segunda-feira, dezembro 05, 2005

DEZEMBRO

406. (05 dez) COISA MAIS LINDA (Paulo Thiago, 2005)* 49

407. (05 dez) EM SEU LUGAR (Curtis Hanson, 2005)* 63

408. (07 dez) CORAÇÕES E MENTES (Peter Davis, 1974)* 65

409. (07 dez) /TEOREMA/ (Pier Paolo Pasolini, 1968)* 51 [originalmente: 42]

410. (07 dez) O HOMEM DAS NOVIDADES (Edward Sedgwick, 1928)* 72

411. (08 dez) MANDERLAY (Lars von Trier, 2005)* 75

412. (08 dez) EROS (Michelangelo Antonioni, Steven Soderbergh & Wong Kar-wai, 2004)* 53 [40 / 56 / 64]

413. (08 dez) WHEN WILL I BE LOVED (James Toback, 2004) 59

414. (09 dez) BARCELONA (Whit Stillman, 1994) 67

415. (09 dez) SHATTERED GLASS (Billy Ray, 2003) 32

416. (10 dez) O OTÁRIO (Jerry Lewis, 1964) 60

417. (11 dez) O CASAMENTO DE MARIA BRAUN (Rainer Werner Fassbinder, 1979) 79

418. (12 dez) /MANDERLAY/ (Lars von Trier, 2005)* 53 [originalmente: 75]

419. (12 dez) CINEMA, ASPIRINAS E URUBUS (Marcelo Gomes, 2005)* 62

420. (12 dez) /BATMAN BEGINS/ (Christopher Nolan, 2005) 54 [originalmente: 27]

421. (13 dez) CONVERSANDO COM MAMÃE (Santiago Carlos Oves, 2004)* 50

422. (13 dez) HABANA BLUES (Benito Zambrano, 2005)* 48

423. (14 dez) /A VIDA SECRETA DOS DENTISTAS/ (Alan Rudolph, 2002)* 82 [originalmente: 76]

424. (14 dez) HARRY POTTER E O CÁLICE DE FOGO (Mike Newell, 2005)* 69

425. (14 dez) JUNK MAIL (Pål Sletaune, 1997) 41

426. (15 dez) O RESGATE DO SOLDADO RYAN (Steven Spielberg, 1998) 73

427. (16 dez) KING KONG (Peter Jackson, 2005)* 65

428. (16 dez) MIFUNE (Søren Kragh-Jacobsen, 1999) 39

429. (16 dez) /AS VIRGENS SUICIDAS/ (Sofia Coppola, 1999) 74

430. (17 dez) O TEMPERO DA VIDA (Tassos Boulmetis, 2003)* 21

431. (20 dez) TEMPO DE MATAR (Joel Schumacher, 1996) 31

432. (21 dez) LOLA (Rainer Werner Fassbinder, 1981) 61

433. (22 dez) DEMENTIA 13 (Francis Ford Coppola, 1963) 58

434. (22 dez) THE DOOM GENERATION (Gregg Araki, 1995) 69

435. (22 dez) ED WOOD (Tim Burton, 1994) 67

436. (23 dez) FINAIS FELIZES (Don Roos, 2005)* 52

437. (23 dez) QUERIDA WENDY (Thomas Vinterberg, 2004)* 65

438. (26 dez) OLIVER TWIST (Roman Polanski, 2005)* 62

439. (27 dez) /BEFORE SUNSET/ (Richard Linklater, 2004) 98 [última revisão: 95]

440. (28 dez) /ALILA/ (Amos Gitai, 2003)* 55 [originalmente: 68]

441. (28 dez) NO SILÊNCIO DA NOITE (Nicholas Ray, 1950) 81

sábado, novembro 12, 2005

adicionado: LILA DIZ + uma explicação que começa com 'é inexplicável'.

***

289-357 (22 set - 12 out) Festival do Rio + dois nórdicos + ALILA

358. (13 out) /ESPELHO MÁGICO/ (Manoel de Oliveira, 2005)* 49

359. (19 out) EL BONAERENSE (Pablo Trapero, 2002) 59

360. (19 out) HORA DE VOLTAR (Zach Braff, 2004) 52

361. (20 out) O FANTASMA (João Pedro Rodrigues, 2000) 48

362. (20 out) /EXÍLIOS/ (Tony Gatlif, 2004)* 56 [originalmente: 63]

363. (20 out) /A VIDA MARINHA COM STEVE ZISSOU/ (Wes Anderson, 2004) 82

364. (21 out) I'LL SLEEP WHEN I'M DEAD (Mike Hodges, 2004) 61

365. (21 out) /A VIDA MARINHA COM STEVE ZISSOU/ (Wes Anderson, 2004) 84

366. (24 out) FILHAS DO VENTO (Joel Zito Araújo, 2005)* 45

367. (26 out) OS IRMÃOS GRIMM (Terry Gilliam, 2005)* 40

368. (26 out) HENRY FOOL (Hal Hartley, 1997) 74

369. (27 out) A OUTRA FACE DA RAIVA (Mike Binder, 2005) 57

370. (28 out) UM DIA SEM MEXICANOS (Sergio Arau, 2004)* 34

371. (28 out) O REI DE NOVA YORK (Abel Ferrara, 1990) 73

372. (28 out) LABIRINTO DE PAIXÕES (Pedro Almodóvar, 1982) 66

373. (29 out) /RUSHMORE/ (Wes Anderson, 1998) 91 [última revisão: 84]

374. (29 out) WERTHER (Max Ophüls, 1945) 75

375. (29 out) SECRETÁRIA (Steven Shainberg, 2002) 37 (vamos a cena: nossa heroína presencia o pai bêbado batendo na mãe e, na cozinha, ferve água em uma chaleira, sobe as escadas, vai para o seu quarto, levanta a barra do vestido e se queima, após uma expressão de dor no rosto, o alívio. essa seqüência desenrola-se logo no início do filme, quando a protag. deixa a clínica de reabilitação (a desordem que a colocou aí não é especificada prontamente), promovendo uma curiosidade compulsória nos espectadores, observando avidamente algum indício, um comportamento Fora do Normal por parte dela, de volta a casa dos pais. se não me engano, antes da cena citada, já temos uma em que ela se corta propositalmente, mas ainda assim, é uma cena-chave para comprovarmos o que quer que queiramos comprovar (talvez o corte da cena anterior indique 'tristeza suicida' e não 'conforto na dor'). a chaleira, no caso, poderia ser usada para fazer um chá com propriedades terapêuticas (uma recomendação da clínica?) ou a água quente no seu interior poderia ser jogada em seu pai como se ela exclamasse Basta aos seus abusos. mas ela acaba por se queimar. o trágico nesse raciocínio é ele revolve unicamente em aceitarmos que aquela mulher tinha opções infinitas com aquela chaleira, mas ela optou pela atitude mais incompreensivelmente extrema (nos falta subtexto para racionalizar isso fora deste âmbito) e somente a comparação entre o que uma pessoa normal faria em uma situação daquelas e o que foi feito de fato pela protag. já constitui no mais râncido dos processos de identificação propostos, já que nesse filme ele se traveste de um 'teste de fé', manifestando apreço pela psicologia barata ('ela é problemática porque tem problemas em casa.') e avaliando nossa compaixão/solidariedade como uma ferramenta útil para permanecer ileso nesse mundo pervertido de cores pastéis, honrando assim toda a glória do modelo-padrão da comédia de originalidade esquisitóide. outro detalhe dessa mesma cena é a ambientação no quarto dela: o cômodo, localizado no segundo andar da casa, ganha aqui ares de Refúgio, é decorado de forma a parecer uma ilha de afetação, projetada por uma menina de 15 anos deslumbrada com penduricalhos multi-coloridos e muito fru-fru, denotando nas entrelinhas que aquele local foi intocado pelos pais (talvez eles quisessem apagar tudo e começar do zero com a filha quando ela retornasse para casa?) e, principalmente, que a protag. está parada no Tempo, se refugiando no Passado. é um subtexto inglório justamente por ser perfeitamente calibrado, pois sabemos que algo assim nunca será retomado em momento posterior nenhum, é apenas um toque poderoso, mas feito por efeito e não por convicção. trata-se realmente um filme de Toques, alguns bons e subaproveitados (a mãe leva e busca a protag. no seu emprego, e a última nunca vai no assento do carona, preferindo ir deitada no banco traseiro, que em alguns momentos parece um divã, dada a quantidade de elucidações que a primeira explicita para tentar tirar alguma coisa da filha), outros óbvios e superaproveitados (as flores no interior do escritório de spader, mantidas com cuidado extremo; uma delas é surrupiada pela protag. que a leva para casa e também cuida com dedicação da planta; é praticamente uma declaração de amor que não-tão-sutilmente-assim revela que 'é preciso ter dedicação para manter algo vivo', hmmm, seria o amor entre eles?) que pensam estar maduros o bastante para constituirem Temas, mas que são só rascunhos da primeira leva. identificar os Temas como Rascunhos de um Emaranhado de Toques dificilmente abarcará as noções risíveis de shainberg a respeito dos relacionamentos humanos, e de humanos, mesmo. para o diretor, uma comédia com requintes de sadomasoquismo ganha relevância quando tudo -- inclusive relações de conduta tipicamente burocráticas -- ganha um tom meio desequilibrado, a-beira-do-precipício: quando a protag. e seu namorado boa-praça trepam e ele pergunta para ela 'se ele a machucou', bam!, close no rosto dela, desapontado. é 'engraçado' pela consciência do cara de que trepou como uma máquina e pela reação da mulher que queria que a máquina tivesse uma potência maior, mas não deixa de conter uma subversão tão almejada quanto planejada, entendendo as necessidades da mulher moderna nesse departamento (preliminares, carinho como aquele dedicado a Planta) como deficientes para essa mulher em particular. tão deficientes, mas tão deficientes que um sadomasoquista só pode ser compreendido realmente por um sadista dominador; o diretor depositou suas fichas nessa idéia e criou um clip de cinco minutos exibindo o casal principal naquela harmonia de comercial-de-margarina (incl. tomada constrangedora de spader passando a mão nas cicatrizes do corpo da mulher amorosamente, com expressão 'agora te entendo pela primeira vez') e um casamento com vestido de noiva preto e lua-de-mel num tronco de árvore. a lógica é simples: estamos diante dos enferrujados mecanismos das comédias românticas, em que Necessitado Encontra Necessitado, e aqui, como num passe de mágica, a ligação entre uma pessoa que gosta de bater e outra que gosta de apanhar é imediata (a química, a química). até aí tudo bem, esse casal só se difere dos outros em hábitos e endereço, mas shainberg mete o bedelho e faz uma rendição da sociedade perante esse mesmo casal, deliciosamente estranho e institinvamente puro, quando coloca a imprensa local (/a voz popular) cobrindo a greve de fome da protag.. é como se a sociedade aceitasse o casal apenas superficialmente, apenas observando a distância a forma encontrada por ela para expressar seu amor (ela o ama, ela não ama a dor provocada por ele) mas, em contrapartida, é como se os espectadores aceitassem o casal apenas superficialmente, apenas observando a distância a forma encontrada por ela para expressar seu amor (ela o ama, ela não ama a dor provocada por ele). se você pensar bem, é uma ironia plausível -- testemunhar que, agora, ela não é mais uma pária, fazendo parte do meio social justamente por expressar seu amor nesses termos convencionalmente fatalistas ('volta para mim ou eu me mato') -- mas nada adequada já que em nenhum instante ela foi tratada como pária (não que esse tratamento garantisse a minha simpatia ao filme) mas sim, como uma mulher que ama a-sua-maneira. é o típico caso de muito-barulho-por-nada, embora deva se fazer algum barulho para dizer que eu nunca me deparei com uma narração em off tão absurdamente grotesca quanto essa, pipocando sempre que possível para fazer algum comentário sobre as intenções da respectiva cena dentro do Contexto Geral do Projeto, ou algo assim.)

