sexta-feira, fevereiro 13, 2004

Alguns comentários adicionados; Um Cão Andaluz & L'âge d'or amanhã.

058. (12 Fev) /Na Companhia de Homens/ (In the Company of Men, Neil LaBute, 1997 | vídeo, Cult, 97' | ***)

Poderosíssimo com sua estética gélida, estática e dedetizada (clima de corporação norte-americana inóspito) e idéias misantrópicas. Há quem ache que só o fato do jogo se verter do sexo masculino sobre o sexo feminino qualifique-o como misógeno e "guerra dos sexos filmada com seriedade ao contrário das comédias americanas das décadas de 30 e 40 que tentavam afirmar a mulher como igual etc." = errado (logo no começo, Chad fala dos pequenos empreendedores que roubariam seu status e o do parceiro; o fato da mulher de Chad nunca ter saído de casa [e esse era o pretexto {de que os dois foram abandonados por essas criaturas vorazes} para o início do jogo] mostra que as razões da tortura psicológica não tinham justificativas válidas [ou pelo menos contrariavam a que nos foi apresentada]). O filme só não ganha cotação maior (é material 4*, sem dúvida) porque as inserções do Capitalismo Selvagem e Cruel (na estrutura hierarquizada da empresa há muito espaço para a interação "dos de cima" com "os de baixo" enquanto um menor grau de contato viabilizaria a ratificação espontânea da lei "cada um por si"), já deram o que tinham que dar, mesmo colaborando com as idéias adversas à sociedade e seus produtos. Não há espaço para qualquer insinuação moral, o que rende alguns diálogos que me fizeram rir em desespero ("Ela é a pessoa mais gentil que cuspiu na minha cara", "Emite aqueles sons como os golfinhos... Flipper" sobre a vítima surda) e seqüências devastadoras, notadamente, o golpe final ("E agora, o que você está sentindo... lá dentro?", "Você é uma deficiente! Acha que pode escolher? Acha que alguém te quer?") - e a impassibilidade permanece mesmo aí. O pequeno momento de vitória e superação do ocorrido, representado pela mudança do ponto de vista com o "Escute-me" abafado pela surdez da moça, mostra que mesmo verdadeiro, o perdão não vigora porque "é assim que a banda toca"/é dessa forma que a natureza humana se afirma (observe a cronologia dividida em semanas com trilha lembrando uma selva urbana).

Encare o filme como XX+XY vs. XX+XY e não XX vs. XY, por favor.


c01. (12 Fev) Um Cão Andaluz (Un chien andalou, Luis Buñuel, 1929 | vídeo, Cult & Classics, 16' | **)


c02. (12 Fev) /Um Cão Andaluz/ (Un chien andalou, Luis Buñuel, 1929 | vídeo, Cult & Classics, 16' | **)


c03. (12 Fev) /Um Cão Andaluz/ (Un chien andalou, Luis Buñuel, 1929 | vídeo, Cult & Classics, 16' | ***)


c04. (12 Fev) /Um Cão Andaluz/ (Un chien andalou, Luis Buñuel, 1929 | vídeo, Cult & Classics, 16' | ***)


c05. (12 Fev) /Um Cão Andaluz/ (Un chien andalou, Luis Buñuel, 1929 | vídeo, Cult & Classics, 16' | ****)


059. (13 Fev) O Marido da Cabeleireira (Le mari de la coiffeuse, Patrice Leconte, 1990 | vídeo, Abril, 82' | ***)

Fácil, extremamente prazerosa fábula que parece nos dizer da fugacidade do sonho quando conquistado (o empenho em alcançá-lo deixa a pessoa que o desejou passiva, prestes a abandoná-lo; em outras palavras: depois de um tempo você vê que aquilo não é tudo na vida, tem defeitos aqui e ali e passa desejar outra coisa - a própria vontade de ver o que se quer se realizando é mais satisfatória que o próprio desejo, blah-blah) e da condição delicada que o objeto (no caso, uma mulher) de desejo fica: gravitando entre a mais gentil das atenções e a indiferença (a qual provavelmente irá ocorrer) do já deu o que tinha que dar, agora é partir para outra, beijos para quem fica. Cenas finais arrebatadoras, com fantasia do protagonista quando criança se misturando com a nostalgia da memória do próprio, mais velho e a percepção do valor de manter e ser fiel ao que se sempre quis.

Freud aprovaria esse comentário?


c06. (13 Fev) /Um Cão Andaluz/ (Un chien andalou, Luis Buñuel, 1929 | vídeo, Cult & Classics, 16' | ***)



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