domingo, janeiro 02, 2005

JANEIRO 2005


001.
(01 jan) ALL THAT HEAVEN ALLOWS (Douglas Sirk, 1955) 87 (a decoração dos cenários é de um preciosismo delirante neste elaborado suflê de detalhes visuais no qual cada cena expõe suas próprias engrenagens - as convenções do melodrama b - de modo que o todo cambaleia entre a postura de seriedade impassível frente ao novelão clássico e uma deliberada paródia deste. coloca lado a lado a encenação extravagante, estilizada e as aflições de seus personagens, de forma a esse artifício reforçar uma noção de saga de pessoas iludidas, vivendo em modo faz-de-conta em seus mundinhos demarcados/isolados por cercas brancas. temática sempre interessante: evasão da realidade prática, fuga inútil e irracional de indesejados sentimentos primários - amor - equipara o artificialismo fake generalizado a um mero artifício/instrumento/mecanismo de proteção criado por esses personagens tão ambivalentes; portanto toda a dramatização narrativa do filme reside no círculo de influência de sua própria configuração, encenação, numa relação muito sutil e rica, que vez por outra aplica certeiros botes na galeria retratada: a protagonista desconsidera qualquer possibilidade de desenlace emocional com seus dois filhos e com isso ganha uma indesejada tv; hudson não reza mais pela sua cartilha despojada de 'a beleza da vida consiste na consciência individual em consonância com as ações/escolhas realizadas' quando diz a wyman algo como 'você fez disso {o dilema: casar ou não} uma desnecessária questão de escolha {entre ele e a prole dela}', sendo que ela, na cena, se encontra plenamente segura de si, figura materna renunciando um way of life que parecia tão especial a princípio.)

002. (01 jan) /JACKIE BROWN/ (Quentin Tarantino, 1997) 84

003. (01 jan) /NÃO AMARÁS/ (Krzysztof Kieslowski, 1988) 96

004. (02 jan) 7 WOMEN (John Ford, 1966) 88 (veja comentários #3 e #4 da caixa.)

005. (04 jan) O PÂNTANO (Lucrecia Martel, 2001)* 65

006. (04 jan) MEU TIO MATOU UM CARA (Jorge Furtado, 2004)* 38 (a vida é mesmo assim?, parte 1: numa festa casual bebe-se unicamente guaraná antarctica; avéma?, p2: pizza no almoço tipicamente caseiro. pois bem, inconcebivelmente retardado com observações sociais se manifestando num rap ocasional dentro de um ônibus percorrendo a periferia etc. não digo mais nada porque não lembro do filme um dia depois de tê-lo visto. isso é bem auto-explicatório.)