376. (30 out) /EU AINDA SEI O QUE VOCÊS FIZERAM NO VERÃO PASSADO/ (Danny Cannon, 1998) 53 (...enquanto isso eu ainda não sei o que fez desse petardo uma experiência agradável, interessante e bastante digna (pelo menos antes de sair dos trilhos na meia hora final). passou em sessão dupla na tv com o filme anterior, e como esse log não me deixa mentir, eu admito que a primeira parte não passou pelo meu crivo uma segunda vez, exceto pelos últimos minutos. pouco importa, aliás, melhor assim: todo o subtexto da consciência pesada do primeiro filme (antes, obviamente, do pessoal descobrir que o morto está mais-vivo-do-que-nunca) ganha de lambuja uma temática subseqüente, uma resposta a altura, a Paranóia de uma mente atordoada pelos fatídicos-mas-não-fatais acontecimentos anteriores. justamente por não rever o debut da série já devidamente enterrada, esses fatos estão notoriamente vagos e indistintos na minha cabeça, mas não a ligação entre um filme e outro (a cena final de EU SEI é um gancho clássico, trazendo inscrito no espelho do banheiro da protag. o início do título do próximo: EU AINDA SEI; esse daqui começa com um sonho, de cores fortes e sombrias, dentro do confessionário, no qual o padre é o assassino), o que indica tanto que o espaço de tempo entre um e outro foi consumido por esse tipo de ameaça nebulosamente anunciada e não levada as últimas conseqüências, como também parece unir os dois filmes dentro de uma idéia meio estagnada, aérea de superação de adversidades, a qual temos um provável delírio no banheiro (ninguém mais leva a sério esses ganchos, eles são praticamente um teaser do próximo filme) unido a um outro delírio -- esse, delírio ao pé da letra -- deixando o terreno para a continuação produtivamente incerto (p. ex.: será que personagem X do filme 2 estava presente no filme 1? como eu não me recordo eu faço um pequeno diagrama: se sim, porque então ele não manifesta nenhum vestígio de paranóia, ou mesmo se não for o caso, porque não revela seu alívio por estar vivo? se não, porque aqueles momentos finais o qualificam como participante da tragédia anterior, mostrando que ele está 'interessado' naquilo -- ou será que é um interesse exclusivamente presente para aumentar suas chances de 'salvar a pele' --, dizendo coisas como 'mas ele não estava morto?' e recebendo como resposta 'o corpo nunca foi achado'. obviamente tal personagem poderia ter apenas conhecimento da história, como eu e você, mas como eu não me lembro do primeiro filme...), já que nesse filme, já começamos pisando em ovos, sem nenhuma observação denotando que a vida dos personagens poupados foi reconstruída. (eu sei, esse argumento é patético, praticamente louvando o fato de ter perdido o outro, então encare a cotação como 53-sem-ter-visto-o-anterior-recentemente). enxerga-se paranóia em tudo (alerta! mente tumultuada!), inclusive minha reação diante da clássica cena em que a rádio pergunta para a amiga da protag. qual é a capital do brasil e a outra apanha um pacote de café e observa em algum canto 'rio de janeiro' (a interlocutora diz primeiro 'rio' e depois, 'rio de janeiro', como se fosse novidade a segunda parte) foi justamente uma pegadinha mortal e realmente é (obviamente não excluo a possibilidade disso ter permanecido em alguma gaveta do meu subconsciente esses anos todos, além disso, o fato de saber qual é a capital do brasil me coloca em vantagem; voltarei a isso no fim desse comentário, paciência), mas essa primeira metade é tão ensolarada e cheia de gente querendo transar, e lotada de complicações amorosas que pedem desenlace imediato que esse é quase um detalhe. chegamos na ilha e prontamente temos várias pessoas tipicamente sinistras encarregadas das mais diversas atividades; o cara do barco que os leva ao hotel diz que 'só se chega e sai da ilha com aquele transporte', o carregador diz que as suítes concedidas para o quarteto 'raramente são usadas', a moça do bar tem aquela espontaneidade geralmente associada aos efeitos do álcool e diz que 'amanhã começa a baixa temporada' etc. cada um ali está disposto a produzir uma alfinetada em nossas pretensões sanguinárias, despertando-as, recorrendo a fatos que geralmente ocorrem na pior das hipóteses em resorts e colocando tudo no mesmo saco com um lacônico 'boa sorte' estampado. tudo é esquemático, mas os diálogos são supreendentemente vívidos, alguns tanto que se assemelham aos de armitage, quando não estão preocupados em fazer homenagens a jason e freddy; p. ex., quando se depara com uma cabine de bronzeamento artificial, nossa heroína solta algo como 'caixa do câncer' antes de entrar nela e é o tipo de comentário deliciosamente espertinho que origina uma certa preocupação minha com o fato dela não usar continuamente os óculos protetores durante o curso do bronzeado etc. a meia hora final irrompe e interrompe os diálogos discretamente ressonantes; as caracterizações plausivelmente tapadas (vítima #1: paranóica-com-razão, #2: boa-praça-com-segredo, #3: quero-te-comer, #4: quero-te-dar) cedem lugar a um bocejo ou outro mas o que dizer de um filme que mata todos os homens da ilha, deixando três mulheres indefesas, e quando se pensa no subtexto da nova onda do poder cor-de-rosa vemos nosso herói (dói no coração descrever freddie prinze jr como herói) ao resgate, enfrentando correntes traiçoeiras do mar caribenho? o que dizer de um filme que nos revela que o galã em potencial -- leva rosas e champanhe para o quarto mas acredita que o sexo pode esperar -- que, graças a um trocadilho infame (o sobrenome do assassino é benson, daí ele se apresenta como o filho dele, dizendo 'ben--aqui ele faz uma pausa conscientemente enaltecedora--son') reverte as expectativas de um happy ending ligeiramente problemático (dois homens, uma mulher) e de outro vamos-despachar-prontamente-um-vértice (um homem, um defunto, uma mulher)? o que dizer de um filme que escala jack black nos tempos áureos da esculhambação para o papel de um maconheiro que cultiva a erva no próprio quarto, falando respeitosamente com elas? o que dizer da cena em que os médicos constatam que o paciente abandonou seu leito no hospital (incluindo clássico close na janela escancarada!)? o que dizer de momentos como aquele em que nossa heroína intrépida segue até o mapa mundi e, abismada, percebe que a capital brasileira é brasília ('foi uma armadilha!')? se bem que eu preferiria que o assassino tivesse aparecido na ilha usando um dispositivo moderno de localização gps ao invés de ter aprontando esse erro geográfico proposital. seria legal imaginar americanos agindo como os antiamericanos apregoam, insolentes, virados para o umbigo, acreditando piamente no rio como resposta até o fim. talvez se esse filme tivesse sido escrito/rascunhado pós-11/09 os roteiristas deixassem essa pequena e ácida brecha para a tão-em-pauta ignorância do tratamento ianque aos países do sul... obviamente, esse não é um filme para a faixa dos 50, o que ajudou foi não ter visto nenhum terror teen há alguns bons meses, o que fez com que respondesse a certas coisas com algum estímulo incisivo e não com indiferença cruel; também não assusta, mas isso atualmente não importa num filme de terror.)

