sexta-feira, outubro 01, 2004

DIA 8 (comentários preto-no-branco, só para não passar em...)

A BATALHA DE ARGEL (restaurado) 89 -- exasperante, ensandecidamente bela abordagem da consciência revolucionária e das forças de dissolução desta; sem generalizações, apenas uma massa de contradições ora reacionária ora progressista, sempre entrelaçada por algo mais resistente que a natural repulsa ocasionada pelos diferentes estágios - pretendidos - de revolução e os métodos para a conquista de tal objetivo (argelianos) ou dos graus distintos de repressão utilizados (força policial francesa). Algumas imagens fenomenais (a escadaria na qual o velho é humilhado é tão memorável quanto a de Odessa; o plano no qual a mulher árabe, antes de plantar a bomba em um café, observa as mesas, as pessoas, os sorrisos, as trocas e os poucos segundos entre 'ela desiste?' ou 'tudo pela causa!' são orgásmicos; a execução 'mostrada' no olhar de um prisioneiro, ainda mais tocante devido à imperceptível variação da 'intensidade' de seu semblante antes e após a decapitação = embrutecimento do homem comum etc.), sublime toda vida.

CACHORRO (mundo gay) 18 -- essa sessão foi caótica/antológica, temi até pela minha integridade corporal; quanto ao filme: munição para os skinheads direcionados ao grupo gls (plano externo) + homofobia em limites INtoleráveis (plano pessoal). Mãe hippie = não se importa se o filho de 9 anos é gay ou não, na verdade, adivinhe que opção ela escolheria para ele?, usa drogas, é soropositiva / irmão da mãe hippie (protag.) = gay, soropositivo, liberal mas teme maiores compromissos (morar com um parceiro? "não estou preparado.") pois seu namorado morreu em circunstâncias misteriosas / menino (filho da hippie, sobrinho do protag. etc.) = pensa que é gay, é contra a legalização das drogas, o típico exemplar que faz senhoras gemerem em profunda comapixão em uma sala de cinema (ahhhh, que f-o-f-o!) / amigos do protag. = todos gays, extremamente festivos, caricaturas da exacerbação desmunhecada pós moderna, exceto claro, os amigos não-gays, complacentes, puro nonsense / avó do menino (sogra da hippie) = conservadora, super-protetora etc. / complicações: a hippie foi presa na índia por porte ilegal de drogas; o menino, até então na casa do tio super-gay, é disputado por sua avó. (chega, se não consigo comentar filmes notáveis, não vou perder meu tempo com porcarias monumentais; mas não, tio kerry + avó bush não se encontram no tribunal, é mais uma versão soft gay, off neurônios de Um Grande Garoto). adendo: Tomada Que Diz Tudo: o menino sai da casa do tio para a barra da saia da avó, no momento da separação eles se abraçam como se fosse a última vez e isso só é visto pela câmera devido a duas janelas laterais do banco traseiro do carro da velha abertas, esta, impassível, olhando diretamente para frente (em relação ao carro), 'um dia você vai me agradecer por isso, moleque ingrato.' Mensagem do Dia: gays podem cuidar de crianças, direitos iguais, adoção descomplicada, ciência à serviço das minorias (i.e novas técnicas de fertilização in vitro [!?]) e acima de tudo, heteros abertos à diversidade! Talvez a intenção do diretor seja ampliar a percepção de nossa receptividade em relação à "generalidades", o que nos leva a "gays são pessoas também" = ah, agora tudo faz sentido!


ps: decidi diminuir a cotação de MAL DOS TRÓPICOS para meados de 70. é uma questão de sincronia minha com o filme e creio que ela não foi perfeitamente estável durante toda a projeção (fatores externos influenciaram), ainda assim uma experiência inigualável, repleta de digressões, gêneros se misturando, pessoas se amando, mitologia/alegoria/parábola, florestas equatoriais, música pop, lambaeróbica (sic), gelo etc., comentado abreviadamente em breve.

amanhã: SEU IRMÃO & VERA DRAKE, talvez dois de ken loach na mostra do ccbb, off festival do rio.

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