sábado, outubro 09, 2004

REPESCAGEM, DIA 1

ALEXANDRIA... NEW YORK - 60 (militância política suave e mais específica que um loach da vida + enredo com tom deliciosamente popular/farcesco que poderia estar em algum filme bollywoodiano = a prolixidade na forma como mescla nostalgia e incerteza tem sua graça em partes, notadamente na primeira metade. o conflito de sangues (árabe, americano) esgotou minha paciência, verdade seja dita, sabe, você pensa que quando um pai conhece seu filho somente aos 25 anos, o conflito instalado tem potencial nuclear para destruir as famílias de ambos [sim, porque em 25 anos, nem o sangue resiste a casamentos, separações, namoricos] pois a dupla, a um só fôlego, revive o passado [boa utilização do recurso do mesmo ator no papel do pai jovem e de seu filho] e reconhece sua transitoriedade, mas não, as rusgas revolvem em hemoglobinas, linfócitos e plaquetas -- tudo politicamente defensável, mas extremamente ingênuo, tipo: ok, o senhor já martelou isso aproximadamente xxx vezes, o recurso dramático já foi repassado, obrigado, seu troco é menos 1 ponto na cotação e meu ar ligeiramente decepcionado.)

UM DIA QUENTE DE INVERNO - 63 (admitidamente passável, só que o desenvolvimento das conexões entre a família sem a figura materna e outra completamente perdida fisicamente ganham dimensões estratosféricas [grandes cenas: 'papai, quero fazer xixi!'/deitando e rolando na praia], a problemática é talvez adaptar os antigos laços às novas possibilidades: o quanto será preciso camuflá-los para que algo de novo os complemente? [fica claro, espertamente, que a mera substituição não vigora] em todos os casos, é inspirador ver as soluções dolorosamente conciliadoras apresentadas.)

A ÚLTIMA VIDA NO UNIVERSO - 59 (elipses e explosões enigmáticas iniciais dão o tom da primeira meia hora, tempo se dilata atmosfericamente como se a ordem cronológica usual fosse mais uma convenção inoportuna, Bangcok parece suspensa numa aura impermeável de hesitação [de alguma forma parecido com o recalque saudável de TROPICAL MALADY, no geral, irmão gêmeo de O BURACO] etc., enfim, LOST IN TRANSLATION feito da maneira correta: momentos de transição não significam necessariamente instantes de revelação ou etapas para a transcendência... a coisa sai -- feio -- dos trilhos na metade final: idiossincracias a partir de detalhes francamente mal formulados e incongruentes de personagens, floridas com glacê 'qual é meu papel no mundo? ooh, estou deslocado!' [assim, quer um mapa para sair da sala de cinema? acho que posso te ajudar, inclusive te acompanhar...], engrenagens se ressentem da presença do óleo 'dinâmico' até os minutos finais, nos quais o abstrato ganha formas - pode-se tratar de algo como a queda do hedonismo e a conquista de gravidade [no sentido figurado também: ver trecho a respeito da aura da capital tailandesa] para cada ato praticado etc. fato curioso do filme: recordes mundiais de 'determinado personagem tenta de todas as maneiras possíveis se suicidar' & 'determinado personagem falha por diversas razões, prováveis ou não, ao não conseguir o intento'.)


Lição do Dia: o pastel de peito de peru e provolone pode ser tão saboroso quanto o de frango com ricota.

Segunda Lição do Dia: não adianta se esconder no banheiro masculino localizado dentro da sala Unibanco 1 entre uma sessão e outra por motivos embaraçosos de corte de gastos. existe uma vigília programada contra pessoas saudosistas, que querem apenas assistir dois filmes pelo preço de um, como uma matinê do sábado ensolarado da segunda semana de janeiro de 1954.

Terceira Lição do Dia: também envolve sanitários de forma bizarra: "economizar água é esbanjar inteligência". acho que isso também vale para as "2 folhas de alta absorção" ou para o "papel higiênico duplo" ou ainda para o sabonete líquido "três em um" etc.



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