377. (30 out) O DEMÔNIO DA ARGÉLIA (Julien Duvivier, 1937) 80

378. (01 nov) ANJO (Ernst Lubitsch, 1937) 81

379. (02 nov) EASY VIRTUE (Alfred Hitchcock, 1928) 47

380. (02 nov) ACOSSADO (Jean-Luc Godard, 1960) 58

381. (02 nov) SÓCIOS NO AMOR (Ernst Lubitsch, 1933) 72

382. (04 nov) /PUNCH-DRUNK LOVE/ (Paul Thomas Anderson, 2002) 100, óbvio

383. (05 nov) /ASSALTO À 13a DP/ (Jean-François Richet, 2005) 49 [originalmente: 45]

384. (06 nov) GHOST DOG (Jim Jarmusch, 1999) 72

385. (07 nov) A BELA DO PALCO (Richard Eyre, 2004)* 67

386. (08 nov) A TEIA DE CHOCOLATE (Claude Chabrol, 2000) 53

387. (08 nov) EM CARNE VIVA (Jane Campion, 2003) 70

388. (09 nov) BETTY FISHER E OUTRAS HISTÓRIAS (Claude Miller, 2001) 66

389. (09 nov) KEN PARK (Larry Clark & Edward Lachman, 2002) 69

390. (10 nov) /EM CARNE VIVA/ (Jane Campion, 2003) 77

391. (10 nov) DO JEITO QUE ELA É (Peter Hedges, 2003) 55 (o tratamento é sitcômico, com um ponto de partida razoavelmente
compenetrado -- Filha Ingrata oferece o jantar de ação de graças no seu apartamento para o restante da Família, incl. mãe, paciente Terminal de Câncer -- se transformando progressivamente-num-estalo numa jornada cheia de altos e baixos (ie. subir e descer as escadas do edifício) em busca de um forno desocupado para assar o peru. paralelamente, hedges salienta a porção road movie de seu filme, ao abordar a família da menina na viagem de carro, sinalizando sempre que cada parada de beira de estrada tem seu significado especial. eles pegam a vovó no asilo (mais um membro recrutado, nem que sua função primordial seja dizer 'april [a protag.]? mas ela não morreu?'), eles param numa lanchonete e fazem a festa (motivo: não confiam nos dotes culinários da filha), eles saem do carro e esticam as pernas após um estopim de inadequação familiar (que no entanto se revela fogo-de-palha). e é mesmo. trata-se de um filme tão supreendentemente sereno para lidar com esse tipo de Mácula, adiando e adiando o desenlace (ou seja, o jantar) o máximo possível, talvez afirmando nem-tão-sutilmente-assim que aquelas pessoas precisam acertar as contas consigo mesmas para depois iniciar um confronto mais específico umas com as outras. hedges também reverte expectativas de classe: o namorado negro de april é solícito e o grande incentivador do gesto da menina, mas bate na tecla do preciso-resolver-algumas-coisas, e nesse percurso nós o vemos sendo informado por um menino (aviãozinho?) de que X está a sua procura e depois ele fica pendurado no telefone público, apenas para depois entendermos que a pessoa que chega junto a ele não é um traficante nem usuário, mas sim, um empregado de um brechó, no qual ele pretende comprar um terno usado; a família negra no condomínio inicialmente não se solidariza de todo com o problema da menina, alegando que ela é branca, rica e tem toda a vida pela frente então-não-reclame e somente depois da menina contar que aquela é provavelmente a última ocasião em que ela verá sua mãe, o casal abre um sorriso e se dispõe a ajudar. o restante do prédio está povoado por caricaturas dolorosamente construídas a) na fama da sisudez cada-um-cuida-de-si nova-iorquina e b) a partir da cartilha do homossexual-ressentido -- e no pior casting de todos os tempos, nós temos um dos gays de will & grace interpretando a figura -- pós-moderno, aquele que desvia seu afeto para um cachorrinho bem-cuidado e equipa sua cozinha com fogão de última geração apenas para se revelar finalmente uma vaca vingativa. mas isso não é importante realmente, afinal, temos aqui o tão-falado abismo de gerações no centro do picadeiro e, bem, a família de april tem aquela casa espaçosa no subúrbio, um carro na garagem, uma filha patricinha e o filho esportista e o confronto essencial recai no apartamento caindo aos pedaços da protag. e seu vestuário meio alternativo, suas atitudes, aliás, (não saber cozinhar, comprando tudo enlatado e pré-aquecido; a preguiça quando é acordada pelo namorado) são perfeitamente cabíveis em qualquer garota da sua idade; então hedges trabalha a beira do precipício, com essa qualidade meio coça-a-cabeça de 'como isso aconteceu? como essa família rachou ao meio?' e ele se recusa a prover algum flashback explícito, mas apenas lembranças, ou melhor, a falta de boas lembranças que os pais tem da menina e vice-versa; no entanto, algumas ocasiões embaraçosas se fazem presentes como april dizendo para si mesma que ela não é uma bad girl ou durante sua aula de história americana aos chineses que quase funcina como uma rendição incondicional dela a sua Natureza, mencionando os invasores protestantes no contexto do massacre indígena etc. como se isso a fizesse entrar em contato com o Passado e com os pais, por extensão. hedges escorrega mas fecha o filme com chave-de-ouro ao consagrar a reunião familiar nos últimos minutos como um ambiente festivo, multiculti (chineses, negros) e de ampla espontaneidade da parte de todos e, para tanto, esses momentos são constituídos por fotos e pequenos filmetes que não duram mais de 15 segundos cada (algo que poderia ser feito num celular ou numa câmera digital, p. ex.) portanto, de alguma forma nós não somos convidados para aquela celebração, nós apenas passamos as páginas do álbum de fotografias e assistimos os tais filminhos e a lógica tão estapafúrdia daquela família faz sentido pela primeira vez, justamente por estar tão removida e afastada; o espectador toma consciência de que a ele não é pemitido colocar a mão ali e apontar alguma falha já que o contexto da cena é tão particular e interno (reencontro = despedida). ainda assim, não é exatamente um bom filme, mas também o que esperar de algo introduzido pela rede telecine como 'veja a futura sra. cruise em ação'?)

392. (11 nov) MARCAS DA VIOLÊNCIA (David Cronenberg, 2005)* 66 (para os fãs ardorosos eu sugiro uma revisão atenta de punch-drunk love (sim!) & ghost dog, são imensamente mais expressivos, embora eu realmente pense que cronenberg conseguiu Algo Notável aqui e o teor da coisa toda lembra mystic river. revisão ao resgate!)

