sábado, junho 12, 2004



PIRATAS DO CARIBE (61) Interessante o modo como a trégua é forjada para benefício próprio, múltiplos pontos de vista são reunidos em um tom de honesta ambivalência (confusão entre o dito e o feito, acordos vigorando até uma das partes recobrar o bom senso), os signos de conduta são frequentemente dotados de hierarquia abstrata (os subordinados sustentam o poderio do capitão, o qual já foi um comandado rebelde e teme que seus, agora, tripulantes sigam a risca seu curriculum vitae) e todas as partes parecem se envolver uniformemente no todo narrativo, os núcleos se entrecruzam permanentemente até porque as necessidades de um são as vontades do outro etc. Muito bom notar a ausência de vulnerabilidade no combate corpo a corpo (os piratas do Pérola Negra são imortais) o que traz ao filme uma bem-vinda sensação de tempo perdido, adiamento prolongado da provável vitória, que virá somente se um dos acordos mirabolantes for quebrado no instante certo. Pena que além de seguir as Regras da Boa Pirataria, o Código do Blockbuster que Se Preze também é levado em consideração com subtexto do amor se manifestando entre classes sociais díspares, alguns detalhes de caracterização unilaterais (especialmente na tripulação amaldiçoada, cuja atitude é a reversa na quebra do feitiço; isso é dificilmente algo ruim - potencializa o efeito da maldição nesses códigos morais e como eles acabaram sendo padronizados devido ao desvio de conduta e perda da condição humana de morrer [temer a morte = respeitar a vida] - mas, nesse caso, a mudança parece súbita e desonesta, como um artifício para a remoção desses obstáculos), animais/coadjuvantes fofinhos/engraçadinhos, a vasta e densa temática da ambição é desenvolvida com o máximo de preguiça (a cobiça nos impele --> consome; primário na minha opinião) etc. Mas Depp é o que há: rompantes vigorosos se misturam a uma consciência do que é possível se fazer em cada ocasião; suas regras mais maleáveis apenas conferem ao mesmo a verve de anti-herói dos Sete Mares, com alguns segredos escusos, ofertas bem pensadas e fama alçada com empurrão alheio. Personagem realmente surpreendente/bem desenvolvido porque mesmo atrapalhado, obsessivo, desequilibrado, transtornado consegue ter o mínimo de postura crítica (= ironia, escárnio) e amor ao 'trabalho' ("Traga-me o horizonte.").



Comentários para O FILHO, O DIA DEPOIS DE AMANHÃ e O TERCEIRO TIRO amanhã (ou depois de amanhã).

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