quarta-feira, agosto 10, 2005

filmes do festival (comentarios em breve para a maioria):

nota: eu nao estou sendo rigoroso em demasia

dia 1 (loucura total ex: andar em ipanema meia noite e meia etc.)

pele de asno 63

ushpizin 38

batalha no céu 61 (bruno dumont dos pes a cabeça)

o gosto do cha 57 (provavelmente o filme mais querido desse inicio de festival, nao consegui responder a altura sinto)

uma mulher coreana 41 (curta antes da sessao, musica cubana = 30 e poucos)

o mundo 54 (jzk escreve sb Temas e nao sobre Pessoas; fascinante e incrivelmente travado)


dia 2 (de 12:45 ate 9:15)

amor e felicidade 57

dumplings 62

os campos de batalha 39

a mulher de gilles 49 (curta antes - 'manual pra matar cachorros' ou como prefiro 'todo seu tedio sera nosso' - 10 e tantos 20 e poucos)


...

SETEMBRO (ad: /CONTRA A PAREDE/ comentado! vocês, leitores de sorte...)


270. (02 set) THE AWFUL TRUTH (Leo McCarey, 1937) 83

271. (02 set) O SORGO VERMELHO (Zhang Yimou, 1987)* 44

272. (02 set) CARMEN (Carlos Saura, 1983)* 51

273. (02 set) /A FANTÁSTICA FÁBRICA DE CHOCOLATE/ (Tim Burton, 2005)* 70

274. (03 set) A SUPREMACIA BOURNE (Paul Greengrass, 2004) 39

275. (03 set) /BEFORE SUNSET/ (Richard Linklater, 2004) 95

276. (04 set) /BEFORE SUNSET/ (Richard Linklater, 2004) 95

277. (04 set) TRAVESSIA DO SILÊNCIO (Dorrit Harazim, 2005) 54

278. (06 set) McCABE AND MRS. MILLER (Robert Altman, 1971) 75

279. (06 set) THIRTY TWO SHORTS ABOUT GLENN GOULD (François Girard, 1993)* a impressão geral é muito, muito boa, mas como abstrair os ruídos e chiados incessantes substituindo bach e cia. - glenn gould é um pianista! - nesta que é a cópia mais desavergonhadamente caquética já vista de um filme no cinema? como?