393. (11 nov) A NOIVA-CADÁVER (Tim Burton & Mike Johnson, 2005)* 65

394. (11 nov) /A NOIVA-CADÁVER/ (Tim Burton & Mike Johnson, 2005)* 64

395. (12 nov) ELIZABETHTOWN (Cameron Crowe, 2005)* 60 (a narração em off, a certo momento, solta: 'um sapato nos conecta a Terra'. terra, solo, energia cósmica, planeta-água. assim funciona a mente do protagonista, repleta de associações de a-para-b, rodopiando em círculos em torno do umbigo, algo comprovado nos primeiros minutos, nos quais crowe constrói seus travellings visando beneficiar olhares de solaio dos colegas de trabalho, os quais bloom rigorosamente qualifica como 'últimos olhares', e realmente, o filme parece apoiar a idéia de 'deixar para trás' certas coisas, ao não voltar para essas pessoas, exceto em uma conversa de telefone com a ex-namorada, o que não constitui um contato visual per se. a caracterização de bloom é um pouco problemática e ao mesmo tempo, certeira, indicando que existe uma certa maleabilidade de postura, uma brecha para a inclusão na sua lábia de coisas como 'sucesso não é o mesmo que excelência' e 'fracasso não é o mesmo que fiasco' e isso é manifestado em off, o que permite que se entenda esses tiques como parte do Personagem, e não pertencentes aquele homem, naquele momento em que ele está prestes a ser despedido. dito isso, vamos agora para a sequência do avião. dunst é quase uma figura do imaginário nerd: caiu do céu (é aeromoça), vem ao seu encontro solictamente ('quer beber algo?'), é esperta e neurótica na medida certa, e acima de tudo, é loira. mas ela não respeita o Espaço do Outro exatamente, fazendo perguntas sem parar e dizendo coisas como 'posso transformar o cinza em azul'. existe uma cena desajeitada de rendição semi-incondicional: bloom segura o terno que vestirá seu pai-defunto e dunst se oferece para 'lidar com aquilo' (em inglês, handle), e ele receoso continua segurando a roupa, daí ela fala 'solta!' e ele solta. é desajeitado porque precisa de uma construção de duplo sentido (lidar com a Morte contigo / guardar o terno para você) para se fazer valer e equaciona a 'rendição' dele perante ela com o ato da entrega da roupa, ou seja, absurdamente na-cara. (nota: vocês perceberam que esse comentário está seguindo a ordem das minhas anotações de diálogos e pequenas cenas e portanto não será um texto corrido, mas um pit stop em paradas não-obrigatórias? pois então percebam.) e bloom chega na cidadezinha sulista parada-no-tempo com seu carrão alugado e todas as pessoas ali indicam o Caminho a Ser Seguido, apontando com o braço e sorrindo e ele sorri de volta e o filme quase vira HISTÓRIA REAL para jovens empreendedores. não vejo nada de errado se entrincheirar nesse tipo de glorificação mitológica dos estados unidos interiorano, celebrando seus valores em confluência com os do transeunte de modo a indicar um certo Incentivo, uma propulsão para Continuar (o caso de alvin straigh no deslumbrante HR ainda leva em conta seu inusitado meio de locomoção, o que o caracteriza como Uma Figura de Passagem) mas esse tipo de construção soa medíocre quando seu propósito é claramente contrapor o way of life opressor e nebuloso do executivo com o otimismo da parentada caliente, beliscando-a-bochecha desinibida, num movimento de Volta ao Passado, ou seja, Volta as Origens, ou seja, 'isso é o que você é'. mas, calma, talvez crowe esteja interessado no relacionamento entre pais e filhos quando somos tomados de assalto por uma profusão de tomadas indicando retratos do pai de bloom recebendo medalhas, rodeado de amigos etc. e ele não consegue sentir nada (esse é aparentemente um sintoma atual dos Nossos Jovens, desde scarlett johansson de ENCONTROS E DESENCONTROS até zach braff de HORA DE VOLTAR), está Paralisado e somos lembrados disso insistentemente seja via perguntas como 'você já chorou? quando começar vai durar alguns meses...' (isto é: já caiu a ficha?) até bloom de olhos-tristes-olhando-para-o-vazio. isso faz parte, mas uma das graças inesperadamente ressonantes aborda isso na ótica do paizão ex-baterista de uma banda de fundo de quintal que diz coisas como 'não sigo a linha conservadora para educar meu filho', quando seu pai solta: 'você não pode ser amigo do seu filho' e isso é interessante já que são personagens que estabelecem uma Presença; crowe não os abandona antes de começar a trabalhá-los devidamente, ele os leva para o terreno da caricatura unicamente para desenvolver experimentações objetivando um contra-argumento na temática do descompasso de gerações. próximo ponto? tic-tac-tic-tac. a conversa de caboom e dunst no celular é perfeitamente calibrada, eles estão no ponto certo da total imersão e seus tópicos (esp. a maneira apressada como eles passam de um para outro) lembram os de ethan e julie dos BEFOREs, jovens absortos em seus problemas mas espertos o bastante para contextualizá-los uns nos (dos) outros, e crowe é mestre em criar cumplicidade asubstantivada a la gilmore girls (o exemplo perfeito é encontrado fora dessa cena: bloom diz 'eu conheço meu pai muito bem' e recebe como resposta do interlocutor - o pai roqueiro - 'eu não conheço muito meu pai também'), mas eu ainda acho que ele poderia baixar a bola e cortar o açúcar do encontro dos dois para o nascer-do-sol em que eles conversam via celular mesmo depois de estarem cara-a-cara. isso irrita. próximo! susan sarandon sapateando no palco como se aquilo demonstrasse que ela Seguiu em Frente e racionalizando amargamente sua nova vida-de-viúva, perdendo o controle e exclamando 'eu quero aprender a cozinhar, dançar e rir', como se não ocorressem risos, momentos de alegria com o marido, para depois ela retificar com um 'novamente' no fim da fala anterior. eu realmente não faço a menor idéia se tudo isso foi constrangedor ou simplório ou os dois. próximo! mais sobre dunst, que tal? na conversa no celular já citada, ela diz 'vou deixar você ir' ao invés de 'vou desligar' (tão doce!) e ela é meio kate BRILHO ETERNO winslet maluquete, com seus 'me siga' incógnitos; a própria se define como 'difícil de lembrar, impossível de esquecer' num momento supremo de lucidez para quem adora tirar fotos imaginárias, algo denotando que ela vive o presente intensamente, cada instante = momento kodak. a menina também é sábia quando fala 'todos são menos misteriosos do que pensam que são'. enfim, resumindo: ela é uma Força da Natureza, semelhante a kate hudson em QUASE FAMOSOS. (eu sou péssimo para anotações, elas geralmente me desviam do filme em questão porque no escurinho-do-cinema eu sempre tenho a impressão de anotar uma coisa sobre a outra, então eu geralmente uso todas as folhas que eu carrego mas ao invés de finalizar uma e ir para a seguinte eu escrevo meus bagulhos sobre uma mesma cena em diferentes locais e como eu penso ilusoriamente que eu não faço isso, eu termino de decifrar o que registro sobre uma coisa e passo adiante sem saber que mais a frente - ou atrás - tem um novo mundo de anotações desengonçadas. e como estou sem paciência, eu realmente não quero editar o que já escrevi como manda o figurino, portanto, estou criando essas pontes úteis [p. ex.: 'mais sobre dunst, que tal?'], o que deixa tudo confuso e incompreensível. lembra quando minha prolixidade era meu ponto alto? bons tempos, aqueles. mas calma porque agora vem a...) cena final. imensamente longa. merecidamente, também. nos filmes de crowe tem-se a sensação de que o ambiente é a mola propulsora do filme e aqui não é diferente. o que seria aquele velório-sem-o-corpo com um pássaro que pega fogo e repentinamente o sensor anti-incêndio inunda o salão de água e nós sabemos que aquele é um Momento Transcendental porque a música manjada aumenta, e todos riem-chorando pensando no espírito brincalhão do falecido com ternura e a ficha cai dos que ainda estavam Anestesiados (um passo a frente bloom!) e dunst abre a porta e coordenando a saída afoita das pessoas? se isso não significa absolutamente nada, pelo menos você há de concordar que crowe fechou o círculo místico iniciado com TERRA - ver abertura desse comentário - e agora finalizado com FOGO e ÁGUA (não ria) e o filme poderia se dar por encerrado aí, já que nesses momentos de caos controlado é quase imperceptível a presença de um regente e a coisa toda parece estar a beira do precipício, desgovernada mas docemente assim. até que, pimba, os últimos e gloriosos (até ficarem patéticos) 15 minutos tratarão de apresentar bloom a) ao próprio: numa jornada de auto-descoberta, esquisitices folclóricas de beira de estrada, som no último furo, cabelos-ao-vento etc.; b) a (sua) História: ele pára no hotel onde martin luther king foi assassinado; c) ao seu futuro: com dunst aguardando a chegada dele na segunda maior feira de variedades dos eua. por mais esfuziante e efervescente que a letra (c) possa parecer, ela consiste num erro indefensavelmente crasso. seria ótimo se o filme fosse até o fim preservando os momentos finais como uma espécie de 'processamento' conjunto dos acontecimentos - bloom em carne e osso + dunst em espírito/off + espectadores - algo somente possível em um carro em movimento direcionado especificamente para onde o Roteiro de dunst aconselha, deixando qualquer eventualidade ao encargo dela, e portanto, não se desviando de todo do propósito da jornada. bloom está sozinho mas-ao-mesmo-tempo-não-está e aquela cereja no topo (o encontro final) era dispensável, mas crowe até acerta ao errar quando filma dunst, descoberta em meio ao tumulto, como uma Visão, e todo o trecho da feira, com um virtuosismo que não encontra paralelos na vida terrena. deixe-se abobar e suba a bordo!)

396. (12 nov) /MUNDO CÃO/ (Terry Zwigoff, 2000) 81

397. (18 nov) /BOM DIA, NOITE/ (Marco Bellochio, 2003)* 65 [originalmente: 69]

398. (18 nov) TENTAÇÃO (John Curran, 2004) 68

399. (19 nov) P.S. (Dylan Kidd, 2004) 58

400. (19 nov) I ♥ HUCKABEES (David O. Russel, 2004) 82

401. (19 nov) /A ÚLTIMA NOITE/ (Spike Lee, 2002) 80 [originalmente: 70 e poucos]

402. (20 nov) /I ♥ HUCKABEES/ (David O. Russel, 2004) 83 (meus dois filmes favoritos desse ano -- esse e STEVE ZISSOU -- contam, cada um, com uma cena de mesma variante (a palavra certa é frequência) e como eu não me sinto capaz de teorizar nesse momento, por enquanto, deixarei somente as cenas aqui. em ZISSOU, bill murray pergunta para si se o tubarão 'ainda lembra dele' enquanto aqui, o-cara-de-boogie-nights pergunta se deve levar suas próprias correntes (para se amarrar a uma escavadeira, evitando a devastação da área verde) e o cara-de-rushmore responde 'todos levamos as nossas'.)

403. (21 nov) /I ♥ HUCKABEES/ (David O. Russel, 2004) 84

404. (22 nov) LAGAAN: ERA UMA VEZ NA ÍNDIA (Ashutosh Gowariker, 2001) 62

[esse hiato é inexplicável - faculdade em greve, guilherme engrossando a porcentagem dos desempregados (eu procuro! já abri o caderno 'sua chance' do jornal santista algumas vezes) - mas se eu disser que eu não tive muita vontade de ver nada e assisti aos primeiros 10 minutos de muita coisa e apertei eject e estive muito ocupado lendo coisas obscuras: relatos de viagens de terceiros, coisas de susan sontag, trechos d'as flores do mal, terminando almas mortas, começando harry potter 5, folheadas na new yorker dessa semana - ótimo texto de woody allen + reportagem idem lida pela metade sobre refugiados iranianos - e no guia da folha para praga, rep. tcheca. mas o trabalho continua com as meninas gilmore e posso garantir que foi impressionante a experiência de baixar 6 episódios inéditos em 3 dias e assisti-los um-a-um. um comentário para isso deverá surgir magicamente no tv log (link acima) em pouco tempo.]

