sábado, julho 24, 2004

brilho eterno:

reconhecer que os momentos de êxtase estão intrínsecos aos de agonia e danação é, resumidamente, o que brilho eterno se propõe a fazer. nos últimos momentos, joel e (oh, my darling) clementine valorizam sua intimidade cintilante ao ponto do provável desgaste da relação (evidenciado com o destino melancólico da primeira vez) se tornar quase insignificante. Ao abraçar a possibilidade de concretização da dor e perda, o casal também abraça seus instantes de felicidade. Eu, particularmente, não encaro o 'okay' da dupla como um novo lance de dados, no qual essa jogada simbolizaria uma nova chance para que o relacionamento não acabe com a ajuda prolífica de uma corporação ilegal; o filme pode até arranhar o tema 'segundas chances' mas, acima de tudo, aborda a valorização extremada, hiperbólica do compromisso firmado. até porque esse compromisso propiciou tantas mudanças de conceitos, possibilitou o desenvolvimento da noção de convivência, redesenhou toda uma vida. apagar os momentos terríveis é uma forma de deixar os maravilhosos à deriva; como categorizar algo em positivo ou negativo, se um desses componentes é inexistente? o desagradável condiciona o paladar aceitável para degustar o êxtase. logo, essa dependência dos extremos se encaixa não só na percepção de estados de espírito como também dentro do compromisso, com duas personalidades absolutamente díspares fazendo concessões e fechando os olhos para atitudes do outro. ou seja, brilho eterno é uma ode à percepção do compromisso. e me deixou inebriado de forma parecida, ainda que menos intensamente, com minha reação a embriagado de amor ou amor à flor da pele.

90 


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