terça-feira, fevereiro 17, 2004

c07. (15 Fev) Zero de Conduta (Zéro de conduite, Jean Vigo, 1933 | vídeo, Continental, 41' | ***)

Ver c08.


063. (16 Fev) Escola de Rock (The School of Rock, Richard Linklater, 2003 | cinema Bay Market, 108' | ***)



Tudo de interessante sobre o filme já foi comentado (especialmente na crítica do Tiago, que cobre tudo - é isso o que acontece quando se assiste a um filme-unânime após os outros! Anotem!). Só quero deixar registrado que o grande apelo da personagem de Jack Black (logo, do filme, já que os dois são indissociáveis) consiste nos seus verdadeiro$ objetivo$ quando aceita o emprego e no fato de não querer "comprar briga" com nenhum tipo de resistência aos seus métodos anti-convencionais (até porque ele não saberia como lidar com ela - ver cena da reunião de pais e almoço com corpo discente - daí a doçura do auto-conhecimento no contato com terceiros). Ele não ganha batalhas, não passa mensagens edificantes para seus alunos e o filme não o enxerga como um herói (mas sim como um autêntico tapado e balzaquiano-dependente que quer se divertir) e nem seus "colegas de profissão" - incluindo-se aí a diretora - como autoritários e intransponíveis (mas sim como seres sujeitos à ordem institucionalizada, inclusive com a cobrança maciça dos pais). A personagem de Joan Allen se envolve no conflito "o que sou vs. o que esperam de mim" e por isso sua "descontração" pós cerveja no bar com Black parece merecida e verdadeira (ela canta e faz os trejeitos de uma música de seu cantor favorito não-bêbada - eu marquei "não-bêbada" porque é tão honesto o fato do roteiro não humilha-la naquele que é um momento especial para ela). Ok, não sei o que é mais clichê: a banda da trupe ganhando o concurso (provando o valor do - oh! - trabalho comunitário) ou perdendo (provando que o importante é competir e o trajeto é mais importante que a chegada e blah-blah); o menino afeminado me dá nos nervos pela obviedade (estilista - ninguém sabia...) de construção, os conflitos me parecem um pouco rasos (acho que devido às respostas vagas de Black quando consultado, ex.: menina obesa, quero-ser-cool etc.) e aquele casal que divide o apartamento com Black poderia ser eliminado sumariamente (a moça-limão-azedo funciona como antídoto para o charme de Black [provavelmente uma concessão aos detratores do ator, que poderiam se enxergar nela, dando gritinhos orgásmicos quando ela chama a polícia para denunciá-lo] e o homem-banana-passa[da] serve para mostrar que mesmo querendo que o amigo tome um rumo [emprego! emprego!] ele ainda admira sua perseverança com as raízes do rock = nostalgia etc.). Mas aquelas crianças são tão fofinhas (adoro a nerd, em particular)...


c08. (16 Fev) /Zero de Conduta/ (Zéro de conduite, Jean Vigo, 1933 | vídeo, Continental, 41' | ** [originalmente: ***])

Da categoria: "Libelo contra o autoritarismo institucional - segue anexo o abaixo-assinado e/ou formas anárquicas de resistência comunitária". Isso não é ruim, especialmente porque a sensação de Ordem Imutável e Inexorável é manipulada muito bem a medida em que é fácil acreditarmos na opressão daquele sistema educacional falho àquelas crianças; mesmo sem se deter (ou pelo menos com menos intensidade, já que todas as seqüências com esse intento [algumas aulas práticas e a primeira noite] parecem servir de veículo para a "conspiração" dos alunos) a aspectos que endossariam o caráter de-cima-para-baixo puro e simples; Vigo cria um ambiente de constante alienação educador/educado. Mas é difícil aturar o professor idealista com trejeitos de Chaplin em uma referência óbvia a um processo educacional mais engajado vs. o restante com idéias retrógradas (essas vertentes muito opostas sempre originam idéias maniqueístas ao meu ver porque - a) não contrasta olho-no-olho essas posições distintas; b) categoriza indivíduos que poderiam ter inclinações diversas dentro do mesmo "pólo") e o mais grave: o curta, mesmo alcançando todas as metas, não me emocionou como esperava (exceto por uma cena maravilhosa: em slow-motion com penas voando, estandartes e travesseiros em mãos, os meninos - de pijama - se rebelam) inclusive perdendo muito de sua força com uma revisão (esse tema do idealismo estudantil é muito ingênuo e condescendente).


064. (17 Fev) /21 Gramas/ (21 Grams, Alejandro Gonzaléz Iñárritu, 2003 | cinema Art-Uff, 125' | *** [originalmente: **])


065. (17 Fev) Adeus, Lênin! (Good bye, Lenin!, Wolfgang Becker, 2003 | cinema Art-Uff, 121' | *)

Nem engraçado ("É o corte de 2001!" e os jornais criados, que acabam por inverter o apelo consumista-desenfreado ocidental na desistência dos alemães ocidentais às relações man-bites-man capitalistas e desejosos de servir ao comunismo como... camponeses, são bem-vindas exceções), nem comovente (relações conturbadas paternais [que são pessimamente desenvolvidas a partir de arrependimentos etc. Parece muito conivente com a necessidade do filme de mostrar a família unida - ou pelo menos um sabendo do paradeiro do outro quando a matriarca morre. A tagline de Adeus, Lênin! poderia ser: "A reunificação dessa família foi mais importante que a da própria Alemanha."], iniciação sexual, "dá para controlar sua fábrica de filhos, querida irmã?", velhinhos nostálgicos com os tempos de outrora [o mantra "Até isso eles nos tiraram!" repetido incontáveis vezes], a embaraçosa cena do banco ["Esse era o nosso dinheiro até algumas semanas!" Fight Lola, Fight!], a narração em off muito lustrada e bonitinha demais]). Existem muitas menções à Coca-Cola (leia-se: alguém consegue ser menos original?) e ao Burger King (o bordão da Cia. denota a mecanicidade cada vez maior do ser, algo apropriado mesmo não-explorado). A grande virtude do filme está concentrada em sua porção dramática - e irônica. O simulacrum para proteger alguém próximo é bem-intencionado mas a realidade paralela criada pelo Michael J. Fox alemão na adaptação à nova ordem política alemã o beneficia (na verdade, mais que beneficia, é necessária, quase um pedido interior egoísta e imaturo) também. A produção explora a capacidade que temos de iludir e nos deixar iludir com nossas próprias ilusões (observe que a mãe, mesmo sabendo da verdade, continua a deixar seu filho viver na sua idílica criação). Falando das inseguranças de um adolescente espelhadas em uma causa nobre - buscando constantemente uma forma de lidar (vide final-despedida: mãe e Pátria materna = aceitação necessária, segundo o sábio Yasujiro Ozu) com a transitoriedade da vida, Becker se sai muito bem. Pena que o resto seja tão nulo/repetitivo.



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