405. (29 nov) LILA DIZ (Ziad Doueiri, 2004)* 55


sexta-feira, outubro 14, 2005

as sobras do festival, pte. 1


UM PEIXE FORA D'ÁGUA

eu até entendo a margem que o filme dá para aproximações com o cinema de todd solondz (sim, na minha opinião, solondz tem voz suficiente para barganhar seu direito à autoralidade) mas elas não são de todo válidas. para começar, o picadeiro onde se estende o show dos horrores de solondz é tão imerso na cabeça do próprio que qualquer tentativa de analogia com a Vida Real é um despropósito; se alguém quiser encontrar dados objetivos para pleitear um ensaio sobre a disfuncionalidade das relações humanas só conseguirá arranjar uma cobaia para tanto: o próprio solondz. isso não ocorre em PEIXE. a diretora maren ade não tira nenhuma espécie de prazer masoquista macabro da inobservância por parte da protag. de qualquer etiqueta possibilitadora de um convívio social equilibrado. e antes disso soar uma espécie de carta confessando a inoperabilidade dos mecanismos de insersão social para uma pessoa que subitamente se encontra perdida em uma cidade desconhecida, ade é perspicaz o bastante para centralizar toda disfuncionalidade na protag. - a qual é irritantemente insistente, não larga do pé alheio, mete a colher, fala coisas abomináveis em público (na reunião na qual é apresentada ao corpo docente do colégio ela diz que espera que eles estejam 'abertos para novos conceitos' na área pedagógica, vestindo a carapuça de educadora dos novos tempos) - sem sufocá-la (o que não acontece nos filmes enclausurados de solondz), habilitando-a para voltar atrás quando preciso ou retificar suas escorregadas ocasionais. os espectadores - que detestaram o filme, incl. o fedelho guga - acompanham a saga com um misto de descontentamento incrédulo (nunca ouvi numa sala de cinema tantos tsc-tsc-tsc) por observar alguém metendo os pés pelas mãos das formas mais improváveis e comédia involuntária. quanto ao último item (termo que retirei das inoportunas observações do guga para o filme) eu entendo a grande ironia reinante: como supracitado, 'ade não tira nenhuma espécie de prazer masoquista macabro' dos passos em falso da sua heroína, então como explicar as incessantes gargalhadas na sessão? -- não querendo desviar a atenção do filme para meus companheiros bitolados de cinefilia mas já desviando porque esse é o filme do festival em que a reação do público quase transformou meu assento em um divã e o unibanco 2 num consultório de terapia grupal -- meu palpite recai na simples e inevitável perda de fé dos meus camaradas em rel. a qualquer forma de reabilitação dela com o entorno, um ponto em que você (experiência própria) tapa os olhos momentaneamente, porque cada fala da protag. funciona como mais um prego no seu caixão e qualquer possibilidade de redenção é quase um vislumbre surreal dado a secura decadentista da fotografia em dv e do tom monocórdico (admitidamente problemático quando a ele soma-se 'lamurioso'; evidente quando nossa heroína escuta a campainha do novo apartamento pela primeira vez com a visita da vizinha, o que certamente dispensava o diálogo: 'você me assustou, nunca tinha ouvido a campainha antes.' e isso depois de algumas semanas instalada...), o que se aproxima de um rascunho da autoria de solondz, com personagens se odiando por se odiarem e o diretor odiando e devassando o amor próprio devastado de sua galeria. ade, logicamente, não tem a mesma expressividade que eu enxergo em solondz, mas talvez eu esteja confundindo 'expressividade' com 'levar tudo as últimas consequências' principalmente porque a conclusão de PEIXE é genuinamente comovente e desarma qualquer ramificação do complexo de superioridade/inferioridade que alguns se munem para se fazerem valer nessa experiência. ver os momentos finais como alentadores e redentores é esquecer que aqueles segundos de despreendimento do caos são artificialmente (/cinematograficamente) sustentados: ela se posiciona no banco traseiro do veículo, como se o carro estivesse sendo guiado por algúem e o quadro final a isola no seu assento ao invés de exibir o lugar vago do motorista. com isso, será mesmo que a afirmação alardeada no começo desse comentário era muito-barulho-por-nada? uma simples questão de intensidade-para-o-'mal', voltagem rebelde? possivelmente, mas há de se refutar a redução da envergadura dos dois cineastas como meros manipuladores, eles não 'usam' a miséria dos seus personagens como auto-promoção (porque aparentemente conceder uma qualidade épica para as vidas retratadas diz muito mais respeito à nobreza do diretor que ao universo dos personagens), eles se afundam nela. a diferença entre os solondz que vi e PEIXE é que nos primeiros o tom auto-destrutivo é ainda ampliado porque uma espécie de dignidade instintiva incentiva a reação eu-não-quero-fazer-parte-disso e condena esse 'mergulho' em águas turbulentas como reprovável. sim, era uma questão de intensidade, afinal.

quinta-feira, outubro 13, 2005

FESTIVAL DO RIO 2005

(novos filmes)

"*" indica revisão.

10e CHAMBRE - INSTANTS D'AUDIENCE
(81)
OS ARTISTAS DO TEATRO QUEIMADO (77)*

O DEMÔNIO E DANIEL JOHNSTON (70)
A DIGNIDADE DOS NINGUÉNS (70)
OS HERÓIS E O TEMPO (70)
LOW PROFILE
(69)
CAFÉ LUMIÈRE
(69)
O CÉU GIRA
(68)
DIAS NO CAMPO (68)
UM PEIXE FORA D'ÁGUA (66)
A MORTE DO SR. LAZARESCU (65)
O MÉTODO
(63)
O BIGODE
(63)
THE WAYWARD CLOUD
(62)
GREEN CHAIR (62)
EL AURA (62)
DUMPLINGS (62)
BATALHA NO CÉU (61)
A ÚLTIMA TRANSA DO PRESIDENTE (58)*
O GOSTO DO CHÁ
(58)
ALÉM DO AZUL (53)
AMOR E FELICIDADE (53)
4 (51)
O MUNDO (50)*
DEPOIS DO MAR
(50)
CORTESÃS A BEIRA DA ESTRADA (50)
ESPELHO MÁGICO (49)*
A MULHER DE GILLES (49)

SOULI (48)
A ESPADA OCULTA (47)
ESCOLA DO RISO (43)
UMA MULHER COREANA
(42)
UM TEMPO MUITO DISTANTE
(41)
OS INVISÍVEIS
(40)
OS CAMPOS DE BATALHA
(40)
NIPO BRASIL – O JEITO JAPONÊS DE SER BRASILEIRO
(40)
USHPIZIN
(38)
SARATAN
(38)
RUMO AO SUL
(38)
SENHOR VINGANÇA
(37)
UMA NOITE INESQUECÍVEL EM SPLIT
(35)
LADY VINGANÇA
(32)
UMA NOITE
(32)
DARSHAN
(31)
O OUTRO LADO
(28)
MEU DEUS, MEU DEUS, POR QUE ME ABANDONASTES?
(26)
UM ANO SEM AMOR
(12)


(parte histórica)

ERA UMA VEZ EM TÓQUIO (81)* [visto e revisto fora do festival]
O CORVO
(79)
DOUCE
(74)
ELE É UM PAI
(74)
O GOSTO DO ARROZ NO CHÁ VERDE (72)*
FLOR DE EQUINÓCIO
(69)
PELE DE ASNO (63)
GARGANTA PROFUNDA
(60)
LES ANNÉES DÉLIC
(54)
TRÊS BÊBADOS RESSUSCITADOS
(53)
THE GANG'S ALL HERE
(53)
24 OLHOS
(49)

(n/a)

QUOI DE NEUF AU GARET?
ARSENAL
NOITE E BRUMA

quarta-feira, outubro 12, 2005

12/10

ALILA 68 (é fascinante a perseverância com que gitai abraça o individualismo, o colocando nos caminhos mais tortuosos possíveis a fim de afirmá-lo. p. ex., o filho do empreiteiro é desertor do exército israelense, mas a consciência de que isso é registrado como uma grave afronta não advém da própria (elaboração de um estrategema para a) consumação do ato mas sim dessa honra glamourosa de garantir a segurança nacional vista como antiquada com os insistentes sermões no-meu-tempo... do pai e a banalização proporcionada por incontáveis bem-sucedidas missões suicidas de palestinos em tel-aviv retratada em tvs e rádios. portanto, não se trata de uma questão abrangendo um ingênuo idealismo anti-belicista, muito pelo contrário, temos aqui a irônica estagnação inicial dos personagens em um mundo está em constante transformação e gitai, de uma maneira muito mais produtiva que jia zhang-ke (os vínculos entre a mão-de-obra chinesa da construção civil e a doméstica filipina com seus patrões são infinitamente mais ricos que o das russas de passaportes confiscados de O MUNDO), codifica seus pequenos cataclismas como um processo irreversível, podendo ser aproximado de sua galeria - também apresentando uma qualidade volúvel a partir de dado momento - e marcá-la de forma permanente. a beleza do filme está aí, a cada mando e desmando, atitudes contraditórias são empilhadas. gitai tem essa mania de abarrotar seus personagens com uma bagagem emocional que há tempos foi extraviada, nunca recuperada, nunca esquecida. ótima supresa, 70+ na revisão.)

UMA NOITE 34

/CAFE LUMIÈRE/ 69 (/36)

terça-feira, outubro 11, 2005

vistos em 10/10

/o gosto do chá no arroz verde/ - 72 (/58)

o outro lado - 27

/a última transa do presidente/ - 58 (/48)

domingo, outubro 09, 2005

dia 16

um ano sem amor - 12 (originalmente estava programado ALÉM DO AZUL, que eu iria rever não só porque perdi os primeiros minutos mas também por permanecer um dos filmes mais redondos e fascinantes do festival embora tenha me feito subir pelas paredes ocasionalmente - assim como o russo 4. chego no odeon com tamanha antecedência que me possibilita um extrato bancário e um pacote 3-por-2 de biscoito nas lojas americanas e, sim, vejo a notificação começada por Desculpe o Transtorno e finalizada em Grato pela Compreensão. o que eu ou qualquer pessoa que comprou o ingresso sabemos sobre o substituto é apenas sua procedência: argentina. começa o filme. a fotografia em digital de definição paupérrima assusta. mas calma. você se lembra daquele filme IRREVERSÍVEL, em que nossos heróis destróem nossa concepção de paris como a cidade-modelo indo parar naquele bar-boite-club-danceteria gay lá no subúrbio? pois é, imagine isso esticado em não-sei-quantos-minutos. ah, você se lembra daquele subestimado filme IRMÃOS, em que uma doença terminal forjava laços há muito desamarrados entre gays e não-gays? pois é, imagine isso esticado em não-sei-quantos-minutos. precisamente. agora, se você curte sadomasoquismo gay ou uma narração em off dissecando o doloroso processo de recuperação de um aidético ('eu não vou tomar azt.') ou suas agruras para deixar sua marca no correio sentimental (ele diz algo patético como 'quero que me entendam mas não quero dizer quem eu sou.') vá em frente, quem sou eu.)

darshan - n/a, leve zzz (meu deus, quem programou isso para a repescagem etc. minha paciência com a santa dos abraços - cuja filosofia se assemelha a de madre teresa, só que aérea de tudo, como quando pede que seus fiéis orem pela Paz Mundial, citando como pano-de-fundo o 11 de setembro como 21 de setembro - acabou logo destarte com uma cena tão nauseante - a santa lambe o pus das feridas de um leproso - e com insistentes depoimentos de Me Converti Mas Ninguém Me Aliciou, Encontrei Minha Paz Interior etc. além de provocar deslumbramentos puramente artificiais, matemáticos: a santa abraçou x mil indianos em x horas seguidas, agora são x milhões de beneficiados! a notar os travellings inspiradíssimos do diretor.)