280. (06 set) /A MENINA SANTA/ (Lucrecia Martel, 2004)* 77

281. (09 set) /KUNG FU HUSTLE/ (Stephen Chow, 2004)* 59

282. (13 set) /CASABLANCA/ (Michael Curtiz, 1942) 91

283. (14 set) /OLDBOY/ (Park Chan-wook, 2003)* 66 (terceira vez e ainda misteriosamente melancólico, talvez por invocar esse sentimento de forma canhestra e desconsertante, como se chan-wook estivesse tateando no escuro a procura de um terreno para aplicá-lo pragmaticamente, não muito diferente da tremulosa adaptação do nosso herói nessa 'prisão maior' (uma típica licença poética: a vida ganha um eufemismo in reverse, pessimista) utilizando desde fundamentados ditados da sabedoria popular ('um grão de areia e um de pedra afundam na água da mesma forma' e 'ria e o mundo rirá com você, chore e você chorará sozinho') até uma leitura descompromissada que esconde aquelas intenções dos diários de sylvia plath (não, nenhum fogão adquire um status superior a um eletrodoméstico, graças a deus) pela irmã do desafeto do protagonista. não estamos diante de um típico subtexto vingança-a-qualquer-preço, não só porque os fins já estão encaminhados (basta o nosso vilão apertar um botão para morrer e ele aparentemente está tranquilo quanto a isso, logo tentativas de patrocinar um banho se sangue já nascem mortas) mas também devido aos porquês, aguçados pela curiosidade do objeto de estudo se rebelando contra o próprio criador, uma alegoria que se encontra a um degrau de distância de espelhar frankenstein já que, ao contrário do romance de mary shelley, o criador atencipa cada movimento, epifania, reação da criatura e esse sentimento não é gerado puramente por escutas sofisticadas ou aparatos do gênero, mas sim, por uma dedicação quase sobrenatural dispensada na relação. obviamente tudo isso é embalado para presente com aquela estética luminescente, repleta de pequenos truques (o toque do celular se revela idêntico a música-tema; a abertura animada do site do colégio é invadida por nossos heróis no plano seguinte; a linha traçada em vermelho entre o martelo e a testa de um personagem) pipocando aqui e ali na narrativa, cuja maior proeza é desacelerar até uma languidez frágil high-tech de tempos em tempos (nosso vilão se alongando/fazendo acrobacias na cobertura em slo-mo com aquela música, defronte a aquele conjunto de janelas imensas), especialmente na segunda metade e quando isso acontece o resultado é geralmente eficaz: nosso herói em duas versões - a adolescente e a atual - testemunhando/recordando o incesto, incluindo magnífico jogo de espelhos, me fascina porque eu tenho uma queda vergonhosa por esse tipo de construção, especialmente pelas mais sutis (cf. cena final de KUNG FU HUSTLE, circulando em 360o. e tudo); o protag. pedindo para a 'filha' rezar por um cara mais novo da próxima vez ganha contornos trágicos pois é quase um conselho de pais para filhos desiludidos no amor; os irreconhecíveis passos na neve e a gargalhada traduzida na felicidade da ignorância da cena final; nosso vilão deixando escapar a mão da irmã da sua na represa, acaba posicionando-a de modo a representar um gatilho sendo puxado e o corte juntamente com o barulho já revela o suicídio dentro do elevador. merecida frase de efeito final: é esse o sadismo que eu me disponho a abraçar. e andar 7 e meio? nunca antes visto! [eu adoro meus leitores cultos e informados mas vocês perderam o ponto aqui: uma referência a QUERO SER JOHN MALKOVICH])

