnau, 1922)* ***

191. (29 out) /AURORA/ (F.W. Murnau, 1927)* *****

ZZZ. (30 out) /A ÚLTIMA GARGALHADA/ (F.W. Murnau, 1924)* magnífico, óbvio

192. (31 out) AS FINANÇAS DO GRÃO-DUQUE (
F.W. Murnau, 1924)* ***