/o mundo/ - 50 (você se lembra quando eu escrevi no meu primeiro contato com o filme algo como 'um filme sobre temas e não sobre pessoas. fascinante e incrivelmente travado'. corte o 'fascinante'. descerei a lenha nele dia desses. é uma promessa.)

sexta-feira, outubro 07, 2005

dia 12

os artistas do teatro queimado 77
nipo brasil 39
/os artistas do teatro queimado/ 77
10ème chambre, instants d'audience 81


dia 13

the gang's all here 53
o gosto do chá no arroz verde 58
o demônio e daniel johnston 71


dia 14

les années délic 53
três bêbados ressuscitados 51
lady vingança 32
senhor vingança 34


dia 15

24 olhos 49 (repescagem)
simplesmente bia 50 (ccbb, cinema nórdico)
nói, albinói 65 (idem)



segunda-feira, outubro 03, 2005

dia 11

MEU DEUS, MEU DEUS, POR QUE ME ABANDONASTES (de meio-dia as duas nessa sala de projeçao)? - 18 (quem diria que eu fosse me deparar com um filme que lida com a mixagem de forma ainda mais nauseante que OS INVISIVEIS. pelo menos no segundo o rotulo Filme de Ex-Teorico/Critico estava impresso em cada um de seus tediosos, insipidos, preprogramados fotogramas ('como eu traduzirei cinematograficamente essa passagem de uma critica qq minha pro meu filme de estreia?') ja aqui nem esse desconto pode ser dado. um virus causador do suicidio? musica eletronica? japao em 2015? personagens caminhando como se estivessem num filme de tsai mingliang? passo adiante.)

ESCOLA DO RISO - 43 (ja comprado pelo grupo estaçao, era esse ou manderlay e eu realmente tenho uma ponta de arrependimento pela escolha. cheguei no est botafogo 11 e tanto e ainda tinha ingressos disponiveis pra M. mas a ideia de ver num cinema lotado, eu ja estava meio baqueado me deixou reticente e fui ver essa comedia japonesa escrita pelo criador do otimo, otimo, otimo BEM VINDO SR MacDONALD - em vhs pela cult filmes - e junto com O GOSTO DO CHA é o filminho mais agridoce, arrasa-coraçoes, cuti-cuti, nicho-formado, voce-ja-viu-X-nao-perca, sorriso-no-rosto do festival. alias, se eu tivesse uma distribuidora eu comprava os direitos de GOSTO DO CHA, a recepçao foi impressionante e o filme muito aquem disso tudo. vamos la, escola do riso. 2 personagens: um censor no japao de 1940, outro escritor cujo leit motif é uma musiquinha bem sapeca, de cao-viralata (ele diz coisas como 'vale tudo pelo riso', 'a parodia tem suas regras' e minha favorita 'as comedias nao tem pano de fundo humanista, pra isso existem os dramas'), um heroi armitageano perdido em um terno do outro lado do mundo algumas decadas atras. o censor admite que Nunca Riu Na Vida, nao Compreende o Valor das Comedias, Nao Entendo do que (/porque) As Pessoas Riem, colocando empecilhos no processo criativo do autor que acabam por dar um verniz bem mais divertido que o 1o. corte. é ironico, logico e enquanto o filme se firme nisso ele tem meu voto de confiança. ele perde esse voto logo depois, com um maior e maior envolvimento do censor na peça, que sugere alguma esperança de reabilitaçao a uma vida feliz expressa em dialogos como "eu ri 83 vezes enqto lia a peça ontem, logo eu que nunca ri na vida" (serio, sinto muito) e os espectadores continuam achando essa reviravolta de postos parcimoniosa e harmonica e nao o contraponto mais surrado do mundo (feitiço contra feiticeiro). melhora em uma cena especifica - com o censor colocando o autor no seu devido lugar qdo ele impoe resiliencia de continuar submetendo-se aos caprichos impostos nao por respeitar o cargo alheio mas por Amar Escrever Peças - mas desaba com aquela sensibilidade-de-festival com a convocaçao militar do autor e Volte Vivo, Nao Morra Pela Patria e todos riem-chorando porque isso contraria as cenas iniciais. ok, entao, dois pesos e duas medidas? os creditos finais sao interessantes, no entanto.)

A ESPADA OCULTA - 49 (nao é Ruim, mas eu estava absolutamente exausto, esgotado, o trio ternura frio-fome-sono etc. as pessoas certamente vao comentar a Inexorabilidade do Tempo, Tudo Passa, Abra Caminho Pro Amanha, com o japao sendo introduzido a marcha do exercito britanico (e nao mais aqueles passos curtos e apressados engrçadissimos na minha opiniao) e armas de fogo e nao mais a sensibilidade romantico-tuberculosa da honra, do suicidio pra preserva-la, da dedicaçao franciscana a Ordem desses Bons E Velhos Samurais. talvez citem ozu e tudo, ja que o cara é a mao-na-roda subserviente na arte da associaçao passado/presente/inadequacao etc. mas nao, o filme é prolixo em qualquer contextualizaçao de ensejos de rebeldia nso atos de seus persongens. assim, a garota empregada da familia e amor da vida do protag nao pode se casar com ele porque pertencem a castas diferentes e depois ela arremeda 'mas nem eu sei o que é isso' como se fosse algo do passado mas recorrente (no final, o pedido de casamento é feito e aceito, o que é a coisa mais previsivel ate prum moribundo com 4, qse 5 dezenas de filmes nas costas); divertido é ver um personagem exclamando 'tudo esta conectado!' qdo o protg pergunta qual é a relaçao da introduçao dos metodos ocidentais de combate e do fato dele nao ser casado em idade avançada. ou ainda do amigo que tenta a sorte na Cidade e volta encarcerado pra cidade natal (a imagem do Futuro pode enganar vc!) ou ainda o confronto meio primitivo de dois amigos que comecaram o filme numa cena pacifica e acabam sendo colocados pelo destino em posiçoes frageis de perseguidor e perseguido pelo Cla Insensivel a esses laços. interessante mas peso-semi-morto)

DEPOIS DO MAR - 50 (furtado, vc me paga. nao tanto. caetano valoriza o caleidoscopio que ele invariavelmente consegue captar da natureza da patagonia - aqueles ceus, os tons convidam a uma frustraçao eu-preciso-ver-isso-antes-de-morrer - como se a dominasse tao bem qto seus personagens. o que nao é o caso e é bem vinda essa noçao de um filme de encontros casuais (alias, de encontro casual) realmente casual, despojado, somos-os-ultimos-nesse-fim-de-mundo, um ambiente pitoresco que convida a uma aclimataçao inicial (feita aos solavancos por uma narraçao decepcionantemente empolada envolvendo coisas que se deixa pra tras ou sei la [nota: eu nao consigo ler qse nada do que escrevi pra esse aqui]) e dialogos que convidam a uma resposta sisuda, engraçadinha essa-sua-pergunta-tem-outra-variante ("onde estamos?" seguido por um "aqui." etc) mas os pactos desesperados feitos entre os personagens meio a contragosto nao conseguiram contrair aquela afliçao digna de um filme de rohmer, de que eles tem consequencias reais, alem do simples escape, evasao (o homem diz a certo momento: 'escrevo pra entender esse mundo e construir o meu' ou algo assim; enqto a mulher é reticente qto a poesia, a musica, qq expressao humana que nao termine num cigarro e foi-bom-pra-vc?). e o Homem falar pra Mulher Depois de Morta "vc nao pode morrer, eu nem sei seu nome" é uma das tentativas mais frustradas de estabelecer que o vinculo entre esse dois é gigantesco e nao é estabelecido, nem firmado, nem potencializado pela mera identificaçao social do individuo, hum, vem de dentro. poetico, nao? nao. mas aqueles ceus...)


amanha sai o filme 75+, nao é possivel.

recado pra guilherme martins: usar bone dentro do cinema é patetico. obrigado.

PS: (editado) o guga deixou 3 msgs meio desesperadas (se explicar em post ja ultrapassado por um novo etc.) na caixa do post anterior. e nao é uma banalidade. pode sair caldo do arroz verde, quem sabe?