284. (14 set) AMOR EM JOGO (Peter & Bobby Farrelly, 2005)* 67

285. (14 set) /A ÚLTIMA SESSÃO DE CINEMA/ (Peter Bogdanovich, 1971) 83

286. (15 set) VÔO NOTURNO (Wes Craven, 2005)* 58

287. (15 set) WEDDING CRASHERS (David Dobkin, 2005)* 53

288. (19 set) /CONTRA A PAREDE/ (Fatih Akin, 2004)* 52 (antes da recompensa discretamente afetuosa é preciso lidar positivamente com uma afetação de agenda cheia - p. ex.: cahit, o protagonista, berrando 'o punk não morreu', é interrompido por 2 (dois) freeze frames seqüenciais que convenientemente o alçam à condição de animal empalhado Congelado no Tempo - e sonolentas discórdias geracionais via sutil desarranjo na bagagem cultural do casal revolvendo unicamente em portar-se e portar-se frente a Tradição, como nosso herói perdendo a fluência do turco, sua língua natal e sabotando conscientemente o ritual de pedir a mão da moça aos pais como se tudo e todos estivessem girando ao redor do pacto engana-trouxa dos dois e qualquer formalidade devesse ser sumariamente menosprezada. na primeira metade, o hedonismo desenfreado é traduzido de forma tão convencionalmente intensa (gilete na veia, cacos no chão, poças de sangue, carros em muros etc.) que, embora desprovida de um apurado senso estético para-chamar-de-seu, sugere, opina na construção da própria narrativa praticamente exigindo como alternativas de resolução reações extremadas, catárticas, especialmente físicas, de modo que dali só sai morte, sexo ou necrofilia. bem, dali também saiu mais um tão-em-voga melodrama deslocamento espacial em nota maior: sibel retorna para istambul e seu comportamento, antes de espelhar qualquer atitude convergindo numa restauração de laços perdidos com sua terra a partir de uma reconciliação com suas origens, é semelhante ao de uma imigrante (ela é camareira no hotel em que a prima trabalha - emprego que não exige grandes desenvolturas para uma comunicação fluente em uma língua padronizada -, se hospeda no apartamento da prima - não muito diferente dos imigrantes que tentam a sorte já com destino certo caso sucedam -, faz contatos tremulosos com os habitantes da cidade: 'onde eu posso arranjar drogas?' na lanchonete) no próprio país-natal, sendo que a grande ironia reside no padrão de vida estável e equilibrado em hamburgo, conquistado por seus pais e que ela deve manter, mesmo não aceitando (sobre)viver sob sua sombra e água fresca. é mérito de akin filmar hamburgo e istambul de modo que se pareçam enormemente; e isso não é fundamentado num determinismo negativista, discursando sobre a influência do homem no meio e vice-versa, mas sim, trata-se de um recurso que sufoca todas as possibilidades de novos ares, transferindo e promovendo a mesma inadequação anterior. o efeito disso é o martelar sem fim na tecla do miserabilismo - sibel lança olhares vazios quando a prima afirma que será gerente em poucos anos possibilitando que ela mude de posto; no levantamento de peso assistido na tv, sibel identifica seu nome com o da atleta, o que a leva a torcer por ela - mas esse é o preço que pagamos para evitar (até certo ponto) que akin encontre na Tradição respostas para a inquietação reinante - como em EXÍLIOS - principalmente porque o tema nunca atinge um status superior a um obstáculo que está sempre ali para ser atropelado logo em seguida - p. ex., uma simples conversa entre o protag. e seu cunhado, no qual o primeiro pergunta ao outro se expulsar a irmã de casa o fez recuperar a honra da Família, o corte seco imediatamente subseqüente atribui um valor simbólico muito maior à pergunta que o estritamente necessário, é um tapa de luva sem direito de revide, sem um sim/não - ou uma fonte de alívio e graça, irremediavelmente instalada de tempos em tempos na narrativa para dar conta da recorrência de suas vertentes na vida cotidiana - p. ex., os interlúdios com o conjunto tradicional entoando canção tipicamente na-fossa e, no final, se curvando e pedindo nossos aplausos calorosos. logicamente, akin se esforça mas escorrega em uma cena-chave: cahit conversa com a prima de sibel em busca do paradeiro dela em inglês, como se estivesse largando sua bagagem cultural (inexistente, por isso uma falha grave) num canto qualquer, declarando seu amor sem esse empecilho, abraçando o inglês como se abraça a neutralidade, a universalidade. a partir dessa cena, o filme percorre uma trajetória já esburacada em suas tentativas anafiláticas de sacudir o marasmo entorpecente da vida do casal via suspense barato - somos informados pela prima de sibel que esta, depois de surrada e esfaqueada, está viva, casada e com um filho - e promover uma encruzilhada - cahit procura ou não procura sibel com aliança no dedo?, sibel cai ou não cai na estrada com cahit? e, finalmente, terminamos nossa saga com a ingratamente simbólica 'life's what you make it' se derramando sobre os créditos finais, praticamente revelando a nova consciência do casal, deixando a ânsia auto-destrutiva Para Trás (cena final revela um ônibus saindo da plataforma de embarque), sendo introduzidos com aquele empurrãozinho para o Mundo do Compromisso Firmado (ela e sua responsabilidade familiar) e para a constatação De Onde Viemos É Para Onde Vamos (ele, voltando para a cidade onde cresceu não em modo a-procura-de-respostas, mas simplesmente porque é o último lugar que poderá recebê-lo de braços abertos e, portanto, afetuoso nos seus próprios termos). enfim, cena favorita: sibel preparando um prato que a mãe a ensinou - novamente o valor da tradição, só que dessa vez se reveste num muito difundido e inocente conselho de mãe para que a filha pegue o marido pelo estômago. plano favorito: sibel caminhando de manhã com o vestido de noiva do dia anterior, saindo da casa de um parceiro sexual encontrado ao acaso; ela vira a esquina, anda na rua com aquele sorriso generoso e akin permite que suas pernoitadas freqüentes quase passem depercebidas e eu me apaixono por ela aí mesmo.)