domingo, janeiro 25, 2004

Editado: novos comentários para Totoro e Felizes Juntos.

026. (24 Jan) A Dupla Vida de Véronique (La double vie de Véronique, Krzysztof Kieslowski, 1991 | vídeo, Videoteca Fragata Liberal, 98' | ****)


027. (25 Jan) Meu Amigo Totoro (Tonari no Totoro, Hayao Miyazaki, 1988 | vídeo, Flashstar, 86' | ****)


028. (26 Jan) /Meu Amigo Totoro/ (Tonari no Totoro, Hayao Miyazaki, 1988 | vídeo, Flashstar, 86' | ****)

Incrível, pode parecer exagero de um fanático por animes (pelo menos os de Miyazaki, dos quais já vi Chihiro e Porco Rosso) mas estou sem fala a respeito da profusão de sensibilidade que enaltece de maneira única a inocência da infância, é provavelmente o filme definitivo sobre o tema. Tem uma história assumidamente infantil, quase bobinha (pai de família e duas garotinhas [5 e 10 anos] se mudam para o campo japonês a fim de ficar mais perto do hospital no qual a mãe está internada; lá fazem amizade com os vizinhos e com criaturas mágicas - os Totoros do título) mas as resoluções que o diretor aplica a elas são formidáveis. Os pais das crianças não são do tipo céticos, que desmentem qualquer ilusão infantil a fim de já introduzir a realidade no cotidiano dos filhos o mais cedo possível (isso é bem típico de outras animações nas quais a família é desgastada por "combates geracionais" - nos filmes de Miyazaki, se existe algo sagrado é a força dessa instituição); eles incentivam a curiosidade das garotas em relação ao desconhecido, em uma clara alusão ao novo ambiente da família, que acaba de se mudar da cidade (após três filmes do diretor percebe-se o seu amor pela vida campestre, calma, prosaica). É, o melhor do filme se concentra na expressão do desejo do saber, conhecer, vislumbrar novas possibilidades que as protagonistas instigantes nutrem por tudo. Os encontros entre elas e os seres encantados não resultam em algo como "uma louca aventura", mas sim, reiteram a realização do sonho/fantasia das mesmas (a menor pula em cima do Totoro, observa os dentes da imensa boca, conversa com o novo amigo etc.). Surpreendente também pela maestria quando fala de traumas infantis (mãe internada: "O que faremos se ela morrer?", em uma das cenas mais me-dá-outro-lencinho que já vi) e da excitação em relação ao surreal, prazer no descobrimento etc. Meu Amigo Totoro também adota o ponto de vista exclusivo das meninas e tudo o que sabemos sobre o estado de sua mãe, em que exatamente o pai delas trabalha, o que é um Totoro (um duende? Um fantasma?) são o que elas sabem; isso facilitou muito minha conexão com a história e a decisão da falta de um roteiro, uma programação das situações enfrentadas foi acertadíssima a medida que se aproxima mais da vida de cada espectador, sem lições de moral no final, superações de obstáculos, revelções impactantes - nada; os momentos de tensão são aqueles em que a vida/realidade invade bruscamente a fantasia cotidiana das garotas, essas "ações com significante" (segundo a cartilha básica das animações tradicionais) existem mas são "impostas" à trama quase imperceptivelmente - o filme pulsa com vida e segue firme. Miyazaki também inclui "ritos" da idade como as brincadeiras (a mais nova imita a mais velha, a reação da menor ao encontrar o Totoro) e ressalta o carinho entre os membros familiares (notadamente nas cartas que a mais velha escreve para a mãe ou no empenho da busca pela irmã mais nova na parte final) - é o filme-pet (tamanho família) mais competente e sensível que já vi. Existe uma cena maravilhosa a respeito de grãos mágicos e o florescimento de uma nova árvore gigantesca; Miyazaki confere um tom místico e de encantamento sublimes aí. E ainda tem aquela na parada de ônibus... Ou a do menino vizinho das duas e a dificuldade de aproximação quebrada com o temporal. Ou...

Obs: na terceira vez (número 031.) bateu o clique. O que já era excelente ganha ainda mais ressonância. Arigatô, Sr. Miyazaki!