PS2: aparentemente uma segunda mariana invadira meus links em breve (http://www.livejournal.com/users/pin_up_grrrl/). deve ser o nome ou algo assim.




domingo, outubro 02, 2005

dia 10 (estomago vazio, discussoes infrutiferas, cafe numa garrafinha de mate requentado sem aúcar vindo de casa (ahn?), sanduiche de maionese, quiejo prato e bife (nota: nunca coloque maionese e quijo prato juntos, é fatal), 10 minutos no ponto de onibus -volta - conversando com menina de 15 anos e cara de 30 anos (equilibrio cosmico, quem disse que nao ha?), onibus na ida com rafael e menina anti-contracampo, saques no banco 2 vezes (pq nesse semana começa o frenesi de inicio de mes pra pagamentos, chico no rio (brrrr), ruy gardnier (sb DIAS NO CAMPO: um ruiz bem generico patati-patata; cara, vc ja se ouviu falando, sua voz me irrita), valente e oculos bizarros com grossos aros vermelhos, o PR, a monassa, um pessoal da uff (a diretora e a assist de dire do curta q participei, menina-legal-que-esqueci-o-nome-mas-me-deixou-furar-a-fila), iara e a carona pra ipanema que nao rolou (porque? deixar celular sempre desligado) etc.) nao so hj obviamente

green chair - 63 (eu dividi a sala de projeçao com o chico - aquele mesmo, isso, esse - e nao brotaram brotoejas no corpo. ainda vou ficar frente a frente com ele manha na sessao de meio dia.)

rumo ao sul - 38 (diretor de A AGENDA, patetico, mesmo. comentario vindo, eu anotei varias coisas inacreditaveis sb o filme: uma delas = mulher passa batom = AUTOCONFIANÇA RESTAURADA etc. sim, É Esse Tipo de Filme)

dulce, paixao de uma vida - 72 (deslumbrante, provav. 80+ se as legendas nao esdtivessem em espanhol o que bem ou mal me impede de pegar sutilezas aqui e ali)

low profile - 69 (fascinante de cabo a rabo: donnie darko s/ coelhos gigantes)

obs 1: encontrei pessoalmente o guga hoje. ele é um playboy. ele vai pra paris (e teve a cara de pau de me dizer: "sao so 10 dias cara"). eu comuniquei com ele um evento importante do dia e la estava ele, na rua, com celular no ouvido (nunca coloque o celular no ouvido nas ruas do rio).

obs 2: ontem, eu meio que travei um contato tremuloso com guilherme martins - ou: irmao-sombra do furtado - e eu meio que nao me apresentei depois de perguntar pra ele "vc é o irmao do filipe?" e nao "voce é o meu xara, guilherme martins?", o que seria bem mais simpatico que o proferido. mas ai nao seria guilherme alves, certo?
dia 9

alem do azul - 52 (mas perdi os 10 1os minutos e nada me aborrece mais que perder o inicio de filmes quando babacas tentam o suicido na ponte rio niteroi as 11 e pouco da manha. eu queria falar mais sb esse filme mas se o fizer eu dormirei nos 4 de amanha. palavra chave de qq coisa que vc lera sb o filme: ZARATRUSTA.)

4 - 51 (va a merda pirralho pentelho fedelho escroto; o filme mais Incompreendido do Festival e nao pq eu isolada/ gostei, mas por ser incompreensivel. era omelhor do festival ate aquela cena maravilhosa no bar depois sai fora dos trilhos sem nunca mais voltar. ainda assim, o diretor tem uma Visao e o misto de lucrecia martel/m n shyamalan ainda garante a cotaçao 'alta')

garganta profunda (sim!)- 63 (o descanso merecido dos pervertidos chegou: todos Chegamos La graças a deus. ps: sinos nao tocaram e o rio nao foi devastado) detalhes sordidos outra hora (momento quem vai ficar com mary: menina-espectadora-gaiata diz: o que é isso no meu cabelo?)

o metodo - 65 (merece um coment. ele acabou de retirar a senha de numero 037 (n é um no. aleatorio)

sábado, outubro 01, 2005

dia 8

el aura - diretor de nove rainhas - 62 (é melhor que 62)

a ultima transa do presidente - 48 (perdi os 1os 20min porque o filme anterior nao durou 100m c/o previsto, mas sim, 130; ou seja 48 é apenas uma estimativa, o filme deve crescer na revisao. mesmo diretor do mediocre uma mulher coreana)

a dignidade dos ninguens - 73 (narraçao poetica de solanas meio tremulosa mas exatamente aquilo que imaginava coraçao-de-ouro, fe-nas-pessoas etc. eu preciso disso e hj foi o dia certo. melhores momentos de cinema esse ano: qq um abordando leiloes fracassados. o que!?)

o bigode - 64 (o que!?)

quinta-feira, setembro 29, 2005

dia 7

a morte do sr. lazarescu 64
uma noite inesquecivel em split 35 (o melhor filme croata dos ults 5 anos, segundo consta no imdb)
cafe lumiere 36 (eu preciso parar de ver filmes eu sei)

quarta-feira, setembro 28, 2005

dia 5 (guilherme alves express, sem acentos, nao revisado)

ODETE ALUCINADA - perdi (transito, chuva, caos, onibus, tenis impermeavel mas nao tanto, bilheteria, nao, emite, ingresso, depois, de trancorridos, 10, minutos etc.)

NOITE E BRUMA - n/a (o n/a vai somente porque a copia nao estava legendada mas isso - a organizadora da mostra me apoiara porque esbravejou que 'esse filme nao é americano, ele nao precisa de legendas, as imagens contam a historia' - nao impede que eu diga que a nao ser que as palavras tenham força implacavelmente sisuda de flaubert eu Nao Gostei Nao. flaubert é apropriado - nao so pela nacionalidade e pra provar que eu Sei Quem Ele É - pq me lembro em mme bovary um coveiro que 'plantava' defuntos nas sepulturas e batatas em alguma outra area do cemiterio, dai veio a epidemia, as covas surrupiavam o esp. reservado pra plantaçao ao mesmo tempo que seu trabaho aumentava e ele ficava feliz por isso, mas triste pelas batatas sei la. pois entao, distintivamente meditativo e visceral mas enfatizando o 'distintivamente' como um divisor de aguas (n so a batalha Simbolica do pb vs cor), como se o MEDITATIVO se opusesse ao MEDIATIVO; outra: esse é um tema que requer um rigor mto mais apurado que cara-coroa ja que a perspectiva apresentada é unica, internalizada, inexoravel. enfim, eu realmente gostaria de nao ter entendido o frances de trechos da narraçao, ex no tribunal acertando-as-contas o narrador revela que os responsaveis nao assumiram a culpa, depois ele repete 2 (duas) vezes Mas De Quem é A Culpa mostrando uma escavadeira enterrando corpos em fossas coletivas. eu nao sei realmente se eu quero agradecer resnais por me mortificar.)

ARSENAL - n/a - zzz

THE WAYWARD CLOUD - 63

dia 6

os herois e o tempo - 73
ele é um pai - ozu - 74
flor de equinocio - " - 68
saratan - 36 (creio que o intento era provar como esses pequenos e indestrutiveis habitantes de um remoto - e longinquo e distante - vilarejo de um pais nao mais protegee da mesada da urss sao parecidos comigo, com voce e com todos que conhecemos. eles trepam, a medida do sucesso dum cargo publico varia de qtas propostas de suborno a pessoa recebe num certo periodo de tempo, conflitos entre sogra/nora, pequenos furtos, pequenas infidelidades, pequenas fofocas, etc. e eu realmente ainda penso o que o diretor estava pensando ao encerrar o filme daquela maneira Minimalista de grife, colocando o pandemonio a la kusturica (menos insuportavel no entanto) anterior em Perspectiva ('o mundo n acabou, a vida segue', qaundo o profeta observa o inicio do periodo de plantaçoes) com o campesinato pobre, iletrado assinando um contrato com um Empreendedor (a modernidade chegando aos rincoes, preciso continuar?) e anunciando a servidao como relacionamento primario entre seus habitantes, abaixo a globalizaçao (mas ela é inevitavel), viva a liberdade de expressao (do aceitavel), a vida continua (aos solavancos) dentre outras pequenas descriçoes esperançosas-mas-desoladoras ao mesmo tempo.

= defesa pra DIAS NO CAMPO e UM PEIXE FORA DAGUA e ataque pra O MUNDO (eu quero matar os fas hardcore desse filme, me deixem em paz) ate o fds.

terça-feira, setembro 27, 2005

festival

dia 3 domingo

cortesas a beira da estrada 51
espelho magico ?
o ceu gira 68
o corvo (clouzot) 79

dia 4

um tempo mto distante 41
dias no campo 70
um peixe fora d'agua 66
os invisiveis 39
souli 46

quarta-feira, agosto 10, 2005

filmes do festival (comentarios em breve para a maioria):

nota: eu nao estou sendo rigoroso em demasia

dia 1 (loucura total ex: andar em ipanema meia noite e meia etc.)

pele de asno 63

ushpizin 38

batalha no céu 61 (bruno dumont dos pes a cabeça)

o gosto do cha 57 (provavelmente o filme mais querido desse inicio de festival, nao consegui responder a altura sinto)

uma mulher coreana 41 (curta antes da sessao, musica cubana = 30 e poucos)

o mundo 54 (jzk escreve sb Temas e nao sobre Pessoas; fascinante e incrivelmente travado)


dia 2 (de 12:45 ate 9:15)

amor e felicidade 57

dumplings 62

os campos de batalha 39

a mulher de gilles 49 (curta antes - 'manual pra matar cachorros' ou como prefiro 'todo seu tedio sera nosso' - 10 e tantos 20 e poucos)


...

SETEMBRO (ad: /CONTRA A PAREDE/ comentado! vocês, leitores de sorte...)


270. (02 set) THE AWFUL TRUTH (Leo McCarey, 1937) 83

271. (02 set) O SORGO VERMELHO (Zhang Yimou, 1987)* 44

272. (02 set) CARMEN (Carlos Saura, 1983)* 51

273. (02 set) /A FANTÁSTICA FÁBRICA DE CHOCOLATE/ (Tim Burton, 2005)* 70

274. (03 set) A SUPREMACIA BOURNE (Paul Greengrass, 2004) 39

275. (03 set) /BEFORE SUNSET/ (Richard Linklater, 2004) 95

276. (04 set) /BEFORE SUNSET/ (Richard Linklater, 2004) 95

277. (04 set) TRAVESSIA DO SILÊNCIO (Dorrit Harazim, 2005) 54

278. (06 set) McCABE AND MRS. MILLER (Robert Altman, 1971) 75

279. (06 set) THIRTY TWO SHORTS ABOUT GLENN GOULD (François Girard, 1993)* a impressão geral é muito, muito boa, mas como abstrair os ruídos e chiados incessantes substituindo bach e cia. - glenn gould é um pianista! - nesta que é a cópia mais desavergonhadamente caquética já vista de um filme no cinema? como?

