quarta-feira, janeiro 28, 2004

Editado: comentário de Rio Bravo

032. (28 Jan) /Onde Começa o Inferno/ (Rio Bravo, Howard Hawks, 1959 | vídeo, Warner, 141' | ****)

Uma nova chance para o filme do qual gostei muito mas tinha reservas aqui e lá (as duas principais: duração longa e personagens secundários que desviam nossa atenção dos principais). Essas reservas, em parte, desapareceram, puro prazer esse filme; diria que a linha que separa a arte do entretenimento é difusa em todos os filmes que vi dele - Hawks está correto. Pode parecer estranho mas poucos faroestes são tão "interativos" como Bravo (ao seu lado posso citar os badalados High Noon e Rastros de Ódio). Por "interativo", você deve entender que o filme te coloca em uma posição centralizadora (algo que Rashomon também faz) personificada pelo personagem de Wayne (logo, facilita a identificação com suas questões pessoais). Sua seriedade e - aparente - frieza/embrutecimento são "descongelados" aos poucos. O que atua sobre a humanização do protagonista são: a) femme fatale, b) amigo envolvido com problemas de bebida, c) defesa de suas questões em um mundo onde a justiça é corrompida com moedas de ouro. Wayne, então, é o nosso referencial naquele ambiente - seu envolvimento com a mulher do carteado se inicia com suspeitas infundadas; seu relacionamento com o amigo freqüentemente bêbado é provavelmente o melhor do filme (aquele diálogo "as roupas vão me servir" representa uma menção à volta ao grande - e sóbrio - pistoleiro que Dean Martin era) com recuperação, recaídas, prostração etc. A verdadeira maravilha de Rio Bravo está na mudança de pontos de vista, reconhecimento do erro próprio e o valor da tomada de decisão somente escutando os dois lados da moeda (no caso de Martin, seu envolvimento com uma mulher que o abandonou; no da mulher, sua relação com o parceiro trapaceiro; no de Wayne, sua postura com as três observações acima) e oferecer ao espectador muletas para definir sua própria linha de pensamento. Nisso, posso dizer seguramente que Bravo é um dos melhores filmes sobre o recomeçar, a segunda-chance. Para provar superação pessoal (jovem pistoleiro, Martin) e/ou desmitificar o semblante da "primeira impressão é a que fica" (o interesse amoroso de Wayne) o filme busca o senso de justiça como referência plausível para sua concretização. Daí, a impressão que fica é a de que todos eles estão interligados na maneira como são vistos pela comunidade e no modo como querem ser vistos. A valorização do respeito pessoal é a força motriz que rege o filme e as motivações dos personagens na cruzada pela imagem aceitável dos mesmos. Perto de temas tão interessantes e bem desenvolvidos, a trama de proteção da lei é posta em segundo plano; se não por Hawks, pelo espectador tão absorvido por dramas tão universais.


033. (28 Jan) Soberba (The Magnificent Ambersons, Orson Welles, 1942 | vídeo, Cult & Classics, 88' | **)

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