029. (26 Jan) /A Dupla Vida de Véronique/ (La double vie de Véronique, Krzysztof Kieslowski, 1991 | vídeo, Videoteca Fragata Liberal, 98' | ****)


030. (26 Jan) Felizes Juntos (Cheun gwong tsa sit, Wong Kar-wai, 1997 | vídeo, Cult, 96' | **)

Eu tive uma sensação estranha enquanto via um outro petardo de um dos diretores que mais gosto, unicamente pelo efeito-bomba que Amor à Flor da Pele me provoca. Felizes Juntos parece uma colagem de momentos, frustrações, percepções momentâneas, coincidências com intuição e lógica particulares. Os personagens do filme têm dificuldades para exprimir o que sentem, momentos de intimidade (ex.: a mensagem deixada no gravador do amigo; as partidas de futebol, retratadas com carinho pelo protagonista, Lai: nos gestos de cumplicidade, "a voz de Chang [o amigo] é a mais alta de todas", "o verão está passando rápido"; o sexo oral no cinema, amplamente ambíguo devido a postura "fiel" de Lai) são esparsos. Basicamente se pode dividir o filme em duas partes: a primeira, decepcionantemente clichê (retoma-ou-não-retoma-a-relação, o mantra do "começar de novo") fala de diferentes estilos de vida, compromisso com o parceiro (o relacionamento é gay, mais isso não me incomodou); a segunda, é mais existencial, com uma narrativa fragmentada em um ménage à trois, com diferentes perspectivas dos três personagens centrais. É nessa parte que o filme finalmente decola, Kar-wai filma com estilo inconfundível (é só pensar em Amor à Flor da Pele e Maggie Cheung, as escadas, a chuva...) o deslocamento espacial de Lai (se encontra na Argentina) e o relacionamento auto-destrutivo da dupla. Interessante notar que as (poucas) cenas de sexo são completamente destituídas de romantismo - Kar-wai e as cores quentes, saturadas (uso recorrente do amarelo e vermelho - novamente, Amor à Flor da Pele) atribuem as mesmas vigor e força. Esse tratamento acaba por revelar que a intimidade dos dois é mais ou menos reflexo da sua conturbada relação, existe uma idéia animalesca de química, "voltando ao ponto de partida", "can't get enough of this nonsense" (conselho pessoal: vão dançar um tango, pessoal...). Você se pergunta no momento (se ainda continuar lendo isso...) o porquê da nota "baixa", não é? A sensação de vazio emocional, instabilidade é passada pelo estilo ora quente, ora frio (cor/vermelho + amarelo | p&b/azul + cinza) mas a minha conexão com o protagonista no sentido da ciência do não escape fica prejudicada porque Kar-wai não deixa os personagens falarem por si mesmos. Nem sei se esse tipo de crítica procede mas a meditação que o diretor espera que façamos sobre o relacionamento é fraca a medida que não refletimos sobre os personagens envolvidos (são poucos os momentos de introspecção - isso não ajuda; e FATAL, não houve, para mim, realmente uma razão para tanto desencanto devido ao tipo de relação "melhor-separado-que-junto", "supere isso, cara, você vai encontrar sua alma-gêma qualquer dia desses"). Se isso é intencional (a dupla falando da angústia amorosa universal poderia resultar em algo simplista - e, convenhamos, não é isso que esperamos de um filme distribuído pela Cult, né?) eu não sei, só acredito que o volta-não-volta-versão-gay-18-anos parece interminável e você ganha de bônus pessoas fumando desoladas, bebendo, chorando, se estapeando, discutindo, acusando, negando etc. Mas como recompensa recebemos: as idas-e-vindas narrativas são belíssimas, trilha idem (ver adendo), fotografia idem, domínio narrativo, técnico (a procura por "diversão" na noite gay de Buenos Aires = uau!) etc.

Happy Together

Imagine me and you, I do
I think about you day and night, it's only right
To think about the girl you love and hold her tight
So happy together

If I should call you up, invest a dime
And you say you belong to me and ease my mind
Imagine how the world could be, so very fine
So happy together

I can't see me lovin' nobody but you
For all my life
When you're with me, baby the skies'll be blue
For all my life

Me and you and you and me
No matter how they toss the dice, it has to be
The only one for me is you, and you for me
So happy together

I can't see me lovin' nobody but you
For all my life
When you're with me, baby the skies'll be blue
For all my life

Me and you and you and me
No matter how they toss the dice, it has to be
The only one for me is you, and you for me
So happy together

Ba-ba-ba-ba ba-ba-ba-ba ba-ba-ba ba-ba-ba-ba
Ba-ba-ba-ba ba-ba-ba-ba ba-ba-ba ba-ba-ba-ba

Me and you and you and me
No matter how they toss the dice, it has to be
The only one for me is you, and you for me
So happy together

So happy together
How is the weather
So happy together
We're happy together
So happy together
Happy together
So happy together
So happy together (ba-ba-ba-ba ba-ba-ba-ba)



031. (26 Jan) /Meu Amigo Totoro/ (Tonari no Totoro, Hayao Miyazaki, 1988 | vídeo, Flashstar, 86' | obra-prima)

Nenhum comentário:

Postar um comentário