007. (05 jan) ANA Y LOS OTROS (Celina Murga, 2002) 52

008. (06 jan) /O PÂNTANO/ (Lucrecia Martel, 2001)* 69

009. (06 jan) /MIAMI BLUES/ (George Armitage, 1990) 74


010. (06 jan) /UMA HORA CONTIGO/ (Ernst Lubitsch e George Cukor, 1932) 68

011. (07 jan) LILJA 4-EVER (Lukas Moodysson, 2002)* 41

012. (08 jan) /INTERVENÇÃO DIVINA/ (Elia Suleiman, 2002)* 70

013. (08 jan) /RUSHMORE/ (Wes Anderson, 1998) 84

014. (11 jan) MY FLESH AND BLOOD (Jonathan Karsh, 2003) 68

015. (12 jan) /TIROS EM COLUMBINE/ (Michael Moore, 2002) 61

016. (20 jan) ALEXANDRE (Oliver Stone, 2004)* 18

017. (20 jan) /BEFORE SUNSET/ (Richard Linklater, 2004)* 94

018. (21 jan) THE GRUDGE (Takashi Shimizu, 2004)* 43 (...e o sol nascente surge reluzente na colina estampada com o letreiro 'hollywood'. não é para tanto. vários elementos privilegiados pela construção geral do filme são interessantes e trabalhados de uma maneira produtiva: 1) apresenta um otimismo juvenil ligado à independência feminina, raízes convertíveis advém da imigração dos dois casais principais ao japão, incluindo a problemática da adaptação em terras estrangeiras (a protag. estabelece vínculos com tóquio ao conseguir um emprego improvisado e temporário; a nora de emma sente-se perceptivelmente deslocada em meio aos hologramas japoneses; a filha de emma, com emprego colarinho-branco numa grande empresa, manifesta uma dedicação especial ao ganha-pão, visto que ela é a última a sair do edifício da firma); 2) um ambiente opressivo de clima mórbido, austero se encaixa perfeitamente na hierarquizada estrutura social japonesa e isso, mesmo não desenvolvido satisfatoriamente, possibilita uma atenção especial ao que shimizu está fazendo aqui, algo mais que a clássica alcunha elogiosa a filmes de terror indica (sugerir > exibir), a câmera é uma extensão do pescoço do diretor e da platéia, sempre no limiar de obter uma prova concreta a partir de sua própria elevação, bisbilhotando inquieta para descobrir algo fora do campo de visão; 3) a organização não-cronológica do espaço temporal narrativo estabelece uma ordenação aleatória para as mortes subsequentes, o que possibilita a inexistência de membros pertencentes a priorização típica da 'lista numerada de mortes': coadjuvantes de terceiro grau, alívios cômico, melhores amigos, virgens imaculadas etc. isso, por sua vez, mina qualquer processo de identificação ocasional (p. ex. os esforços da protag. para compreender o mistério esbarram na atitude seca e compenetrada do policial, o qual declara que tudo se trata de uma lenda urbana tortuosamente irreversível). e minha benevolência se encerra aqui. o filme parece se estruturar em um processo degenerativo (ao contrário de cumulativo), no qual suas nobres qualidades são eclipsadas por uma tragédia familiar mastigada demais para propor alguma ansiedade e coerente em demasia para incitar qualquer reflexão posterior, uma ciranda de sustos previsíveis, justificada como algum contra-ataque vingativo dos espíritos inocentes renegados num mundo essencialmente vil e corrupto, dissertando sobre os mecanismos formadores da culpa (explícita especialmente no flashback com os acontecimentos macabros da noite em que o patriarca mata a mulher e o filho) sem um mínimo de ambiguidade ou ressonante desenlace emocional; sobrepõe irracionalmente a conveniência barata do gancho final a um cuidado mais apurado com sua 'mitologia', o que é especialmente grave visto que existem duas continuações ao original nipônico - e contando.)

019. (22 jan) A VIDA DE JESUS (Bruno Dumont, 1997) 83

020. (23 jan) DESVENTURAS EM SÉRIE (Brad Silberling, 2004)* 57

021. (23 jan) /FESTA DE FAMÍLIA/ (Thomas Vinterberg, 1998) 85

022. (24 jan) O FILHO DE CHUCKY (Don Mancini, 2004)* 49

023. (24 jan) CLOSER (Mike Nichols, 2004)* 65

024. (26 jan) HISTÓRIAS DE COZINHA (Bent Hamer, 2003)* 47

025. (26 jan) VIRIDIANA (Luis Buñuel, 1961) pendendo revisão

026. (27 jan) /OCEAN'S 11/ (Steven Soderbergh, 2001) 67

027. (27 jan) UMBERTO D. (Vittorio De Sica, 1952) 96

028. (28 jan) MONSIEUR IBRAHIM (François Dupeyron, 2003)* 52

029. (28 jan) WONDERLAND (James Cox, 2003)* 44

030. (28 jan) WHISKY (Juan Pablo Rebella e Pablo Stoll, 2004)* 74

031. (29 jan) /VIRIDIANA/ (Luis Buñuel, 1961) 43

032. (29 jan) EDUKATORS (Hans Weingartner, 2004)* 62

033. (31 jan) OS VIGARISTAS (Ridley Scott, 2003) 46