domingo, abril 11, 2004

128. (05 Abr) Na Captura dos Friedmans (Capturing the Friedmans, Andrew Jarecki, 2003 | cine Arte UFF | 82)

Ambivalência em estado puro: colocações e comprovações plausíveis são negadas/contestadas pelas seguintes; os lapsos de memória interrompem a continuidade de depoimentos; evidências colocam em xeque os métodos empregados na acusação direta etc. Nos momentos em que pensei estar começando a entender o mecanismo de formação e a maneira como cada um deles lida com a dor em geral, lembrei também, estar assistindo a um filme sobre negação, tentativas múltiplas de evasão em relação a um conflito já entranhado - o da incomunicabilidade - na família: cada entrevistado parece preservar sua identidade, ou pelo menos, algo não tragado pela tragédia; e os vídeos caseiros mostram justamente essa dualidade entre as duas auto-consciências: a informalidade das reuniões dos entes vs. as informações exibidas com o máximo de recato e discrição, temperadas com azeite formal. A sensação de desespero e tristeza devastadora surge como reminescência da distinção mediativa/mediadora do doc. e, instantaneamente, de sua capacidade não-conclusiva; é como se Jarecki estabelecesse que a ação minimamente idealizada (no caso, que o alvo de todo aquele fogo cruzado se desviasse do espectador para o membro da família respectivo, em um interno confronto face-a-face) - a única passível de resolução prática -, se encontra fora do quadro, de nosso alcance e vista; e portanto, há tentativas de mediar um intercâmbio ali (ver a mais encantadora cena final de ultimamente, observe como o diretor abraça com devoção os Friedmans e suas tentativas frustadas de comunicação e comunhão de sentimentos) mesmo soando tão amplas para cicatrização iminente. Cinema orgásmico cheio de pequenos defeitos (como esse comentário saiu quase duas semanas após a sessão, eles quase não importam frente a maravilha do resultado; algumas ressalvas quanto a valorização excessiva de depoimentos de supostas vítimas, métodos da promotoria, etc., não que eles sejam mal posicionados ou algo do gênero, apenas apresentam a objetividade trivial de costume, com o idêntico burocratismo) = revisão urgente.


129. (10 Abr) Os Normais (José Alvarenga Jr., 2003 | dvd | 19)

Trafega sem o mínimo senso de "estamos pisando em ovos de avestruz" pela dissolução matrimonial instantânea, suspeitas de traição e amores correspondidos. Esse pretenso feitiço "maior, melhor, sem cortes ou pudor" se rebela contra o feiticeiro à medida que estabelece os mesmos padrões a uma estrutura já deliberadamente caótica, que certamente não se beneficia com essa "ordenação genérica de esquetes sitcom-type" = comédia covarde, preguiçosa e altamente inepta. Um erro do início (navios... supostamente... deveriam... afundar... - seres com IQ > 10 provavelmente não entenderão tamanho non-sense demente) ao fim (um letreiro [algo como: "Agora que vocês estão *tontos*, apresentaremos quadros explicativos com os destinos dos personagens."] é introduzido com propósito de funcionar como uma gracinha-extra, mas indiretamente parece nos comprovar a mediocridade do episódio-alo(x'n'o)ngado com ar ironia-indireta-soft: ah, se essa percepção aguçada se manifestasse na hora e meia passada...) com o miolo mofado pela organização em flashback (algumas observações cretinas de um religioso estão presentes) e as velhas piadas-agora-você-vai-rir,-até-os-amarelos-contam! que usam a (in)comunicabilidade travada e saliência da teimosia para resultar em algo do tipo: "é-porque-é.", "não é.", "é, é e é.", "não é, não senhora." etc. Posso fechar com um "Je(x'n'e)sus"?

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