280. (06 set) /A MENINA SANTA/ (Lucrecia Martel, 2004)* 77

281. (09 set) /KUNG FU HUSTLE/ (Stephen Chow, 2004)* 59

282. (13 set) /CASABLANCA/ (Michael Curtiz, 1942) 91

283. (14 set) /OLDBOY/ (Park Chan-wook, 2003)* 66 (terceira vez e ainda misteriosamente melancólico, talvez por invocar esse sentimento de forma canhestra e desconsertante, como se chan-wook estivesse tateando no escuro a procura de um terreno para aplicá-lo pragmaticamente, não muito diferente da tremulosa adaptação do nosso herói nessa 'prisão maior' (uma típica licença poética: a vida ganha um eufemismo in reverse, pessimista) utilizando desde fundamentados ditados da sabedoria popular ('um grão de areia e um de pedra afundam na água da mesma forma' e 'ria e o mundo rirá com você, chore e você chorará sozinho') até uma leitura descompromissada que esconde aquelas intenções dos diários de sylvia plath (não, nenhum fogão adquire um status superior a um eletrodoméstico, graças a deus) pela irmã do desafeto do protagonista. não estamos diante de um típico subtexto vingança-a-qualquer-preço, não só porque os fins já estão encaminhados (basta o nosso vilão apertar um botão para morrer e ele aparentemente está tranquilo quanto a isso, logo tentativas de patrocinar um banho se sangue já nascem mortas) mas também devido aos porquês, aguçados pela curiosidade do objeto de estudo se rebelando contra o próprio criador, uma alegoria que se encontra a um degrau de distância de espelhar frankenstein já que, ao contrário do romance de mary shelley, o criador atencipa cada movimento, epifania, reação da criatura e esse sentimento não é gerado puramente por escutas sofisticadas ou aparatos do gênero, mas sim, por uma dedicação quase sobrenatural dispensada na relação. obviamente tudo isso é embalado para presente com aquela estética luminescente, repleta de pequenos truques (o toque do celular se revela idêntico a música-tema; a abertura animada do site do colégio é invadida por nossos heróis no plano seguinte; a linha traçada em vermelho entre o martelo e a testa de um personagem) pipocando aqui e ali na narrativa, cuja maior proeza é desacelerar até uma languidez frágil high-tech de tempos em tempos (nosso vilão se alongando/fazendo acrobacias na cobertura em slo-mo com aquela música, defronte a aquele conjunto de janelas imensas), especialmente na segunda metade e quando isso acontece o resultado é geralmente eficaz: nosso herói em duas versões - a adolescente e a atual - testemunhando/recordando o incesto, incluindo magnífico jogo de espelhos, me fascina porque eu tenho uma queda vergonhosa por esse tipo de construção, especialmente pelas mais sutis (cf. cena final de KUNG FU HUSTLE, circulando em 360o. e tudo); o protag. pedindo para a 'filha' rezar por um cara mais novo da próxima vez ganha contornos trágicos pois é quase um conselho de pais para filhos desiludidos no amor; os irreconhecíveis passos na neve e a gargalhada traduzida na felicidade da ignorância da cena final; nosso vilão deixando escapar a mão da irmã da sua na represa, acaba posicionando-a de modo a representar um gatilho sendo puxado e o corte juntamente com o barulho já revela o suicídio dentro do elevador. merecida frase de efeito final: é esse o sadismo que eu me disponho a abraçar. e andar 7 e meio? nunca antes visto! [eu adoro meus leitores cultos e informados mas vocês perderam o ponto aqui: uma referência a QUERO SER JOHN MALKOVICH])

284. (14 set) AMOR EM JOGO (Peter & Bobby Farrelly, 2005)* 67

285. (14 set) /A ÚLTIMA SESSÃO DE CINEMA/ (Peter Bogdanovich, 1971) 83

286. (15 set) VÔO NOTURNO (Wes Craven, 2005)* 58

287. (15 set) WEDDING CRASHERS (David Dobkin, 2005)* 53

288. (19 set) /CONTRA A PAREDE/ (Fatih Akin, 2004)* 52 (antes da recompensa discretamente afetuosa é preciso lidar positivamente com uma afetação de agenda cheia - p. ex.: cahit, o protagonista, berrando 'o punk não morreu', é interrompido por 2 (dois) freeze frames seqüenciais que convenientemente o alçam à condição de animal empalhado Congelado no Tempo - e sonolentas discórdias geracionais via sutil desarranjo na bagagem cultural do casal revolvendo unicamente em portar-se e portar-se frente a Tradição, como nosso herói perdendo a fluência do turco, sua língua natal e sabotando conscientemente o ritual de pedir a mão da moça aos pais como se tudo e todos estivessem girando ao redor do pacto engana-trouxa dos dois e qualquer formalidade devesse ser sumariamente menosprezada. na primeira metade, o hedonismo desenfreado é traduzido de forma tão convencionalmente intensa (gilete na veia, cacos no chão, poças de sangue, carros em muros etc.) que, embora desprovida de um apurado senso estético para-chamar-de-seu, sugere, opina na construção da própria narrativa praticamente exigindo como alternativas de resolução reações extremadas, catárticas, especialmente físicas, de modo que dali só sai morte, sexo ou necrofilia. bem, dali também saiu mais um tão-em-voga melodrama deslocamento espacial em nota maior: sibel retorna para istambul e seu comportamento, antes de espelhar qualquer atitude convergindo numa restauração de laços perdidos com sua terra a partir de uma reconciliação com suas origens, é semelhante ao de uma imigrante (ela é camareira no hotel em que a prima trabalha - emprego que não exige grandes desenvolturas para uma comunicação fluente em uma língua padronizada -, se hospeda no apartamento da prima - não muito diferente dos imigrantes que tentam a sorte já com destino certo caso sucedam -, faz contatos tremulosos com os habitantes da cidade: 'onde eu posso arranjar drogas?' na lanchonete) no próprio país-natal, sendo que a grande ironia reside no padrão de vida estável e equilibrado em hamburgo, conquistado por seus pais e que ela deve manter, mesmo não aceitando (sobre)viver sob sua sombra e água fresca. é mérito de akin filmar hamburgo e istambul de modo que se pareçam enormemente; e isso não é fundamentado num determinismo negativista, discursando sobre a influência do homem no meio e vice-versa, mas sim, trata-se de um recurso que sufoca todas as possibilidades de novos ares, transferindo e promovendo a mesma inadequação anterior. o efeito disso é o martelar sem fim na tecla do miserabilismo - sibel lança olhares vazios quando a prima afirma que será gerente em poucos anos possibilitando que ela mude de posto; no levantamento de peso assistido na tv, sibel identifica seu nome com o da atleta, o que a leva a torcer por ela - mas esse é o preço que pagamos para evitar (até certo ponto) que akin encontre na Tradição respostas para a inquietação reinante - como em EXÍLIOS - principalmente porque o tema nunca atinge um status superior a um obstáculo que está sempre ali para ser atropelado logo em seguida - p. ex., uma simples conversa entre o protag. e seu cunhado, no qual o primeiro pergunta ao outro se expulsar a irmã de casa o fez recuperar a honra da Família, o corte seco imediatamente subseqüente atribui um valor simbólico muito maior à pergunta que o estritamente necessário, é um tapa de luva sem direito de revide, sem um sim/não - ou uma fonte de alívio e graça, irremediavelmente instalada de tempos em tempos na narrativa para dar conta da recorrência de suas vertentes na vida cotidiana - p. ex., os interlúdios com o conjunto tradicional entoando canção tipicamente na-fossa e, no final, se curvando e pedindo nossos aplausos calorosos. logicamente, akin se esforça mas escorrega em uma cena-chave: cahit conversa com a prima de sibel em busca do paradeiro dela em inglês, como se estivesse largando sua bagagem cultural (inexistente, por isso uma falha grave) num canto qualquer, declarando seu amor sem esse empecilho, abraçando o inglês como se abraça a neutralidade, a universalidade. a partir dessa cena, o filme percorre uma trajetória já esburacada em suas tentativas anafiláticas de sacudir o marasmo entorpecente da vida do casal via suspense barato - somos informados pela prima de sibel que esta, depois de surrada e esfaqueada, está viva, casada e com um filho - e promover uma encruzilhada - cahit procura ou não procura sibel com aliança no dedo?, sibel cai ou não cai na estrada com cahit? e, finalmente, terminamos nossa saga com a ingratamente simbólica 'life's what you make it' se derramando sobre os créditos finais, praticamente revelando a nova consciência do casal, deixando a ânsia auto-destrutiva Para Trás (cena final revela um ônibus saindo da plataforma de embarque), sendo introduzidos com aquele empurrãozinho para o Mundo do Compromisso Firmado (ela e sua responsabilidade familiar) e para a constatação De Onde Viemos É Para Onde Vamos (ele, voltando para a cidade onde cresceu não em modo a-procura-de-respostas, mas simplesmente porque é o último lugar que poderá recebê-lo de braços abertos e, portanto, afetuoso nos seus próprios termos). enfim, cena favorita: sibel preparando um prato que a mãe a ensinou - novamente o valor da tradição, só que dessa vez se reveste num muito difundido e inocente conselho de mãe para que a filha pegue o marido pelo estômago. plano favorito: sibel caminhando de manhã com o vestido de noiva do dia anterior, saindo da casa de um parceiro sexual encontrado ao acaso; ela vira a esquina, anda na rua com aquele sorriso generoso e akin permite que suas pernoitadas freqüentes quase passem depercebidas e eu me apaixono por ela aí mesmo.)