sábado, junho 19, 2004

Segue outra manifestação desengonçada da minha adoração por PDL. Se o leitor já está cansado de tanta embrumação solene e reverente pare por aqui e volte somente com meus comentários futuros para o filme coreano com as quatro estações no título, conferindo uma noção cíclica ao tempo, espaço e vida.


Na minha modestíssima, notoriamente tortuosa opinião, uma cena de (...) Embriagado de Amor (...) desmonta toda a linha de produção de Filme de Amor cujo produto para consumo é a 'representação do desejo'. É aquela mesmo, a idéia de conversa aconchegante ao pé do ouvido entre travesseiros com pena de ganso e almofadas estampadas para PTA. É impressionante como a sinalização de Watson por um local quase tetricamente patético é/será eficiente. Ao juntar Amor & Violência no mesmo saco e esperar em retorno alguma manifestação da sua Presença Iluminada em Sandler, ela se metaforiza em um bode expiatório que concilia as várias facetas problemáticas dele ('isso é bom, isso é gostoso' após a experiência de trocar mutilações das mais graciosas com ela), e principalmente, essas facetas em (des)equilíbrio com o mundo (o disque-sexo corrupto representa uma ameaça para esse universo que lhe deu amor e conforto). Não é apenas uma forma dela entrar em contato com ele, mas também um modo de incitar alguma conexão entre Sandler e as possibilidades remotas de um ambiente saudável para a manutenção da relação. O cerne da questão está em separar a apatia do convívio social de Sandler com suas chances restauradas de redenção, quebrando, assim, a idéia de causa e conseqûencia e retirando das mãos de Sandler toda a provável justificativa que ele teria para continuar acomodado, paralizado pelas neuroses. O divisor de águas atende pelo nome de Emily Watson. E quando o filme caminha para os surpreendentes minutos finais, o que observamos é Sandler disposto a sair do concreto que o rodeia em Los Angeles e mover toda sua fúria justificadamente moralista para Utah, com o telefone na mão ('satisfação garantida ou a devolução imediata'), o mesmo terno azulado, a mesma aparência de líder da Vingança dos Excluídos etc., um super-herói hiperbolicamente inflado pelas gentis palavras de agressão mútua de Watson ('eu vou mastigar seus olhos' etc.) que o levam a negociar uma Paz Armada consigo mesmo (a confissão dele: 'eu quebrei o banheiro do restaurante') e finalmente o armistício, rendição total e incondicionada: ele se rende a ela, ele se rende ao mundo, a música do órgão o qual ele toca se rende lindamente às composições de Jon Brion, eu me rendo ao filme etc. A saudável bandeira branca simboliza eternamente o monumento que PDL representa. Isso pode não ter qualquer relação com o virtuosismo ecleticamente morto, plenamente irritante etc. de Filme de Amor, mas só queria deixar claro que a representação do desejo pode surgir das mais variadas fontes e formas, melhor ainda quando Watson deixa claro que suas tentativas apaziguadoras arremessaram o casal em uma espiral de felicidade tão atordoante que a partir de agora (do desfecho) eles se lançam às dificuldades e prazeres de consolidar as bases do relacionamento de cada dia ('so here we go').

*lágrimas*
*suspiros*



Nenhum comentário:

Postar um comentário