terça-feira, fevereiro 03, 2004

038. (01 Fev) /Um Instante de Inocência/ (Nun va Goldoon, Mohsen Makhmalbaf, 1996 | vídeo, Cult, 78' | ****)

Eu adoro Um Instante de Inocência porque ele condensa o papo de "acontecimentos que mudaram nossa vida há décadas" em algo significativo para as novas gerações também (no caso, os atores amadores). Fala com incrível segurança sobre pontos de vista distintos, interpretações variadas (achei Inocência muito mais estimulante que Rashomon) e como lidar com a verdade no tempo presente. Também utiliza do cinema para reconstruir vidas e ações de outrora, em uma restituição do mundo como era (uma espécie de evasão no passado para compreender a contemporaneidade). Vou colocar de forma simples: o freeze frame final é a mais bela cena conclusiva de um filme (já que mais que um mero espelho do passado, as decisões atuais são levadas em consideração, há mais uma chance [e no caso, o pão & o vaso simbolizam a concretização do amor dos envolvidos - é uma declaração tão fascinante que só de escrevê-la, meus olhos ficam marejados]). Após a revisão, o idealismo presente no filme (que contrapõe jovens do passado [envolvidos na ditadura do Xá] vs. hoje) ficou mais sereno (mesmo quando o garoto se desata a chorar prestes a esfaquear o policial, a dimensão pacifista do conjunto fica mais sincera) mas o jogo making-of/ficção/realidade perdeu uma parte do encantamento, o "fator surpresa" desapareceu (inclusive com a revelação das intenções da garota). Mas considere-o como um grande, maravilhoso, sensível filme.


039. (01 Fev) Hana-bi (Takeshi Kitano, 1997 | vídeo, Cult, 103' | **)


040. (02 Fev) /Hana-bi/ (Takeshi Kitano, 1997 | vídeo, Cult, 103' | **)

Inegavelmente belo, trilha maravilhosa, composições, fotografia, transições incríveis (usando pinturas do diretor) etc. Pena que os momentos de introspecção/melancolia não se evadem para as cenas (em termos) violentas e vice-versa. É no estilo "bate-assopra", como se cada cena brutal fosse uma desculpa para o sentimentalismo de outras e vice-versa. Resumindo: não se separem! Se unam! Mesmo assim, achei fascinante suas observações sobre inércia, estaticidade, deslocamento (parece que, violentas ou não, todas elas são frias, distantes) e o contraponto entre o parceiro imobilizado física e emocionalmente e o protagonista, imóvel devido aos problemas pessoais (principalmente: morte da filha e esposa muito doente); o relacionamento de Kitano com sua mulher acentua a solidão do filme (e isso está longe de ser um defeito), assim como a trilha, silêncios e a cara-inexpressiva do protagonista. Algumas cenas maravilhosas: a máquina fotográfica, a trapaça no jogo de cartas, os fogos de artifício, o interior do hospital - vazio, monocromático -, a floricultura e o estímulo para a pintura, a ligação entre os quadros do detetive paraplégico e Kitano, a transição após matar o último dos membros da Máfia com o tiro sendo cortado para um borrão de tinta vermelha em uma pintura, o uso das sombras [a câmera focaliza no chão a sombra de dois homens brigando e continua na mesma posição até que um deles cai] etc.). Mas muitos são os i's sem pingos: o relacionamento do detetive e a viúva fica à deriva; a Máfia japonesa é altamente dispensável, o assalto ao banco idem, assim como alguns flashbacks desnecessários (especialmente os localizados no ferro-velho). A cena final apresenta a metáfora mais antiga e ultrapassada para falar da transitoriedade da vida: as ondas do mar = vai & vem constante. Óbvio, e Hana-bi, apesar de longe da perfeição, é tudo menos isso.

Obs: acredito que esse filme "cresce" após sucessivas revisões.


041. (02 Fev) Onde Fica a Casa do Meu Amigo? (Khane-ye doust kodjast?, Abbas Kiarostami, 1987 | vídeo, Cult, 83' | **)

Vou comentá-lo após assistir à Vida e Nada Mais (E a Vida Continua...) e rever Através das Oliveiras, que fazem parte da "trilogia do terremoto" (não sei se é dessa forma que ela é conhecida por aqui). Mas devo confessar que esse primeiro filme não "abalou sismicamente" meu coração. :)




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